Ministros dos Negócios Estrangeiros dos dois países encontram-se pela primeira vez desde o início da ofensiva, agora na Turquia. Numa altura em que a diplomacia "é fundamental", Sandra Fernandes, especialista em relações UE-Rússia, considera que reunião dos MNE é "um primeiro passo importante".

A reunião desta quinta-feira é aguardada com muita expectativa. Foto: Belta

Uma nova ronda de negociações entre a Rússia e a Ucrânia para a tentativa de resolução do conflito vai decorrer esta quinta-feira (10) em Antália, na Turquia. Pela primeira vez, os ministros dos Negócios Estrangeiros de ambas as nações vão estar presentes – Sergei Lavrov, do lado russo, e Dmytro Kuleba, da delegação ucraniana. 

O secretário de imprensa de Vladimir Putin, Dmitry Peskov, já anunciou as condições que o Kremlin vai colocar em cima da mesa: uma mudança da Constituição da Ucrânia que garanta a desistência da entrada do país na NATO; a admissão da Crimeia como parte da Rússia; e o reconhecimento da independência das regiões separatistas no leste ucraniano.

Ao JPN, a professora da Universidade do Minho especializada em Ciência Política, Sandra Fernandes, disse acreditar que “a guerra só pode ser finalizada mediante conversas, negociações”, e que por conta disso a diplomacia “é fundamental neste momento”

Se os três primeiros encontros aconteceram na Bielorrússia, a quarta tentativa vai ter lugar na Turquia, Estado membro da NATO que a professora considera que está “numa posição de equilíbrio entre Ucrânia e Rússia”. Para a docente, este é também um sinal “de alguma esperança”, porque a nação turca “afigura-se como um mediador que consegue, e tem interesse, em falar com os dois lados”.

Já sobre as mudanças nas delegações, Sandra Fernandes considera importante que “o diálogo seja conduzido a um nível mais alto”. Até ao momento, as conversações têm sido conduzidas pelos ministros da Defesa, conselheiros e embaixadores dos dois países. 

“Dado a situação que existe neste momento, penso que já é um primeiro passo importante. Depois, sendo necessário, poderá eventualmente ser pensado um encontro diretamente entre presidentes, mas neste momento não acho que haja condições para isso, dada a violência da guerra no terreno”, afirma. 

Para a investigadora, a expectativa é que, através das reuniões, “haja a possibilidade de abrandar a ofensiva do ponto de vista dos custos humanos e das consequências sobre os civis”. 

Uma das questões centrais neste conflito tem sido a possível adesão ucraniana à Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO, no acrónimo inglês), que para Putin representa um risco para as fronteiras russas. Na opinião de Sandra Fernandes, a inexistência de perspetivas de adesão à NATO “pode parar a ofensiva, mas não vai parar o objetivo da Rússia de tornar a Ucrânia um satélite, um país vassalo”.

Questionada sobre se o presidente russo constitui uma ameaça concreta a todos os países que considerou hostis, a professora julga que neste momento, tendo em conta que Putin concretizou “o pior dos cenários possíveis”, todos os desfechos estão em aberto.

Artigo editado por Tiago Serra Cunha