A autora do disco "No Meu Canto" estreou-se no palco da Casa da Música esta quinta-feira (24). No final do concerto, o JPN esteve à conversa com Elisa sobre a passagem do Festival da Canção e a importância da ilha da Madeira, de onde é natural, como fonte de inspiração.

A iluminação da Sala 2, na Casa da Música, realçava a presença do girassol que agarrava o suporte do microfone. Aos poucos, o público foi ocupando timidamente os lugares. Momentos mais tarde, o arranjo floral passaria para segundo plano, dando protagonismo a Elisa e aos seus músicos. 

Elisa em entrevista ao JPN depois do concerto na Casa da Música. Foto: Ângela Pereira

Se no Maria Matos, em Lisboa, se fez acompanhar de uma banda completa, no Porto bastou uma guitarra, um teclado e um ukelele para nos levar pela sua viagem. A primeira paragem foi no tema “Parva”, que prontamente agarrou a atenção do público.  

Numa conversa com o JPN, pelos recantos da Casa da Música, revela que também no grande palco portuense se sentiu em casa, principalmente devido ao “formato muito mais intimista” do concerto. Elisa chamou mágico ao Porto – e, durante o concerto, houve um bocadinho mais de magia.

Pouco após de subir ao palco, Elisa justifica o nome do seu primeiro álbum, “No Meu Canto”. O título faz alusão à personalidade da artista, que é tendencialmente introvertida, mas também fala do lugar na sua cabeça de onde nasce a sua arte. Se tivesse que resumir o disco numa palavra? “Genuíno”, afirma. 

O concerto contou com duas participações, as de Tainá e Tomás Adrião. Os duetos acrescentaram um toque especial à noite, mas nunca desviaram a atenção da verdadeira protagonista.

Embora a sua autora não estivesse presente, o tema composto por Luísa Sobral, “Se Não Me Amas”, arrecadou aplausos sonoros da sala. Ao som da música, os corações da Casa da Música partiram-se em uníssono e a voz de Elisa voltou a colá-los.

Ao longo das canções, apesar de ser a primeira vez a pisar aquele palco, a cantora mostrava um à vontade de quem já tem vários anos de estrada .

Elisa, que ainda está a estudar na Escola Superior de Música de Lisboa, contou ao JPN que neste momento a carreira é prioridade. “A altura dos concertos é a altura mais complicada de conciliar. É óbvio que uma das coisas vai ter de ceder e, neste caso, é a escola”, afirma. No entanto, encara os concertos como um “projeto extra”. 

No alinhamento, as canções mais familiares tiveram lugar na reta final do concerto. O tema “Na Ilha” fez-nos ver as areias e o mar da sua terra natal, a ilha da Madeira. Por três minutos, Elisa foi até casa e levou-nos com ela. 

Todos os artistas vão buscar coisas da sua casa, das suas raízes. É uma forma de trazer o meu ‘eu’ genuíno à música e, se não for dessa forma, acho que não deve ser feito”, disse a cantora. A voz de “Coração” afirmou que se “inspira muito” na natureza para fazer as suas canções.  

De canto em canto, é na música que encontra o seu refúgio. “Desde pequena que encontro na música o meu conforto. É a música a ‘pessoa’ a quem eu me viro e a quem eu vou buscar esperança”, desabafou. 

O concerto foi encerrado a chave de ouro. “Medo de Sentir”, canção que levou Elisa à vitória do Festival da Canção em 2020 – e com o qual teria representado Portugal no Festival Eurovisão da Canção desse ano, não tivesse a edição sido cancelada por conta da pandemia -, roubou as vozes do público. Atualmente, a cantora ainda vê a sua vitória com descrença e mantém o troféu que ganhou “numa caixa escondida”. 

“Tenho medo que se estiver sempre a olhar para o prémio que vá pensar: ‘Ok, já ganhei o festival, não tenho de mexer mais uma palha’”, admite. Não obstante, mostra-se “grata” pela experiência e pelo “realizar de um sonho”. 

Como a própria Elisa canta, “o mundo vira do avesso”, mas ao som da sua voz parece estar sempre tudo onde deve estar. Ao final da noite, não sobrou espaço para “parabéns”. Só um “obrigado”. 

Artigo editado por Tiago Serra Cunha