Viver com o auxílio de um ventilador não só retira qualidade de vida como condiciona a mobilidade das pessoas que dele dependem. Foi a pensar nisso que um grupo de investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) desenvolveu um protocolo de suporte ventilatório não invasivo que permitiu adaptar um ventilador a um sistema portátil que seja fácil de transportar.

O objetivo é que os doentes que sofrem de uma incapacidade respiratória grave possam recuperar a autonomia e a mobilidade, tendo uma vida normal, sem necessidade de estarem “presos” a uma cama ou a uma cadeira de rodas por não se conseguirem movimentar sem o ventilador.

As pessoas que sofrem de insuficiência ventilatória grave, uma condição em que se verifica uma fraqueza ou paralisia dos músculos respiratórios, o que não lhes permite fazer uma adequada ventilação dos pulmões, dependem de uma máquina para respirar mais do que 16 horas por dia.

No decorrer da investigação, os profissionais submeteram 18 pacientes a um estudo clínico, no qual estes tiveram de realizar um teste de caminhada de seis minutos, com e sem o auxílio do ventilador portátil. Miguel Gonçalves, coordenador da pesquisa e docente da FMUP, explica que o procedimento consistiu em adaptar o ventilador portátil, com bateria interna, a uma mochila ou carrinho. A ideia é que o ventilador possa ser transportado facilmente pelas pessoas que dependem grande parte do dia de um ventilador mecânico para sobreviverem.

Os resultados são claros. Sem o suporte não invasivo, “nenhum dos pacientes conseguiu completar a prova” e, ao fim de dois passos, “tinham de se sentar”, garante o docente da FMUP ao JPN, acrescentando que, com o ventilador portátil, todos eles terminaram o percurso.

Para Miguel Gonçalves, as conclusões desta investigação não só demonstram a eficácia do sistema na marcha dos pacientes, como comprovam que os doentes com graves limitações ventilatórias não precisam de ficar presos a uma cadeira de rodas para transportar o seu ventilador.

Ao JPN, o coordenador da investigação salienta que os ventiladores já existiam, mas a adaptação feita pelos investigadores permite uma maior independência e autonomia dos pacientes que dependem do ventilador. O docente da FMUP afirma também que as baterias têm uma autonomia que vai de seis a oito horas.

Tiago Pinto, fisioterapeuta e também autor do projeto, relembrou por sua vez, em declarações à “Lusa”, que os doentes testados “tinham uma vida sedentária, raramente saíam de casa e alguns deles até andavam em cadeira de rodas”. Com o ventilador portátil, que permite aos utentes andarem com ele para todo o lado, as pessoas foram ganhando mais autonomia e mais qualidade de vida, como demonstram os autores do projeto.

Miguel Gonçalves considera que os investigadores apenas deram as asas aos pacientes, mas “eles é que voaram”. Prova disso são as fotografias que vão chegando aos investigadores dos utentes a usarem os ventiladores portáteis na praia ou no cinema, como contou o docente da Faculdade de Medicina ao JPN.

Artigo editado por Filipa Silva