A invasão russa à Ucrânia dura há 12 dias. As cidades têm sido bombardeadas, os cidadãos que não querem abandonar o país refugiam-se nos abrigos e os recursos começam a escassear. A preocupação cresce nas pessoas que estando longe não conseguem ajudar os familiares que se encontram no seio do conflito.

Os tios e avós de Ruslan Nayavko vivem perto de Lviv, junto à fronteira com a Polónia. No primeiro dia da ofensiva russa, ouviram-se inúmeras explosões, sendo que uma delas aconteceu “a cerca de 70 km dos meus tios”, conta o estudante de engenharia civil em entrevista ao JPN.

À procura de segurança, os familiares de Ruslan abandonaram as grandes cidades e encaminharam-se para regiões mais calmas. O jovem revelou que os tios, no segundo dia do conflito, saíram “logo para uma casa que eles têm de férias nas montanhas” e que a  avó “foi para a casa onde ela nasceu”.

No entanto, regressaram, no final do terceiro dia, para as suas casas para auxiliar da forma que conseguissem. Os tios de Ruslan têm ajudado na distribuição de roupa, medicamentos e outras necessidades, enquanto que uma das avós tem recebido pessoas, que precisam de ajuda, numa instituição.

Embora os homens entre os 18 e os 60 possam ser chamados para combater, de acordo com a Lei Marcial em vigor, o tio do estudante não poderá ser chamado “porque tem um problema no joelho”.  Os familiares do jovem de 21 anos não pretendem sair da Ucrânia para já.

Ihor Rizhko também tem familiares na região norte, perto da fronteira com a Polónia. Com o avanço das forças russas e os sucessivos ataques, o pai, uma tia e os avós, que permaneceram na cidade, “estão assustados, não sabem o que vai ser o dia de amanhã”. Em declarações ao JPN, disse ainda que houve bombardeamentos em Volodymyr, cidade onde se encontram, há cinco dias atrás.

No entanto, a tia e a mãe “já saíram para a Polónia”. A mãe portuguesa “passou bem” a fronteira e está a viver em casa de familiares, mas “está a pensar vir para [Portugal]”. A tia, que já tinha trabalhado na Polónia, “alugou lá uma casa” para ficar com a família.

Ihor Rizhko, de 29 anos, afirma que “os polacos são muito boas pessoas, dão sempre abrigo, ajuda. Toda a gente é muito boa”.

Polónia, Hungria e Roménia são alguns dos destinos escolhidos pelas pessoas que querem abandonar a Ucrânia. O Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados, Filippo Grandi, partilhou, na rede social Twitter, que mais de um milhão e 500 mil pessoas fugiram, nos últimos dez dias, do território ucraniano em direção aos países vizinhos.

O confronto entre a Ucrânia e a Rússia não é recente

Embora a tensão entre os dois países tenha aumentado na altura em que tinha seis anos, Ruslan Nayavko não imaginava que um conflito pudesse verdadeiramente existir. “Na verdade, eu dizia a todos que não ia acontecer nada”, conta.

Ihor Rizhko partilha a mesma opinião, afirmando que “nunca ninguém pensou nisso”. Em Portugal há cinco anos, o cidadão ucraniano recorda que  “sempre houve gente que queria estar com a Rússia, mas a maior parte queria ir para a União Europeia. O problema é que os russos nunca vão deixar fazer isso”.

Depois da dissolução da União Soviética, Kiev tornou-se independente e mostrou disponibilidade para se aproximar do Ocidente, mas a vontade ucraniana nunca foi aceite pela Rússia. Ao longo dos anos, vários conflitos têm contribuído para o aumentar da tensão entre os dois países: anexação da Crimeia pela Rússia, em 2014, e os confrontos entre ucranianos e separatistas na região de Donbass são alguns dos momentos de confronto.

A esperança e a preocupação de quem está longe

Ihor Rizhko mostra-se preocupado tendo em conta que é difícil ajudar a família à distância. “O problema é que nós nem podemos enviar dinheiro para a família”, revela ao JPN.

Embora tenha participado em angariações de produtos alimentares e outros bens que serão, posteriormente, enviados para a Ucrânia, Ihor afirma não conseguir auxiliar os parentes – “mas assim para a minha família não consigo enviar nada”. Tendo em conta a situação, acredita que o conflito “ainda vai durar algum tempo”.

Já Ruslan mantêm-se positivo: “eu tenho esperança que [o confronto] acabe já, que não demore muito tempo”. O estudante de engenharia civil acredita ainda que “a Rússia vai sair a perder com isso”.

Os ucranianos têm resistido às investidas das forças russas que pretendem assumir o controlo de algumas cidades do país. “A Ucrânia está a resistir completamente bem”, expressa o jovem de 21 anos, que acredita que o conflito “uniu aquele país”.

Apesar de não ser possível determinar o fim dos ataques, Ruslan acha que, depois dos confrontos, os ucranianos vão perceber que foram “um país que deu sempre tudo e que não precisam de outro país a ajudar”.

Artigo editado por Tiago Serra Cunha