Na terça-feira (16), realizou-se uma nova reunião de balanço da situação pandémica em Portugal a pedido do primeiro-ministro António Costa. O encontro contou com a participação dos habituais especialistas, que puderam apresentar informações sobre a pandemia e dar sugestões para as futuras medidas a adotar.

Pedro Pinto Leite, especialista em saúde pública da Direção-Geral da Saúde (DGS), foi responsável por caracterizar o período recente que o país atravessou até dia 13 de fevereiro e admitiu que o dado que ainda causava preocupação era a taxa de mortalidade.

Ainda se encontra acima do limiar definido pelo Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC, na sigla inglesa), mas já “está estável”. Segundo o especialista, também este valor vai ter “tendência a decrescer” num futuro próximo, acompanhando a descida no número de casos, internamentos e internamentos nas Unidades de Cuidados Intensivos (UCI).

O ECDC definiu 20 mortes por milhão de habitantes a 14 dias e 170 hospitalizações em UCI como limiares e Raquel Duarte, pneumologista presente na reunião de terça, sugeriu que estes fossem os números que deveriam ser monitorizados para que Portugal pudesse avançar para o nível 0 (relativa normalidade, diminuição das restrições já impostas).

Mas no relatório de monitorização de linhas vermelhas realizado em conjunto entre o Instituto Nacional de Saúde Pública Dr. Ricardo Jorge (INSA) e a DGS, a mortalidade por Covid-19 estava ainda, segundo o boletim de sexta-feira (18), nos “59,7 óbitos em 14 dias” por milhão de habitantes.

A propósito, colocamos a Raquel Duarte, que é também investigadora no Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), algumas questões relacionadas com o tópico:

Porque é que a taxa de mortalidade continua tão alta?

A especialista explica que, habitualmente, o primeiro número a aumentar é o número de casos: “os doentes que têm infeção não ficam imediatamente com formas graves, portanto existe um intervalo até começarmos a ter um efeito no internamento”. Da mesma forma, a morte “acontece mais tarde ainda”, disse. Esse desfasamento temporal faz com que a taxa de mortalidade reflita um período anterior, em que havia um maior número de casos.

“Há sempre um atraso em relação aos acontecimentos”, resume a especialista, o que explica que a taxa de mortalidade não siga imediatamente a diminuição do número de casos e de internamentos.

O risco de morte é diferente para vacinados e não vacinados? Porquê?

Ainda durante a reunião, Pedro Pinto Leite afirmou que “o risco de morte é duas a seis vezes menor para os que têm vacinação completa”. Raquel Duarte explicou que a vacina “protege das formas graves [da doença]. E, ao proteger das formas graves, protege da morte”.

O que se pode esperar nas próximas semanas?

“Espera-se que, a seguir, venha a redução do número de mortos”, disse a pneumologista. Também “não há datas” para atingir o limiar do ECDC, apenas dados, e que “há uma série de condicionantes: como é que é a transmissão nos próximos dias, se há a circulação de uma nova variante ou não”. No entanto, se “tudo correr como tem corrido até agora, o que se estima é que isso aconteça”.

Artigo editado por Filipa Silva