A reunião do Executivo da Câmara Municipal do Porto de 7 de março ficou marcada ainda pela aprovação de três moções de condenação à invasão da Ucrânia por parte da Rússia. A moção apresentada pela CDU foi chumbada.

Proposta camarária foi aprovada por unanimidade. Foto: Gabriella Garrido

Na reunião pública do Executivo da Câmara Municipal do Porto (CMP) desta segunda-feira (7) foi aprovado por unanimidade o conjunto de medidas “Somos Todos Ucrânia”. A iniciativa solidária partiu dos municípios da Frente Atlântica (Porto, Vila Nova de Gaia e Matosinhos) e pretende organizar as manifestações de apoio ao povo ucraniano.

A ideia é concertar esforços e articular respostas, ajustando-as às necessidades identificadas pelas organizações que estão no terreno. A operação está montada em torno de quatro eixos: recolha de bens, acolhimento de famílias, bolsa de emprego e bolsa de serviços a refugiados. Numa plataforma eletrónica criada para o efeito, é possível descobrir, por exemplo, informação sobre locais de recolha de bens, bem como uma lista de itens necessários, definida em conjunto com o Consulado da Ucrânia no Porto – amanhã, terça-feira, sai o primeiro camião do Porto com destino à fronteira da Polónia com a Ucrânia.

No mesmo site, é possível manifestar interesse no acolhimento de cidadãos ou famílias ucranianas, bem como identificar ofertas de emprego, que serão articuladas com o Instituto do Emprego e da Formação Profissional (IEFP) – várias associações profissionais, dos jovens empresários (ANJE) à indústria do calçado (APICCAPS) manifestaram apoio. Na vertente dos serviços, os três municípios procuram voluntários de várias áreas profissionais (de médicos a advogados, passando por tradutores e cabeleireiros). Está ainda disponível uma linha telefónica dedicada (222 090 420) para o esclarecimento de questões sobre a campanha.

Vladimiro Feliz, vereador sem pelouro do Partido Social Democrata (PSD), saudou o trabalho desenvolvido, assim como a ação articulada entre os conselhos limítrofes e as autoridades ucranianas. Do lado oposto da mesa de reuniões, Tiago Barbosa Ribeiro, vereador do Partido Socialista (PS), também elogiou o esforço inerente à proposta. Maria Manuel Rola – em substituição do vereador Sérgio Aires, do Bloco de Esquerda (BE) – sublinhou ainda que o momento atual pode vir a ser importante para o desenvolvimento de um “plano de integração de migrantes”.

Rui Moreira congratulou o trabalho desenvolvido pela sua equipa. O independente referiu a importância da associação “muito ativa” de ucranianos em Portugal e salientou o facto de a Frente Atlântica funcionar sem um orçamento ou estrutura definida, “por articulação entre os três presidentes”.

Na mesma reunião, foram também a votos quatro moções de condenação do ataque militar russo à Ucrânia e da escalada de guerra, tendo sido aprovados os textos apresentados pelo movimento Rui Moreira: Aqui há Porto (com votos contra da CDU e Bloco), do PS e do BE. Antes de ser chumbado – com votos a favor apenas do BE e CDU – , o texto apresentado por Ilda Figueiredo motivou uma discussão acesa acerca da posição dos comunistas em relação ao conflito.

Vladimiro Feliz referiu que, na situação atual, é importante reforçar a união e não “vincar as diferenças” e sugeriu que se chegasse a consenso numa proposta única que todos apoiassem. O presidente da CMP discordou do social-democrata e, apesar de revelar ter intenção de votar favoravelmente as moções do PS e do Bloco, sublinhou que não poderia aprovar o texto da CDU por apresentar uma neutralidade com a qual não poderia concordar e por tentar “reescrever” a História.

Tiago Barbosa Ribeiro concordou com Rui Moreira e destacou a dificuldade em se conseguir uma recensão “homogénea” das três moções. Maria Manuel Rola aproveitou para apontar o dedo à moção apresentada pelo presidente da Câmara, acusando-a de “branquear” a atuação da NATO noutros conflitos. O presidente da CMP respondeu afirmando que a mesma moção não refere sequer outros conflitos e sublinhou a intenção de votar favoravelmente a moção do Bloco, mesmo que a vereadora do Bloco votasse no sentido contrário. Quando Maria Manuel Rola referiu ver “intransigências”, Rui Moreira assumiu-as e afirmou: “Há linhas vermelhas. Somos intransigentemente a favor dos acordos internacionais”.

A vereadora da CDU ainda propôs uma alteração à moção do partido, no sentido de incluir a palavra “invasão”, mas tal alteração não levou a que se mudassem sentidos de voto. Rosário Gambôa (PS) afirmou perceber o “embaraço” de Ilda Figueiredo e da CDU, mas afirmou que “alterar meia dúzia de circunstâncias” não seria suficiente. “Estamos em trincheiras diferentes”, afirmou o presidente da CMP.

Na reunião pública de Executivo foram ainda aprovados por unanimidade os contratos interadministrativos para o transporte de alunos que frequentam ofertas específicas de AECS – Atividades Extracurriculares –, e a renovação da iniciativa Andante 13 18 – que dá transportes públicos gratuitos aos jovens entre os 13 e os 18 anos – para os anos letivos 2022/2023, entre outros.

Artigo editado por Filipa Silva