Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP), confirma que já existem alunos ucranianos a frequentar escolas públicas em Portugal. Para já chegam aos grandes centros como Lisboa, Setúbal, Faro, Porto e Leiria. O presidente da ANDAEP assegura ao JPN que “as escolas estão a fazer o melhor para os integrar”.

De acordo com o ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, são já cerca de 300 os estudantes ucranianos matriculados em escolas portuguesas, confirmou esta quarta-feira (16) em conferência de imprensa citada pela Lusa. O ministro ressalvou que as escolas estão “preparadas” para receber os alunos refugiados, já que “estão a chegar mais”.

A integração destes jovens ucranianos passará, numa primeira fase, pela aprendizagem da língua portuguesa como língua não-materna; algumas das escolas terão, também, aulas de ucraniano, segundo Tiago Brandão Rodrigues.

Esta primeira etapa é considerada fundamental por Filinto Lima, uma vez que “estes jovens desconhecem, naturalmente, a língua portuguesa”, explica o presidente da ANDAEP ao JPN.  Numa fase posterior, os jovens vão integrar-se, progressivamente, no currículo português. Outro fator de elevada relevância para Filinto Lima é a cooperação de alunos ucranianos “que já dominem o português”, para que estes sirvam de “ponte” entre os recém-chegados e os professores.

“Estes jovens, há quinze dias, estavam a estudar normalmente, e de um dia para o outro viram a sua escola destruída”, recorda. O professor ressalva a importância do acompanhamento nas áreas emocionais e psicológicas: “as escolas têm técnicos especializados, serviços de psicologia como psicólogos, assistentes sociais, educadoras sociais”, entre outros, que vão procurar “prestar todo o apoio a estes jovens naturalmente traumatizados”, esclarece Filinto Lima.

Os jovens ucranianos serão integrados em turmas de acordo com a idade, e ano de escolaridade que frequentam. Filinto Lima ressalva que, numa fase inicial, poderão constituir um único grupo, para que aprendam a língua em conjunto.

“Não é uma novidade para o ensino”

Filinto Lima garante que o cenário de inserção de alunos estrangeiros “não é uma novidade para o ensino”, já que durante todo o ano letivo chegam a Portugal alunos de todo o mundo, “nomeadamente da China”, para os quais são acionados os mesmos mecanismos de integração como “a aprendizagem do português”. “Seria mais fácil, talvez, se viessem em setembro”, diz ao JPN. Mas, para o professor, o facto de a integração ser feita a meio do ano letivo “não é pior” para os alunos.

Filinto Lima garante que as escolas vão fazer de tudo para que a mudança seja “o menos brusca possível” e para que os jovens sofram menos com esta mudança que não pediram. “Estes jovens não pediram a guerra, estes jovens querem paz”, refere.

Para o presidente da ANDAEP ainda que a integração não seja algo novo para as escolas públicas portuguesas, aquilo que pode ser um fator de novidade é “a quantidade de alunos que chegam a determinada escola”. Garante, no entanto, que “estes são grandes desafios que a escola pública consegue superar. Vamos acolher estes jovens ucranianos de braços abertos”.

Filinto Lima diz que é difícil, no entanto, prever quantos serão os alunos. Por forma a contabilizar este dado, o Ministério da Educação e o Alto Comissariado para as Migrações estão a trabalhar de forma “articulada”.

Menores alvo de “atenção especial”

Sónia Pereira, Alta-Comissária para as Migrações, afirma que a chegada dos jovens ucranianos “é muito recente”, mas ressalta as medidas a ser tomadas. “Estamos a trabalhar, essencialmente, nos locais de receção”, conta ao JPN à margem da inauguração do Centro Local de Apoio à integração de Migrantes (CLAIM) do Instituto Politécnico do Porto, esta quarta-feira (16). O Alto Comissariado para as Migrações tem vindo a acompanhar a chegada de migrantes “quer por autocarro, quer por avião”, de maneira a identificar as necessidades dos jovens.

Sónia Pereira refere ainda a criação de “um procedimento especial do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras” (SEF), que consiste numa plataforma online que pretende facilitar a apresentação de pedidos de proteção temporária por ucranianos, ou cidadãos de outras nacionalidades, que estejam a residir na Ucrânia e tenham sido forçados a deixar o país na sequência da invasão pela Rússia.

A comissária esclarece, no entanto, que, se “tiverem menores a cargo, os pais, habitualmente, terão sempre que validar, junto do SEF, a relação de parentalidade, portanto há uma atenção muito específica relativamente aos menores”.

Sónia Pereira atenta que, em relação à integração destes jovens no sistema de ensino, as crianças serão identificadas junto da Direção-Geral da Educação (DGE) para que tenham acesso às escolas na sua zona de residência. A responsável do Alto Comissariado para as Migrações ressalva que tem existido um trabalho conjunto com os municípios, e sublinhou a pronta disponibilidade da ANDAEP “para colaborarem também e poderem participar neste acompanhamento de forma mais próxima”.

Desde o início da guerra, já chegaram a Portugal cerca de 10 mil ucranianos, disse a secretária de Estado para a Integração e as Migrações, Cláudia Pereira, também à margem da inauguração do CLAIM, no Instituto Politécnico do Porto, esta quarta feira. A secretária de Estado sublinhou ainda que “desses 10 mil mais de um terço são crianças, 36%, e a maioria são crianças dos 0 aos 13 anos, tanto meninos como meninas”.

Artigo editado por Tiago Serra Cunha