Investigadores do Instituto de Ciência e Inovação em Engenharia Mecânica e Engenharia Industrial – INEGI desenvolveram um sistema que permite transformar água salgada em água potável, através da utilização de energia renovável. Ainda que existam alguns fatores a ter em conta, a dessalinização da água do mar (ou de água salobra) pode ser a solução principal para combater o problema da seca em Portugal, uma realidade cada vez mais presente.

Esta tecnologia utiliza energia solar e a tecnologia de compressão térmica de vapor para a realização da dessalinização. “O processo de funcionamento é um pouco como o ciclo da água, na natureza”, explica ao JPN o investigador Szabolcs Varga. A energia produzida pelo coletor solar permite que ocorra a evaporação da água salgada. O vapor, que é composto apenas por água “doce”, é depois recolhido na sua forma líquida e utilizado, já sem a presença de sal.

A equipa de investigação estudou uma forma de realizar este processo de forma eficiente, do ponto de vista energético. Para isso, utilizam “um processo de vácuo, para evaporar a água a temperaturas mais baixas”, acrescentando que ” a 40-45 graus, [a evaporação] é mais eficiente”.

À semelhança do que acontece na natureza, “produzir de forma controlada água potável a partir de água salgada também requer energia”, acrescentou o professor universitário da FEUP. De uma forma geral, são utilizados combustíveis fósseis para esse processo e algumas das preocupações ambientais relacionadas com a dessalinização prendem-se precisamente com a emissão de CO2 e outros gases nocivos para a atmosfera. O novo sistema elimina este fator, uma vez que capta energia através de um coletor solar.

A energia para este sistema é captada através de painéis solares. Foto: INEGI

No entanto, um dos produtos resultantes desta transformação é a “salmoura”, água com elevada concentração de sais que pode ser tóxica. “Na quantidade de produção do nosso sistema, o impacto na natureza não é muito elevado. Localmente, pode ter [impacto]; mas a nível global não”, admitiu Szabolcs Varga.

Normalmente, a “salmoura” é devolvida ao mar. O investigador considera que, atualmente, “não há outra hipótese”. No entanto, admite que, no futuro, esta água poderá ser utilizada para a produção de sal, por exemplo.

A dessalinização da água é já uma realidade em cerca de 150 países, incluindo Portugal. Atualmente, a única central dessalinizadora encontra-se na ilha de Porto Santo, na Madeira, mas o governo português tem projetos para a criação de outra no Algarve. Ao contrário destes sistemas em grande escala, o equipamento do INEGI foi pensado para aplicações de pequena escala, a nível local e comunitário.

“O equipamento responde a necessidades baixas, como um hotel ou uma pequena aldeia, e não requer muita manutenção”, afirmou o professor da FEUP. O objetivo da sua equipa foi construir um sistema robusto que não necessitasse de “muitas horas de trabalho” de mão de obra muito qualificada, que é escassa a nível comunitário.

Segundo Szabolcs Varga, o custo de instalação deste equipamento é, inicialmente, superior a um equipamento tradicional (que utiliza combustíveis fósseis). No entanto, a longo prazo, o valor de manutenção desce consideravelmente, o que se pode refletir num baixo custo do metro cúbico de água.

Estão já a ser produzidos os primeiros protótipos do equipamento, bem como os sistemas de monitorização e controlo. O projeto está a ser cofinanciado pela União Europeia, através do programa COMPETE 2020 e pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT).

Artigo editado por Tiago Serra Cunha