Esta terça-feira, o JUP celebra 35 anos. Um jornal repleto de história que já passou por muitas mãos e mudanças, mas não perdeu a essência. No aniversário do JUP, o JPN foi conhecer aqueles que colaboram no presente com o mais antigo jornal universitário do país.

O JUP foi fundado em 1987. Foto: Jornal Universitário do Porto/Facebook

Nasceu no papel, mas o online é agora a sua casa. Já conheceu muitos rostos, das mais variadas faculdades e escolas superiores do Porto, e espera-se que venha a conhecer muitos mais. O Jornal Universitário do Porto – JUP celebra esta terça-feira 35 anos. É o jornal universitário mais antigo do país e é feito na totalidade por estudantes. O objetivo dos atuais diretores do jornal é dar ao JUP “os dias de glória que ele já teve”.

Mas o que distingue o JUP dos outros jornais? É que este é feito por estudantes e para estudantes, e não são só os “aspirantes” a jornalistas que podem fazer parte do jornal. O único requisito para pertencer ao JUP é estudar na Academia do Porto. Para entrar basta esperar que abra um recrutamento para as várias editorias que fazem parte do jornal.

Ao todo, o JUP tem sete editorias: Sociedade, Cultura, Política, Educação, Desporto, Ciência e Saúde e Opinião, e ainda uma secção dedicada ao Multimédia. A editoria de Opinião é a que tem mais colaboradores. São 47. Cultura é a segunda maior, com 34 colaboradores. Em Sociedade, estão 23 pessoas e Ciência e Saúde conta com 17. Em Política, colaboram 16 estudantes. Desporto e Educação têm nove cada. Já a secção de Multimédia acolhe 26 colaboradores e em comunicação estão ainda sete pessoas. Para tudo isto há 19 editores e dois co-diretores.

Um universo que, neste momento, conta com quase 200 pessoas e não pretende ser “muito hierárquico”. “Nós tentamos que toda a gente tenha uma palavra a dizer em relação às coisas que estão a acontecer”, afirma Maria Teresa Martins, uma das co-diretoras do jornal.

Sendo um jornal para estudantes, o que é feito é a pensar neles. “Por mais que seja livre, temos de nos preocupar sempre em representar os estudantes e apresentarmos os artigos que importam aos estudantes”, afirma Fernando Costa, co-diretor do jornal e também editor de Cultura.

Uma casa feita por muitas casas

Fernando Costa, co-diretor do jornal e estudante de Ciências da Comunicação da Faculdade de Letras da Universidade do Porto [curso a que o JPN pertence], afirma que no jornal “há de tudo e isso é muito bom, porque o JUP deve representar a Academia do Porto”. Faz ainda questão de sublinhar que o “JUP não é da UP, o JUP é de todos os estudantes da Academia do Porto. Se é estudante universitário, seja do politécnico, de uma privada, ou de uma escola de artes, pode ir para o JUP”.

O estudante de Ciências da Comunicação partilha o cargo de diretor com Maria Teresa Martins, estudante na Faculdade de Ciências das UP (FCUP). A co-diretora é um exemplo de que, mesmo cursando uma área distinta do jornalismo, é possível colaborar num jornal.

Juntou-se ao JUP em 2019, porque uma amiga que já estava no jornal falou-lhe do projeto. “Ela sabia que eu gostava muito de escrever e desafiou-me a candidatar-me”, afirma Maria Teresa Martins. Começou como colaboradora da editoria de Ciência e Saúde, a mais próxima da área que segue na faculdade.

Mas a estudante do Jornal Universitário do Porto não é um caso único. Maria Inês Aires é estudante na Faculdade de Arquitetura (FAUP) e no JUP ocupa o cargo de editora de Multimédia. Ao contrário de Maria Teresa Martins, não foi o gosto pela escrita que a levou a juntar-se ao JUP. “Eu sempre gostei de fazer fotografia e gostava de experimentar”, diz ao JPN.

“Se não fosse um jornal universitário não iria poder trabalhar num jornal e o JUP abre portas sem ter essas barreiras.”

Luís Jacques estuda na Faculdade de Engenharia da UP (FEUP) e é colaborador na editoria de Política. Afirma que o JUP é “uma plataforma interessante” e não esconde que é “porreiro” estar num jornal que possibilita uma escrita mais livre. “Tenho um espaço onde posso escrever coisas que me interessam e conversar com pessoas que têm os mesmos interesses que eu”, afirma.

A juntar a isto, garante que a liberdade que o JUP proporciona aos estudantes de toda a Academia permite trabalhar numa área que, não sendo a que está a seguir na faculdade, não deixa de ser um gosto e um hobby: “se não fosse um jornal universitário, não iria poder trabalhar num jornal e o JUP abre portas sem ter essas barreiras”.

Diogo Sousa estuda na Lusófona e no Jornal Universitário do Porto é colaborador nas editorias de Política e Opinião. Olha para esta passagem pelo JUP como uma “experiência bastante enriquecedora” e não esconde a honra que tem em contribuir para o jornal por onde já passaram “tantas mentes brilhantes”.

Sendo um jornal feito por alunos de várias instituições de ensino superior do Porto, o facto é que muitos daqueles que colaboram no JUP são do curso de Ciências da Comunicação. É o caso de Francisca Santos, editora de Desporto no JUP. Começou para treinar as “competências enquanto jornalista” e realça que o JUP é uma “grande escola”. “Como editora também espero dar aos meus colaboradores tudo aquilo que eu aprendi, porque cresci bastante”, conta ao JPN.

