No dia em que o parlamento russo aprovou o envio de tropas para o exterior, às condenações da NATO juntam-se as sanções internacionais aplicadas à Rússia.
O parlamento russo autorizou, esta terça-feira (22), o presidente Vladimir Putin a enviar forças armadas russas para o exterior, a fim de defender as regiões separatistas no leste da Ucrânia. A solicitação do presidente foi aceite por unanimidade pela câmara russa.
Já esta tarde, em conferência de imprensa, o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, reconheceu que o cenário russo-ucraniano é “o momento mais perigoso na segurança europeia numa geração”. “Tudo indica que a Rússia continua a planear um ataque em grande escala à Ucrânia”, acrescentou Stoltenberg.
Na segunda-feira (21), o presidente Putin reconheceu as duas regiões separatistas da Ucrânia – Donetsk e Luhansk – como independentes. As províncias, apesar de situadas em território ucraniano, têm maioria étnica russa e foram ocupadas por tropas pró-russas em 2014.
“Aqueles que embarcaram no caminho da violência, derramamento de sangue, ilegalidade não reconheceram e não reconhecem uma outra solução para a questão do Donbass [região na qual se inserem as províncias agora reconhecidas como independentes por Putin], exceto a militar”, afirmou Putin num vídeo oficial. “A este respeito, considero necessário tomar uma decisão há muito esperada de reconhecer imediatamente a independência e a soberania da República Popular de Donetsk e da República Popular de Luhansk. E daqueles que tomaram e detêm o poder em Kiev, exigimos a cessação imediata das hostilidades”, concluiu.
A decisão da Rússia não só abre espaço para o envio de tropas para território ucraniano, como também põe fim aos acordos de Minsk – que conferiam à Ucrânia o controle das regiões. Em resposta, o presidente ucraniano Volodymyr Zelenskiy menciona o possível “corte de relações diplomáticas” com a Rússia e pede aos aliados sanções imediatas.
Em comunicado, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, diz que a deliberação russa “viola a integridade territorial e a soberania da Ucrânia”, e pede a “resolução pacífica do conflito no leste da Ucrânia, e que se baseie nos Acordo de Minsk, como endossados na resolução 2202 do Conselho de Segurança, em 2015”.
Na manhã de terça (22), além da queda acentuada das bolsas, diversos países europeus divulgaram sanções em resposta à deliberação russa. O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, sancionou cinco bancos russos que operam no Reino Unido e três indivíduos “com grande volume de riqueza”.
“Queremos impedir que as empresas russas consigam levantar fundos em libras esterlinas ou mesmo em dólares. Queremos que parem de levantar fundos nos mercados do Reino Unido e queremos tirar o véu que esconde a posse das propriedades deste país”, afirmou Boris Johnson durante uma conferência de imprensa.
Os presidentes da Comissão Europeia e do Conselho Europeu também anunciaram, esta terça-feira, o primeiro pacote de sanções a serem aplicadas ao antigo país soviético, as quais visam atingir, principalmente, os níveis económicos e militares da Rússia, tanto de indivíduos quanto de instituições. Assim, serão abrangidos pelas sanções: aqueles que estiveram envolvidos na decisão ilegal (incluindo os 351 membros da Duma); os bancos que estão a financiar operações militares russas e outras operações nesses territórios, para impedir o Estado e o governo russos de aceder aos mercados e serviços financeiros e de capitais da UE; e as regiões separatistas, limitando as trocas comerciais destas províncias de e para a União Europeia “para garantir que os responsáveis sintam claramente as consequências económicas das suas ações ilegais e agressivas”, lê-se no comunicado emitido depois da reunião informal que juntou os ministros dos Negócios Estrangeiros dos 27.
Já Olaf Scholz, chanceler alemão, congelou o Nord Stream 2 – gasoduto que ligaria a Rússia à Alemanha. O projeto custou quase 10 milhões de euros e seria responsável por duplicar a exportação de gás entre os territórios russo e alemão.
Confrontos separatistas na Ucrânia
Bombardeamentos no leste ucraniano foram noticiados no último fim de semana. As acusações de violação do cessar-fogo entre forças rebeldes e governo ucraniano têm aumentado nos últimos dias. Os ataques atingiram uma creche e deixaram quatro mortos, sendo dois soldados ucranianos.
Os conflitos separatistas na região estendem-se desde 2014.
O prolongamento da “Resolução Aliada”
Depois de semanas de tensão e incertezas, um conflito no leste europeu nunca pareceu ser tão iminente. No último domingo, o ministro de Defesa da Bielorrússia revelou que estenderá, juntamente com a Rússia, os exercícios militares no país, os quais estavam previstos para terminar essa semana.
“Tendo em vista o aumento da atividade militar perto das fronteiras e o agravamento da situação em Donbass, os presidentes da Bielorrússia e da Rússia decidiram continuar a inspeção das forças”, declarou o ministro bielorrusso em comunicado oficial – de acordo com a agência Reuters.
As práticas armadas batizadas de “Resolução Aliada” estão a ser realizadas em locais próximos às fronteiras da Polónia e da Ucrânia com a Bielorrússia, e têm como objetivo principal avaliar a prontidão das tropas para garantir a segurança militar, além de arquitetar ações de neutralização e estabilização da situação fronteiriça.
A decisão frustrou tanto os Estados Unidos quanto a NATO, que estima que 30.000 homens russos estão estacionados na Bielorrússia. Em entrevista à CNN, Antony Blinken, secretário de Estados dos EUA, afirmou que os russos estão a justificar o prolongamento “daqueles ‘exercícios’ por conta da situação no leste da Ucrânia – uma situação que eles [os russos] criaram ao continuar a aumentar as tensões”.
Artigo editado por Filipa Silva