De mais de 900 mil eleitores, apenas 152 votaram presencialmente. Ainda assim, o Ministério da Administração Interna sublinha o aumento face aos 116 contabilizados nas eleições de janeiro. José Governo, da Associação Internacional dos Lusodescendentes, disse ao JPN que este aumento não é "significativo", perspetivando que "por via postal a realidade será diferente".
Se nas eleições de janeiro foram registados 116 votos, este fim de semana, foram 152 os emigrantes portugueses a exercerem o direito de voto em 34 embaixadas e postos consulares, no âmbito da repetição da eleição para a Assembleia da República no Círculo Eleitoral da Europa. O número corresponde a um aumento de 31%, refere o Ministério da Administração Interna, numa nota enviada às redações.
Um valor que, quando comparado com o número total de eleitores – mais de 900 mil -, não deixa de ser pequeno. Se se considerar os mais de 150 mil votos anulados nas últimas eleições, tudo indica que grande parte dos votos do Círculo da Europa sejam feitos por correspondência.
Nesse sentido, para José Governo, vice-presidente da Associação Internacional dos Lusodescendentes (AILD), uma das vozes que tinha antecipado o aumento da abstenção, considera que os números anunciados pelo Governo são “superiores, mas muito residuais” e que não vão ter um peso “significativo” nos resultados.
José Governo acredita que existe uma “preocupação do Governo” em “manifestar e transmitir que houve este aumento de votos presenciais, no fundo porque, à partida, sabem que nos votos por via postal a realidade será diferente”. “E portanto é aqui a tentativa de mascarar e ter um momento a favor”, acrescenta.
O vice-presidente da AILD reiterou a convicção de que na votação por via postal se vai verificar uma maior abstenção, tendo em conta que os portugueses que residem fora de solo português, e pela Europa, se sentem “usados e magoados, considerando que o voto deles é um voto que vale menos do que os votos dos portugueses a residir em Portugal”. “Os nossos emigrantes sempre se sentiram como portugueses de segunda e isto não vem ajudar nada, pelo contrário, é mais um motivo de revolta”, afirma.
Os votos por correspondência têm de chegar a Portugal até dia 23. Para além dos relatos de boletins que não vão chegar a casa dos emigrantes em tempo útil, e dos cidadãos que não vão votar em forma de protesto, “ainda há a questão do prazo que foi imposto para a saída dos boletins do correio, nos diferentes países, por forma a que tenham de chegar até ao dia 23 a Portugal”, lembra José Governo.
O vice-presidente da AILD vai esperar pelos resultados – cujo apuramento vai acontecer em Portugal, a 22 e 23 deste mês – e volta a lamentar toda a conjuntura que levou à repetição das eleições: “Estamos com isto a beliscar a democracia. Irmos para eleições para um resultado que já existe não é normal. Esta foi uma trapalhada que aconteceu, não podia ter acontecido e sobretudo não pode voltar a acontecer. Mas eu acredito que esta situação não ficará por aqui e vamos aguardar pelo resultado”.
Artigo editado por Filipa Silva