Moradores da Rua de Santa Catarina, onde se situa o Café Rio, receberam a notícia do encerramento do estabelecimento sem surpresa e com alívio depois de episódios de violência constantes. O JPN falou com alguns comerciantes e residentes que acreditam que agora podem voltar a ter “paz”.

O ruído, os desacatos e os constantes episódios de violência já tinham levado moradores e comerciantes das imediações do Café Rio, no Porto, a apresentar várias queixas à Polícia Municipal (PM) e à Polícia de Segurança Pública (PSP). No sábado (19), o estabelecimento foi mesmo encerrado e selado “coercivamente” pela PM. O espaço tinha licença de utilização para a atividade de restauração ou bebidas até às 04h00 da madrugada, mas funcionava como discoteca e bar após essa hora, de forma ilegal.

Um dos desentendimentos que mobilizou as autoridades ao local deu-se no dia 12 deste mês, quando dezenas de jovens envolveram-se em confrontos, junto ao Centro Comercial Rio, localizados na Rua de Santa Catarina. Nesse sábado, a rua foi cortada ao trânsito e a normalidade só regressou por volta das 11h30.

Os lojistas das imediações da galeria comercial queixam-se que não conseguiam abrir os estabelecimentos “à hora suposta” devido à onda de violência que existe na rua: “Tenho que abrir a loja às 09h00 e, às vezes, são 11h30 e ainda não conseguimos abrir, porque os indivíduos saem do centro comercial a destruir tudo. Querem entrar pelas lojas à força e nós somos obrigados a fechar”, relata Rute Cardoso ao JPN.

Vítor Morais, proprietário do café do lado, queixa-se do mesmo: “Quando eles passavam aqui, tínhamos de fechar a porta, porque queriam entrar por aqui”.

Os confrontos violentos causados pelos clientes do café que “entravam durante a noite e saíam de madrugada” obrigavam à presença assídua das autoridades: “Todas as semanas alguém ia para o hospital. Todos os fins de semana a polícia e a ambulância estavam aqui”, descreve Vítor Morais.

Rute Cardoso, uma das comerciantes, conta que chegou a “chamar várias vezes a polícia” e a “mandar vários emails para a Câmara Municipal” , no entanto, “não resultaram em nada”.

A violência e o barulho que naquela zona sentem ter-se intensificado “há uns sete ou oito meses” afetam sobretudo os moradores de Santa Catarina. Vítor Barros, um dos residentes, conta ao JPN o ambiente que se vivia na rua até há pouco tempo: “A partir de quinta-feira até domingo, não se conseguia descansar. Ao fim de semana era um pandemónio”.

Vítor Barros explica que a rua sempre foi “tranquila e sem problemas”, mas desde que o Café Rio abriu as portas “acabou a paz”.

As “festas ilegais e o barulho” que se estenderam a “rixas e tiroteios” entre os clientes do café, deixam os vizinhos com medo e “afastam cada vez mais os clientes”. “Se o café voltar a abrir, não me sinto seguro”, garante o morador.

Por detrás deste aparente portão de garagem funcionava o Café Rio. Joana Costa

Em comunicado, a Câmara do Porto alega que, “para se furtar a novas fiscalizações ou intervenções”, o proprietário do espaço “fechava à chave os portões de acesso ao interior da galeria comercial, e indiferente a qualquer intervenção policial, continuava a manter as festas ativas até às primeiras horas da manhã, ficando as centenas de pessoas, que por vezes ali se concentram, impedidas de sair livremente para o exterior do edifício em caso de necessidade, potenciando desta forma a ocorrência de graves incidentes”.

O proprietário do café, que não estava no local na noite da operação de encerramento, já tinha sido por várias vezes autuado e chegou a ser detido por desobediência. Ao JPN, o Comandante da Polícia Municipal, António Leitão da Silva, assevera que “nem a detenção por desobediência foi suficiente para que o bar cessasse a atividade”, pelo que, a PM teve de “cessar de outra forma”.

Comunicado da Câmara Municipal do Porto sobre o encerramento do Café Rio. Joana Costa

Na operação de encerramento, realizada pela PM com o apoio da PSP, foi detido um homem por posse de arma de fogo e foram apreendidas várias armas brancas e uma botija de óxido nitroso. No espaço, estavam cerca de 85 pessoas, um número mais elevado do que o devido.

O portão que dá acesso ao Centro Comercial Rio está agora fechado com cadeados e foi colocado um comunicado no local a indicar que o espaço foi encerrado por ordem da Câmara do Porto.

Quanto ao futuro do Café Rio, o Comandante da Polícia Municipal, António Leitão da Silva, garante que “dentro dos mesmos moldes e a ter em consideração todos os relatos de grande violência que se verificara”, não é “recomendável” que o espaço funcione mais como bar ou discoteca.

Artigo editado por Filipa Silva