Até 28 de agosto, o artista e compositor eletroacústico Tarek Atoui vai estar no museu e parque de Serralves com a exposição “Water’s Witness/O Testemunho das Aguas”.

A primeira grande exposição que o Museu de Serralves vai apresentar durante o ano de 2022 pertence a Tarek Atoui, um artista e compositor libanês que trabalha através do som em composições de grande escala. As suas obras de arte resultam de uma investigação antropológica, etnológica, musicológica e técnica. “O Testemunho das Águas” faz parte do projeto I/E, em curso desde 2015. 

Os trabalhos de Tarek Atoui cruzam instalação, performance e ensinamentos em processos que se afastam da noção convencional de performance, tanto do ponto de vista do artista como do público, e que sugerem formas visuais, auditivas, táteis e somáticas de experienciar o som. No centro do seu trabalho, há uma reflexão contínua entre o individual, o geral, a natureza aberta e dinâmica da performance ao vivo. 

Desde 2014, o artista libanês visitou várias cidades portuárias, como o Porto, Abu Dhabi e Atenas, com o objetivo de encontrar e estudar sons desses portos, gravando registos sonoros das atividades industriais, humanas e ecológicas destes ambientes. Sons que refletem o passado, o presente e o futuro das cidades que visitou e que dão suporte à exposição “Water’s Witness/O Testemunho das Águas”.

Captou na cidade do Porto, sons do porto de Leixões e do estuário do Douro, duas singularidades que captaram a atenção de Atoui: “o nevoeiro” que se faz sentir nas manhãs frias de inverno, que transmite uma “dimensão sónica suave” e o “som forte do encontro das águas do rio Douro com o oceano”.

Na exposição, as gravações de áudio são reproduzidas através de materiais escolhidos em cada uma das cidades portuárias visitadas pelo artista: blocos de mármore de Atenas, vigas de aço de Abu Dhabi e estruturas de madeira que contêm composto, vermes e material orgânico, especificamente escolhidos para a apresentação em Serralves. 

A exposição está instalada no museu, bem como em dois locais distintos do parque, começando pela magnólia do lado esquerdo da entrada do museu, e estendendo-se até ao outro lado do parque, junto a um espelho de água lateral à quinta.

Philippe Vergne, diretor artístico de Serralves, revelou, numa visita guiada à imprensa, que o espaço cultural desenvolveu uma “relação de vários anos” com o artista e que vem já “desenvolvendo várias camadas”. 

O som da exposição é captado através de microfones especiais que estão instalados dentro de um composto (uma mistura de folhas, minhocas e outros resíduos orgânicos das árvores) de madeira. É o som captado por esses microfones que chega depois ao espectador. Tarek Atoui confessou: “ouvimos o barulho da natureza, mas mal sabemos de onde vêm os sons. Aqui o fundamental é a torre de composto, esta ainda é muito nova por isso o som é tímido, mas vai envelhecer e libertar sons mais nítidos”. 

A exposição será acompanhada por vários artistas ao longo dos seis meses de duração, o objetivo é interagir com os trabalhos instalados, e envolverem-se com uma diversidade de sons que farão parte da exposição em diferentes fases do projeto, desde o despertar do inverno até ao encerramento do verão. 

Artigo editado por Filipa Silva