António Reis, cofundador da Seiva Trupe, morreu esta terça-feira (5), aos 77 anos, vítima de doença prolongada, adianta a companhia de teatro portuense. A Seiva Trupe já reagiu ao falecimento de um dos “alicerces” da companhia lamentando a perda de quem a “fundou e cresceu nestes mais de 48 anos”.
Natural do Porto, onde nasceu em 1945, António Reis iniciou o seu percurso pelos palcos do país nos anos de 1960 no Grupo dos Modestos, num espetáculo de Joseph Kesserling. Mais tarde, ingressou no Teatro Experimental do Porto, em 1970, onde fez a estreia profissional e trabalhou por dois anos. Em 1973, juntamente com Júlio Cardoso e Estrela Novais – igualmente vindos do Teatro Experimental do Porto -, António Reis cofundou a Seiva Trupe.
Indissociável da história da companhia, e da sua, é ainda o projeto de construção do Teatro do Campo Alegre (um dos polos do Teatro Municipal do Porto), de que a Seiva Trupe foi residente desde 1997 até 2013. Como membro ativo da companhia de teatro portuense, fez igualmente parte da equipa que fundou a cooperativa Academia Contemporânea do Espetáculo, em 1990.
António Reis foi ainda um dos fundadores do Festival de Teatro de Expressão Ibérica (FITEI), que dirigiu de 1989 até 2004.
A par do teatro, António Reis também fez cinema e televisão, tendo trabalhado, sobretudo, com Manoel de Oliveira, em filmes tais como “Vale Abraão” (1992) e “Singularidades de uma rapariga loira” (2008).
Recebeu alguns prémios durante a carreira: a Medalha de Mérito Cultural da Câmara Municipal do Porto (1988), a comenda da Ordem do Infante (1995) e o prémio Lorca, pela Universidade de Granada em Espanha (1995).
Uma personalidade dedicada à profissão
Ao JPN, Júlio Cardoso, colega e amigo, recorda “um ser muito especial, uma figura muito querida” com quem partilhou a vida e profissão à qual era “imensamente dedicado”. De forma nostálgica, Júlio Cardoso relembra António Reis como alguém que era “um exagerado pela verdade” e que procurava sempre encontrá-la “mesmo através da encenação”.
A ligação de António Reis com a cidade era grande. “Ele próprio era o Porto”, diz o ator e encenador Júlio Cardoso. “Com apenas 24 anos foi convidado a contracenar com a atriz Laura Alves, muito conhecida na época, em Lisboa”, conta, mas, nunca conseguindo desprender-se das suas raízes, a passagem pela capital não durou muito: “ele telefonava-me e dizia: ‘estou ansioso para voltar, vou para aí já’”. Regressado, António Reis acreditava que “havia muito para fazer no Porto”, e ambicionava trazer uma nova mentalidade teatral à cidade.
Reis tinha uma paixão extra: “era um boavisteiro de gema”, sublinha Júlio Cardoso, e uma figura muito querida na cidade Invicta. “Infelizmente, já não me vão perguntar mais por ele, infelizmente vou passear sossegado na rua”, desabafa o companheiro de António Reis. “Eu ia a pé e as pessoas vinham ter comigo a perguntar como ele estava, sabiam que havia uma ligação estreita entre nós e aproveitavam para me perguntar ‘como é que está o Reis?’”, conta ao JPN através de telefone.
O velório de António Reis decorre esta quarta-feira (6) na Igreja da Lapa, entre as 16h30 às 20h. O funeral será esta quinta (7), pelas 15h30, a ter lugar no Cemitério da Ordem da Lapa.
Artigo editado por Tiago Serra Cunha