“Afetos à Mesa” desafia os portuenses a partilhar as suas receitas pessoais e as histórias por detrás de cada prato. Com foco na promoção da saúde e do bem-estar social, em especial da população mais idosa, esta “recolha de memórias” à volta da mesa, organizada pela Liga Portuguesa de Profilaxia Social (LPPS), será, também, desenvolvida no terreno, em “associações e instituições particulares de solidariedade social” da cidade do Porto, sublinham as promotoras do projeto.

Esta iniciativa é um convite à população para abrir a porta da sua cozinha aos outros, com o objetivo de “conhecer as memórias que habitam a mesa dos portuenses”. A LPPS, com uma vasta experiência na intervenção social e sensibilização pública, tendo sido pioneira em áreas chave na defesa dos diretos sociais, convida a que se desenvolva um “roteiro pela memória dos afetos” e um “retrato gastronómico” do Porto.

O projeto, lançado em março de 2022, parte da ação na área da alimentação, de forma a compor uma rede de iniciativas e ações cujo propósito será “potenciar a participação social e o exercício de cidadania da população idosa”, restaurando “laços, identidade e sentido de pertença”.

O projeto pretende combater o isolamento social da população mais idosa e a falta de afetos provocada pelos últimos anos de pandemia. Foto: Guilherme Costa Oliveira

Todas as receitas e histórias recebidas podem ser partilhadas até esta sexta-feira, dia 8 de abril, através de um formulário, que pode ser encontrado no site da liga, para que seja possível traçar este retrato da cidade à mesa. “Todas as recolhas recolhidas vão ser divulgadas através de uma série de iniciativas junto da população do Porto”, acrescenta a Liga de Profilaxia. 

Um espaço de partilha, “de alimentos e histórias de e em família”

“Afetos à Mesa” tem como prioridades por combater o isolamento social, a valorização da população envelhecida e dos saberes e experiências de tradições gastronómicas ligadas às histórias e cultura de povos e comunidades.

Mariana Teixeira Santos, da LPPS, esclarece ao JPN que o mote do projeto é “convidar a população portuense a partilhar as histórias dos pratos de família”. Neste sentido , depois de recolhidos os testemunhos enviados pelos cidadãos, será posteriormente feito um “mapeamento” das receitas.

Além disso, serão organizados workshops, realizados em associações ligadas à terceira idade, com as histórias partilhadas. O objetivo é “sentar à mesa a cidade do Porto”, permitindo a “retoma da sociabilidade que foi perdida com a pandemia”, acrescenta.

“Queremos que o sentar à mesa seja um lugar de sucesso e de convívio”, combatendo o isolamento social e a falta de afetos provocada pelos últimos anos de “solidão”, consequentemente provocada pela pandemia. 

“Resgatar a sociabilidade perdida e ao mesmo tempo fazer o alerta na escolha de alimentos mais saudáveis e biológicos” é um dos principais objetivos, segundo Mariana Teixeira Santos.

O local e horários dos workshops ainda está para ser definido, no entanto será divulgado pela Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS) quando a recolha das receitas estiver finalizada.

Nestas sessões, a equipa da Liga, juntamente com as associações parceiras, irá assumir a confeção dos pratos cujas histórias foram submetidas, mas sempre com a presença de quem partilhou a receita, de forma a que os seus autores possam contar a sua perspetiva. Este será “um espaço, essencialmente, de partilha, de alimentos e histórias de e em família” onde “a alimentação e a memória se cruzam”. 

O ator Paulo Calatré, a cozinheira Maria Filomena Manuel (Filó) e Maria Arminda Santos, da Associação Homenagem às Carquejeiras, são três dos rostos que se sentam à mesa para partilharem as suas receitas de família e histórias dos pratos dos seus afetos. 

A Liga Portuguesa de Profilaxia Social foi fundada em 1924. É uma instituição particular de solidariedade social com sede no Porto, que atua nas áreas da saúde pública e da intervenção social. O papel pioneiro da LPPS em Portugal permitiu desenvolver ações concretas na áreas da assistência médica, combatendo flagelos como a tuberculose, o tétano e atuando, também, na saúde mental da população.

“Afetos à Mesa” resulta do encontro entre estas áreas de intervenção. O projeto é apoiado pelo Fundo Municipal de Apoio ao Associativismo Portuense.

Artigo editado por Tiago Serra Cunha