Depois das polémicas que rodearam Michael Masi no Grande Prémio de Abu Dhabi em 2021, a FIA anunciou várias mudanças para a época que vai arrancar a 20 de março. Entre elas, que a direção de corridas vai ter dois novos responsáveis. Entre eles está, pela primeira vez, um português.

Eduardo Freitas, um dos novos diretores de corridas de F1. Foto: Federação Internacional do Automóvel (FIA)

Eduardo Freitas, de 59 anos, vai assumir o cargo de diretor de corridas da Fórmula 1 (F1), alternando as funções com o alemão Niels Wittich, anunciou a Federação Internacional do Automóvel (FIA) na manhã de quinta-feira (17).

O Mundial de Fórmula 1 arranca no dia 20 de março, no Bahrein. Eduardo Freitas estreia-se no novo cargo já na próxima quarta-feira, 23 de de fevereiro, em Barcelona, onde arrancam os testes de pré-época para o Mundial.

Há uns anos, em entrevista ao “AutoSport”, Freitas explicou o início da sua carreira no mundo do desporto motorizado. Afirmou que costumava realizar arranjos a motores de dois tempos para motorizadas, mas que um dia, em 1977, um amigo pediu para que fizesse o mesmo a um motor de dois tempos, mas de um kart.

“Dois anos depois, foi ao Mundial de Karting no Estoril para comprar um chassis ao Martin Hines da Zip Kart, que era um piloto fantástico e que até vi correr, comigo sentado na bancada. Decidi que não queria mais ver corridas desta maneira, a parte mecânica já não me dava a adrenalina que eu queria. Na segunda-feira seguinte, dia 24 de setembro de 1979, comecei como aprendiz, a desmontar a pista de karting do Estoril”, contou Eduardo Freitas ao AutoSport.

De aprendiz, subiu um “degrau” de cada vez: passou por comissário de pista, chefe de posto de comissários, chefe de zonas de comissários e ainda assistiu em verificações técnicas. Quando lhe foi dada a oportunidade de ser diretor de corrida numa prova de karting, assumiu a posição.

Em 2002 foi para a FIA. “Foi um telefonema, que me deixou surpreso e em que o Jürgen Barth me perguntou se estava disponível para fazer a época conjunta do FIA GT e do ETCC (European Touring Car Championship). Pensei que o comboio podia ir mais longe e agarrei a oportunidade. Assim, alinhei por um ano, 2002”, afirmou nessa entrevista.

Passou do FIA GT e do ETCC para o WTCC (World Touring Car Championship), quando este começou em 2004, e ficou lá até 2009.

Um ano depois, a FIA transferiu-o para o Campeonato do Mundo e em 2011 foi para o Mundial de Endurance (WEC), onde exerceu simultaneamente funções semelhantes no European Le Mans Series até hoje.

Nome de Eduardo Freitas falado em dezembro

Desde o Grande Prémio de Abu Dhabi, que encerrou a época passada num clima de polémica, que a FIA estava pressionada a fazer alterações. Esta quinta-feira, o novo presidente da estrutura, Ben Sulayem, anunciou o que classifica de “profunda reforma” com alterações ao nível da arbitragem das corridas – com a implementação de um sistema que se assemelha ao do VAR no futebol -, das comunicações entre os diretores das equipas e o diretor da corrida e ainda a promessa de rever os regulamentos do safety car.

A outra grande novidade foi a substituição de Michael Masi, há três anos diretor de corridas da F1, por uma nova equipa. Ben Sulayem anunciou que a direção de corridas vai ser assumida alternadamente entre o português Eduardo Freitas e o alemão Niels Wittich, com a assistência permanente de Herbie Blash.

O nome do português já tinha emergido em dezembro quando, na plataforma charge.org, deu entrada uma petição que exigia a destituição de Michael Masi, o agora antigo diretor de corridas da F1, e sugeria-se à FIA que Masi fosse substituído pelo português: “Freitas tem mais de 20 anos de experiência como diretor de corridas de alto nível e é considerado em todo o mundo como uma voz de consistência e autoridade. É vital que a confiança dos espectadores e dos fãs seja restaurada. A petição ultrapassou as 5 mil assinaturas.

O descontentamento dos fãs do desporto motorizado deriva das decisões inconsistentes e extremamente questionáveis dos comissários da Fórmula 1, culminando com a farsa do Grande Prémio de Abu Dhabi de 2021”. A petição notava ainda que a arbitragem das corridas de Fórmula 1 precisava de ser revista com urgência.

A polémica do Abu Dhabi de 2021

À entrada para o Grande Prémio Abu Dhabi, o último da temporada, Max Verstappen e Lewis Hamilton tinham o mesmo número de pontos. O holandês arrancou na pole position, mas Hamilton ultrapassou-o na reta inicial, comandando depois praticamente toda a corrida. A cinco voltas do fim, contudo, tudo se precipitou para o britânico, que tinha já uma vantagem de 11 segundos sobre o rival.

Um acidente com Nicholas Latifi obrigou à entrada do safety car em pista. Verstappen aproveitou a interrupção para mudar de pneus, ao passo que Hamilton se deixou ficar com receio de perder a liderança quando a corrida recomeçasse.

Michael Masi, o diretor da corrida, tomou então duas decisões contraditórias. Primeiro, determinou que todos os carros deveriam manter as suas posições – incluindo aqueles dobrados que se encontravam entre Verstappen e Hamilton, o que dificultaria a vida ao neerlandês, na tentativa de chegar à liderança da corrida assim que o safety car abandonasse a pista. Mas depois decidiu que esses carros deveriam passar para a frente do safety car, deixando ao holandês, com pneus renovados, caminho aberto para chegar a Hamilton.

Masi disse depois que mudou de opinião nessa volta final por sentir que a pista já estava “segura o suficiente” para serem feitas ultrapassagens. Resultado: Max Verstappen conseguiu ultrapassar Lewis Hamilton na derradeira volta, um feito que lhe deu o primeiro título mundial de F1, e retirou a Hamilton a oportunidade de somar o oitavo campeonato.

A Mercedes, equipa de Lewis Hamilton, contestou a decisão, mas sem sucesso no que à atribuição do título diz respeito. Contudo, a FIA prometeu conduzir um inquérito ao sucedido e esta semana apresentou o conjunto de mudanças que levarão, pela primeira vez, um português à direção de corridas da F1.

Artigo editado por Filipa Silva