O Presidente da República inaugurou, na passada sexta-feira, a Casa dos Livros, no Palacete Burmester. Este espaço abriu portas ao público esta segunda-feira (4) e será possível aceder ao acervo de Vasco Graça Moura, doado pela família à Faculdade de Letras da Universidade do Porto, e de outros autores.
Imaginar um espaço onde nomes como Vasco Graça Moura, Herberto Helder, Manuel António Pina, Óscar Lopes, António Cortesão e Humberto Baquero Moreno estão todos presentes parece difícil de conceber. Mas há uma nova morada onde será possível apreciar a companhia destes ilustres da literatura portuguesa do séc. XX. A Casa dos Livros – Centro de Estudos da Cultura em Portugal da Universidade do Porto foi inaugurada na sexta-feira (1) e em breve por lá andarão também os acervos de Eugénio de Andrade e Albano Martins.
Foi o acervo do escritor Vasco Graça Moura que fez nascer a iniciativa. O espaço foi inaugurado por Marcelo Rebelo de Sousa, amigo do autor, que descreveu a sua obra como “um testemunho de paixão”. “Tudo o que fez, fez por paixão”, disse o Presidente da República na ocasião.
Sobre o espólio ali reunido, Marcelo acrescentou: “A cultura é aquilo que fica, desde logo aquilo que fica materialmente. Os livros que alguém juntou, leu, usou, anotou, a correspondência, os inéditos, a prova física humana de que se andou por cá. E no caso do meu amigo Vasco Graça Moura é impossível que nos esqueçamos”.
É também de Vasco Graça Moura a exposição que está por estes dias montada na casa. No piso térreo do edifício, é possível visitar o espaço que recria o escritório do autor, onde se acomodou a sua secretária e os seus objetos pessoais. São deles exemplo um pequeno livro que reúne todos os textos de Camões. Também uma estante original do seu escritório com as mais variadas obras – da “Teoria Geral da Versificação”, de Amorim de Carvalho, ao “Tratado das Alcunhas Alentejanas” – está no palacete.
Todo o acervo dos seus livros, manuscritos e revistas passa a morar na Casa dos Livros, após a entrega de espólio à Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP) pelos seus filhos. A família do autor também esteve presente na cerimónia, onde foi feita uma homenagem a Graça Moura.
“Julgo que o pai nos desculparia este pequeno episódio de desobediência filial, já que nos permitiu encontrar um destino mais digno para aquilo que foi o seu instrumento de trabalho, o seu passatempo e o seu refúgio”, afirmou Teresa Graça Moura.
É no Palácio Burmester, no Campo Alegre, onde as obras dos mais variados escritores estarão ao dispor de todos. Estão guardadas na cave do edifício, mas disponíveis para consulta. O novo espaço gerido pela FLUP foi pensado para a comunidade académica e científica, mas passou a estar aberto ao público desde segunda-feira (4). Todos os dias das 14h30 às 17h30.
A diretora da FLUP, Fernanda Ribeiro, afirmou que o espaço pode ser usado “para visitas e trabalho de investigação ou mera consulta de lazer”. Está também a ser organizado um programa de atividades culturais para 2022, que conta já com um “ciclo de palestras sobre os autores cujo espólio está guardado”, organizado em colaboração com o Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa (ILCML).
Para incentivar a “Universidade dentro da Cidade”, Rui Moreira, presidente da Câmara Municipal do Porto (CMP), anunciou ainda que o seu “gabinete está disponível para articular com a FLUP o lançamento de um prémio anual que potencie e promova a publicação de obras que estudem os poetas da cidade do Porto”.
A CMP, que a 21 de março aprovou a cedência do espólio do poeta Eugénio de Andrade à Casa dos Livros, vai ainda contribuir com um financiamento de 60 mil euros durante três anos (20 mil euros anuais) para garantir a manutenção e disponibilidade dos acervos guardados na Casa dos Livros.
Artigo editado por Filipa Silva