A Universidade do Porto voltou às comemorações presenciais no dia em que completou 111 anos (dia 22). A sessão solene contou com os "alertas" do presidente do Conselho Geral e um apelo à maior representatividade dos estudantes. Para o atual reitor, os últimos anos foram de “conquistas e realizações”.
No ano em que termina o mandato como reitor da Universidade do Porto (UP), António de Sousa Pereira fez um balanço de “múltiplas conquistas e realizações”, na sessão solene do Dia da Universidade, que decorreu esta terça-feira (22) na Reitoria. O responsável assinalou no discurso que a equipa que lidera atingiu “os objetivos programáticos” e que os 111 anos da universidade devem ser vistos como “um contínuo ponto de partida para novos desafios e horizontes”.
Entre esses desafios, na visão da representante dos estudantes, Ana Gabriela Cabilhas, está o aumento da representatividade dos estudantes. Para a presidente da Federação Académica do Porto (FAP), “não basta apenas ouvir a voz dos estudantes”. É preciso que estes tenham mais presença nos órgãos de governo e para isso é preciso rever o Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior (RJIES): “A democracia para ser defendida tem de ser exercida, a cada dia e em todos os lugares, mas acima de tudo na universidade”, considerou.
Também Fernando Freire de Sousa, presidente do Conselho Geral da UP, defendeu a revisão do RJIES e ainda do Estatuto da Carreira Docente Universitária (ECDU). O responsável, que fez o primeiro discurso desde que está na função, foi mais longe ao denunciar uma “frente institucional interna que carece de uma efetiva e rigorosa autoanálise”, que, na sua opinião, perpetua um corpo docente envelhecido e em situação de precariedade. É preciso não “compactuar com esse viciado e muito nacional registo de sempre procurarmos um posicionamento acomodadíssimo”, reforçou.
Para Ana Gabriela Cabilhas, cabe à Universidade “ler os sinais do tempo que vivemos e ajustar o seu papel às mudanças e aos desafios”.
A promoção da inovação para construir a Universidade do futuro
Em destaque nos discursos da sessão solene esteve também a inovação e a investigação. O reitor da UP destaca marcos como a constituição da Associação i3S e a parceria estabelecida com a Bosch, no âmbito dos projetos THEIA e Safe Cities. Tal serve “de alicerce para o futuro da universidade”, para o qual contribui também em muito a reorganização do Parque da Ciência e da Tecnologia da Universidade do Porto (UPTEC), realçou.
Sobre a situação pandémica, descreveu-a “como um acelerador de mudança”, permitindo o avanço da “inovação pedagógica” bem como da “transição digital”, os quais pretende prosseguir.
Ainda dentro da inovação, Sousa Pereira referiu a parceria para a construção de um novo Innovation District, no terreno da antiga Refinaria de Matosinhos. À margem da sessão, em declarações ao JPN, o reitor confessa-se, ainda assim, pouco satisfeito com o progresso realizado na área: “Acho que ainda é pouco, temos de desenvolver mais”.
Tal como o reitor vê na inovação uma questão “crítica”, para o presidente do Conselho Geral, Fernando Freire de Sousa, esta “é o alfa e o ómega da mudança”. Apesar de uma “nítida emergência” desta, lamenta um “sistema científico e tecnológico nacional longe de ter validado a sua desejável eficácia em termos de ligação às empresas inovadoras” e com pouco investimento. Contudo, para o atual reitor, “as perspetivas são boas”.
Uma universidade em expansão e renovação
A expansão e requalificação dos campi universitários da UP também foi sublinhada. Sousa Pereira realça a conclusão das obras na Faculdade de Economia (FEP), a requalificação do Pavilhão Carlos Ramos, na Faculdade de Arquitetura (FAUP), e o edifício renovado que agora dá lugar à Faculdade de Ciências da Nutrição e da Alimentação (FCNAUP), no Campo Alegre.
No que toca ao alojamento estudantil, o responsável da Universidade do Porto menciona a requalificação das residências Alberto Amaral, Novais Barbosa, Campo Alegre I, Jayme Rios de Sousa e Ciências, por um total de três milhões de euros. São investimentos que mereceram o elogio da representante dos estudantes, Ana Gabriela Cabilhas, que os considera “projetos ambiciosos”.
Nos planos da atual equipa reitoral, que termina mandato ainda este ano, está ainda a construção de mais três residências, com 400 novas camas, e a renovação de quatro já existentes. Acrescenta-se parcerias com a Câmara Municipal do Porto (CMP) e com a FAP para novas estruturas residenciais no Quartel do Monte Pedral, no Morro da Sé e no antigo Centro Social da Sé.
Ainda no contexto do Innovation District, antes mencionado, inclui-se nas pretensões um novo campus universitário, que deve resultar num incremento da área de implantação da UP de 50 para 90 hectares.
Valores poéticos e comuns entre múltiplos oradores
O Dia da Universidade foi também marcado pela importância das áreas humanas e das artes. Na perspetiva do atual reitor, a cultura foi uma área de interesse e desenvolvimento na UP nos últimos anos. Como exemplo, dá o lançamento do projeto “Casa Comum” bem como o “Corredor Cultural do Porto” e a consequente dinamização quer do Edifício Histórico quer do Jardim Botânico.
A poetisa Ana Luísa Amaral, oradora convidada, a quem foi atribuído o Prémio Rainha Sofia 2021, proferiu a Oração de Sapiência “Da publicação à alma humana” e direcionou o seu discurso para a importância das “matérias humanas”, como fonte de desassossego e, dessa forma, de pensamento crítico. O principal objetivo das universidades deve ser “ensinar a pensar”, considera.
Num tom mais político, alertou para o perigo da demagogia, a qual não é esquecida também pela presidente da FAP. Ana Gabriela Cabilhas deixa uma nota de que espera que a UP “seja escola de liberdade, cidadania e democracia, ontem, hoje e sempre”. António de Sousa Pereira vai ao encontro da visão, citando Benjamin Disraeli, antigo primeiro-ministro britânico, ao proferir que “a Universidade deve ser um espaço de luz, de liberdade e de conhecimento”.
Com a aproximação de eleições para reitor, ao JPN, Sousa Pereira partilha a expectativa de que os candidatos que agora se apresentam “tenham uma perspetiva positiva para a Universidade”. Quanto à possibilidade de reeleição, garante: “É uma coisa que a mim não me preocupa de todo”. Confiante, define a estabilidade como prioridade para um eventual segundo mandato.
Premiados pela excelência
A cerimónia de comemoração dos 111 anos da Universidade do Porto foi também marcada pela atribuição de múltiplos prémios para distinguir estudantes e docentes.
Vinte estudantes de primeiro ano de um total de 14 faculdades receberam o Prémio Incentivo, tendo-se feito notar pelas melhores médias. O Prémio de Cidadania Ativa foi destinado a três estudantes da UP, Catarina Moreira, Ana Zão e Sandra Duarte Cardoso, cujo trabalho nas vertentes Humanitária ou Solidária, de Empreendedorismo e de Defesa do Ambiente, respetivamente, se destacou.
Docentes também tiveram direito a honras da casa, com o Prémio de Excelência Científica a ser atribuído ao professor e investigador Nuno Cardoso Santos. Houve ainda lugar para o Prémio de Excelência Pedagógica e para a proclamação das professoras Maria Emília Costa, da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação (FPCEUP), e de Isabel Soares, Faculdade de Economia (FEP), como Professoras Eméritas pelos serviços prestados à U. Porto.
Artigo editado por Filipa Silva