O estudo “Como identificar um jogador de topo através do percurso nas seleções jovens nacionais” concentrou-se no percurso de centenas de jogadores nas seleções nacionais jovens e encontrou uma ligação entre o número de internacionalizações e carreiras bem-sucedidas.

Abrangendo todos os escalões que apresentam equipas nacionais (sub-15 até aos sub-21), o estudo estabeleceu três etapas que definem carreiras de sucesso: a etapa mais elevada implica chegar à seleção nacional sénior AA ou jogar na Liga dos Campeões ou na Liga Europa, a segunda requer jogar num dos cinco campeonatos nacionais de maior relevo (Alemanha, Inglaterra, França, Espanha ou Itália) e a terceira exige jogar na primeira divisão portuguesa. Foi ainda tida em consideração a influência da pandemia na temporada passada de 2020/21, na qual não se realizaram jogos oficiais das seleções de sub-15, sub-17, sub-19 e sub-20.

“A origem dos jogadores”

O estudo determinou que, nos últimos dez anos, os escalões de sub-19, sub-20 e sub-21 foram os que convocaram mais jogadores para a seleção. Também concluiu que 27,7% dos jogadores que, nos últimos dez anos, chegaram às seleções nacionais masculinas efetuaram a sua primeira inscrição na Associação de Futebol de Lisboa. Seguem-se os jogadores que começaram a jogar em clubes da AF Porto (19% do total) e da AF Braga (15,4%). Aveiro (7,7%), Setúbal (7%) e Faro (4%) são os distritos que se seguem. Ainda nos últimos dez anos, as associações de Angra do Heroísmo, Beja, Castelo Branco, Guarda, Horta, Ponta Delgada e Portalegre levaram, cada uma, menos de cinco jogadores às seleções jovens nacionais.

Segundo o mesmo estudo, 92,8% dos jogadores que passaram pelos sub-15, nos últimos dez anos, pertenciam aos quadros de clubes da AF Porto, AF Lisboa e AF Braga, no momento de chamada à seleção. Lisboa (33,6%) e Porto (22,4%) são os distritos com mais jogadores nas seleções jovens, um domínio que se vai desvanecendo à medida que os escalões avançam devido ao aumento paralelo de jogadores a atuar no estrangeiro que são chamados às seleções.

O estudo do Football Observatory avalia ainda o impacto do Torneio Lopes da Silva na introdução do atleta às seleções jovens. O torneio, organizado pela FPF, é composto pelas seleções sub-14 das 22 associações distritais e regionais de futebol e é, segundo o estudo, fundamental para a chamada à seleção nacional sub-15: entre 2016/17 e 2019/20, 73% dos atletas convocados para os sub-15 estiveram presentes no Torneio Lopes da Silva. Destes jogadores, 86% voltaram a ser chamados para os sub-16, o que significa que a chamada aos sub-15 tem impacto na chamada aos seguintes escalões.

Concluiu ainda o estudo que as regiões com mais jovens do sexo masculino são, efetivamente, as regiões com mais jogadores convocados para as seleções jovens.

“O percurso dos jogadores”

Mais de 50% dos jogadores, nascidos entre 1970 e 1995 (.1417 jogadores), estrearam-se pela seleção nos sub-15 (21%) ou nos sub-16 (32%)

A análise mostrou que a percentagem de jogadores que chegaram à seleção principal aumenta à medida que se sobe de escalão. Por exemplo, 31% dos jogadores que jogaram pelos sub-21 foram internacionais AA, mas apenas 17% que jogaram pelos sub-19 e 9% que jogaram pelos sub-15 atingiram o feito.

Foi também revelado que 83% dos jogadores que jogaram na seleção AA representaram os sub-21. Entre os futebolistas analisados, a partir dos sub-17, apenas 1% dos que não jogaram nos sub-21 chegaram à seleção AA.

Concluiu-se que, entre este grupo de jogadores, aqueles que mais vezes e em mais escalões jogaram, nas seleções jovens de Portugal, foram mais vezes internacionais pela seleção portuguesa AA.

“Indicadores de sucesso”

Neste estudo, foi ainda feita uma análise aos jogadores nascidos entre 1985 e 1994 (685 jogadores), com o intuito de “perceber se a presença nas seleções constitui um bom indicador de sucesso futuro”.

O que se concluiu é que a taxa de sucesso é tanto maior, quanto mais avançados são os escalões nos quais os futebolistas atuaram.

O sucesso é medido de acordo com critérios que se dividem em três categorias: A – se o jogador representou a seleção AA ou jogou nas competições europeias (Liga dos Campeões ou Liga Europa); B – se, pelo menos, o jogador competiu nos campeonatos inglês, espanhol, alemão, italiano ou francês; C – se, pelo menos, o jogador jogou na primeira liga portuguesa.

O que se verificou é que quanto maior é a faixa etária do escalão onde jogam e quantas mais internacionalizações têm, nas camadas jovens, mais aumenta a probabilidade de terem carreiras de sucesso.

Um dado interessante é que três em cada quatro jovens que jogaram 50 ou mais jogos pelas seleções jovens de Portugal conseguiram chegar à seleção AA ou jogaram nas competições europeias tidas em consideração.

97% dos internacionais pelas seleções jovens pela seleção cumprem pelo menos um requisito das categorias para serem considerados futebolistas com “carreiras de sucesso”.

Além disso, constatou-se que há maior percentagem de sucesso de gerações de jogadores que conquistaram títulos internacionais pelas seleções juvenis. Destacaram-se os campões do mundo de sub-20 em ’89 e ’91, cujas equipas tiveram uma percentagem acima de 75%, nos três critérios.

“Portugal no contexto europeu”

O estudo também procurou “situar Portugal no contexto europeu”, comparando a estratégia da federação portuguesa com a das federações das seleções europeias que, em dezembro de 2021, estavam no top-12 do ranking FIFA, são eles: Bélgica, França, Inglaterra, Itália, Espanha, Dinamarca, Países Baixos, Alemanha e Portugal.

Comparou-se o proveito que cada país fez dos jogadores que passam pelos escalões de formação, ao estudar-se a percentagem de jogadores que constavam nas convocatórias, para as fases finais dos campeonatos da Europa e do Mundo entre 2000 e 2020. No caso de a seleção não se ter qualificado para a fase final, foi tida em conta a fase de apuramento. “Entre os 109 portugueses convocados para fases finais, 91% tinham jogado pelo menos uma vez nas seleções jovens”, revela o estudo.

A conclusão, após a comparação, é que Portugal é dos países que há mais tempo anda a fazer mais proveito dos jovens que utiliza nas suas camadas jovens, apesar de, nos últimos anos, as discrepâncias entre os países analisados terem tido tendência a diminuir.

Artigo editado por Filipa Silva