Nova edição em papel, porque um bom filho a casa torna

Quando ganhou vida, o Jornal Universitário do Porto só existia em papel. Nasceu em 1987 e, nessa altura, não havia sequer a possibilidade de o tornar digital. Fernando Costa, um dos co-diretores do JUP, não esconde que “o palpável ainda tem um valor completamente diferente”.

Francisca Santos, estudante de Ciências da Comunicação na FLUP, partilha a opinião de Fernando. “Já tive a oportunidade de trabalhar num jornal impresso e para mim é muito mais satisfatório do que trabalhar no online. Ter o nosso nome no papel é muito diferente do que ter o nosso nome na Internet”, garante.

O jornal passou de inteiramente impresso para ser feito totalmente no digital. Pelo meio, foram feitas algumas edições impressas, mas a falta de apoios financeiros e os problemas com a sede do jornal, atualmente localizada na Praça Coronel Pacheco, dificultaram a existência do JUP em papel.

Em 2020, surgiu o “Mundo Novo”, uma edição em papel criada em plena pandemia. A criação de uma nova edição física do jornal está nos planos e os atuais diretores afirmam que o objetivo seria “fazer uma edição impressa por ano”. O ideal, para Maria Teresa Martins, seria conseguir fazer “uma edição por semestre ou até mais”, mas tudo depende do financiamento.

Foram impressos dez mil exemplares da edição especial. Foto: Jornal Universitário do Porto/Facebook

Maria Inês Aires, editora de Multimédia, participou na edição do último número impresso e assegura que foi “um grande evento dentro do JUP”. Garante que, estando na editoria de Multimédia, a responsabilidade é “muita”, mas é “uma experiência”. “Vai ser bastante duro para nós [fazer uma edição impressa], mas eu acho que temos todos a ganhar com isso”, conta ao JPN.

Olhos postos no futuro com sede de reavivar o passado

O Jornal Universitário do Porto já tem 35 anos de existência e um lugar com tanta história não pode ficar esquecido.

Fernando Costa, co-diretor do jornal, está otimista quanto aos próximos anos do JUP, que para dar um salto no futuro, precisa de o fazer com um pé no passado. “Queremos que o JUP volte a ser a instituição que era. Estamos a falar do jornal académico mais antigo de Portugal. Acho que as pessoas se esqueceram um pouco disso”, assevera ao JPN.

O regresso ao papel, sem descurar a versão online do JUP, é uma ambição daqueles que fazem parte do jornal. Maria Inês Aires, da editoria de Multimédia, salienta que “um impresso por ano era uma boa forma de dinamizar o jornal”.

Para além do regresso ao papel, a editora de Multimédia demonstra vontade em utilizar as instalações físicas do JUP, que “pelos vistos existem”, mas não sabe se os diretores têm “essa intenção”. A sala do JUP foi recuperada este ano, mas ainda é pouco ou nada utilizada. A estudante da FAUP refere ser uma pessoa que “gosta muito de trabalhar com outras pessoas presencialmente” e sente “sempre um bocadinho falta dessa parte”.

Algo que já fez parte do JUP, mas não existe nos dias de hoje são os estágios curriculares. “O JUP há uns bons anos também tinha estágios curriculares e acho que é uma pena que isso não aconteça agora”, assevera Maria Teresa Martins, co-diretora do JUP. Não obstante ser necessário a existência de um “orientador com carteira profissional”, a diretora não esconde que se um dia isso for possível “era fantástico”, porque iria demonstrar a “grandiosidade que o JUP pode ter”, garante.

A  co-diretora do JUP salienta que um dos objetivos principais dos diretores é levar as pessoas a gostar tanto de fazer parte do projeto como eles gostam. “Tentamos que as pessoas se sintam confortáveis e que vejam o JUP como uma oportunidade de poder expor aquilo que acham, aquilo que sentem, aquilo que defendem para o mundo”, assevera.

Fernando Costa, também co-diretor do jornal universitário, faz uma analogia para mostrar o que, para ele, é e deve ser o JUP. “Eu costumo dizer que o JUP é um parque. É um jornal, tem de ser rigoroso, mas é o espaço perfeito para as pessoas experimentarem e fazerem coisas que se calhar não vão poder fazer em mais jornal nenhum”, afirma.

O co-diretor do jornal, que em breve vai deixar de ocupar o cargo visto já estar a acabar a licenciatura, salienta ainda que o “o futuro do JUP só pode ser bom. Não é uma questão de vontade, é uma questão de necessidade. O JUP não pode desaparecer, porque representa muita coisa”.

Dado ser um jornal feito por estudantes, há quem, entre os leitores, não leve o projeto tão a sério, mas Fernando Costa defende que “esses estudantes não eram obrigados a fazer nada e estão a fazer por vontade”. “Não nos podemos esquecer que os estudantes de hoje são os profissionais de amanhã”, conclui.

Hoje profissionais da comunicação, Margarida David Cardoso, jornalista no jornal “Fumaça”, e Paulo Pimenta, fotojornalista no jornal “Público”, são alguns exemplos de quem começou pelo JUP e conseguiu prosperar no mundo jornalístico.