A imposição de novos limites de jogadores emprestados, a hipótese de realizar um mundial de dois em dois anos e a intervenção da presidente da federação norueguesa, que exigiu à FIFA "mudança" no campo da ética, foram alguns dos tópicos que marcaram o 72.º Congresso da organização.

Os membros da FIFA voltaram a reunir-se presencialmente depois de dois anos. Foto: FIFA

Decorreu esta quinta-feira, em Doha, capital do Catar, o 72.º Congresso da FIFA, que fica marcado por ser o primeiro evento presencial do futebol mundial desde 2019, após uma longa paragem provocada pela pandemia que afetou o mundo.

O congresso trouxe novidades no regulamento e discussões sobre os direitos humanos suscitadas pela realização do Campeonato do Mundo de 2022 no Catar.

Novo limite de jogadores emprestados

No congresso desta quinta-feira, a FIFA aprovou as medidas anunciadas em janeiro relativamente ao empréstimo de jogadores.

A partir da próxima época, os clubes poderão emprestar até um máximo de oito jogadores, com um limite de três por equipa de destino. Está ainda prevista, para 2023/24, uma redução do limite para sete empréstimos e para 2024/25 para seis cedências.

Jogadores com idade inferior ou igual a 21 anos e jogadores que tenham sido formados pelo clube com o qual têm contrato não estão incluídos no limite de cedências. Os empréstimos têm, também, uma duração mínima obrigatória de seis meses e não podem exceder o prazo de um ano.

Campeonato do Mundo bienal

A hipótese de realizar o Campeonato do Mundo de dois em dois anos foi afastada, para um futuro próximo, pelo presidente da FIFA, Gianni Infantino, estando essa ideia ainda em fase de análise.

“A FIFA não propôs o Mundial bienal. O Congresso pediu que se estudasse essa possibilidade e chegou-se à conclusão de que é viável, com algumas consequências e impactos. Tentamos debater e discutir o que é adequado para toda a gente. Toda a gente tem de beneficiar”, concluiu.

Direitos humanos

Vieram, ainda, à tona as preocupações com os trabalhadores migrantes envolvidos na preparação do Mundial do Catar. Lise Klaveness, ex-futebolista e presidente da Federação Norueguesa de Futebol, afirmou em palco ser “inaceitável” a atribuição, em 2010, do Mundial ao país do Médio Oriente. 

“Direitos humanos, igualdade, democracia – interesses centrais do futebol – não alinharam no onze inicial até muitos anos depois. Estes direitos básicos, tratados como suplentes, entraram em campo sob pressão, sobretudo externa”, afirmou. “A FIFA enfrenta, mais tarde, estes problemas, mas ainda há muito a fazer”, sublinhou a também jurista, exigindo “mudança” no campo da ética e da transparência no desporto.

De lembrar que cerca de 6.500 trabalhadores migrantes morreram no Catar na preparação do Campeonato do Mundo desde que o país conquistou, em dezembro de 2010, o direito de acolher a competição.

Em resposta, o presidente da FIFA afirmou que “os direitos humanos e direitos dos trabalhadores não teriam sido concretizados (no Catar) se o Campeonato do Mundo não acontecesse” lá.

Hassan al-Thawadi, presidente do comité da organização do Campeonato do Mundo do Catar, disse que o evento deixará “verdadeiros legados transformacionais” nas áreas sociais, humanas, económicas e ambientais.

Presença russa no Congresso

Apesar de a seleção da Rússia ter sido expulsa da qualificação para o Mundial de 2022 e banida de competições oficiais da FIFA devido à invasão à Ucrânia, o país participou no Congresso desta quinta-feira. “O que é que o futebol russo tem a ver com tudo isto? O que é que o futebol russo fez de mal? Não encontro nenhuma cláusula nos estatutos da FIFA que tenha sido violada pelo futebol russo”, afirmou o conselheiro do diretor de futebol russo, Alexey Sorokin.

“Como qualquer outra federação, [a Rússia] não foi suspensa pela FIFA. Tem participação neste congresso também, porque se não tivermos ocasiões como um congresso para unir as pessoas, preferimos parar e ir para casa”, afirmou Infantino quando questionado sobre a participação da Rússia no evento.

Guerra na Ucrânia

O presidente da Federação Ucraniana de Futebol, Andriy Pavelko, não esteve presente presencialmente, mas deixou um vídeo de três minutos que foi transmitido no Congresso. Nesse vídeo, aparece na rua, com um colete de proteção. “Infelizmente, não poderei estar com vocês hoje. Desde 24 de fevereiro, não tivemos oportunidade de continuar o jogo que amamos. Estamos a defender o nosso país e a resistir à agressão militar da Federação Russa há mais de um mês. Durante este período, recebemos regularmente tristes notícias sobre as mortes de representantes da comunidade de futebol ucraniana. Eles são mortos pelas balas do agressor, um dos maiores exércitos do mundo. O futebol ficou para segundo plano, porque todos os dias adultos e crianças morrem no nosso país.”, afirmou Pavelko.

A Ucrânia, recorde-se, pode ainda garantir o apuramento para o Mundial do Catar, que vai ser disputado em novembro. O play-off que envolve a equipa do Leste da Europa, em conjunto com as seleções da Escócia e do País de Gales, está agendado para junho.