Na quarta-feira (6), foi reservada uma tarde para cinema nacional, no Fantasporto. Na disputa pelo Prémio do Cinema Português, foram apresentadas curtas-metragens de jovens realizadores em todas as formas e feitios.

Variedade foi a palavra de ordem no dia em que foram projetados sete dos oito filmes a concurso (e uma curta-metragem extracompetição) no Prémio do Cinema Português, do Fantasporto. Ao longo das duas horas de sessão houve de tudo: cinema experimental, de animação, fantástico, de terror. Curtas de 30 minutos, curtas de alguns segundos. Narrativas tradicionais, outras mais metafóricas. E uma nota comum: a juventude dos autores.

Na tarde desta quarta-feira, o Pequeno Auditório do Rivoli quase não chegou – estava praticamente lotado – para albergar as múltiplas realidades que o sangue novo da sétima arte nacional ali derramou. Ainda sem o Prémio Escolas no programa, interrompido desde o ano passado por força dos efeitos que a pandemia teve também nas escolas de cinema, a escolha, garante a organização, foi dominada por critérios mais exigentes.

Em declarações ao JPN, a codiretora da 42.ª edição do festival, Beatriz Pacheco Pereira, explicou ser preferível ter poucos filmes a concurso, ao invés de muitos com qualidade inferior. Sobre a presença de jovens cineastas, a responsável sublinhou que o facto de alguns ainda serem estudantes não os coloca em desvantagem em relação a realizadores profissionais.

Ainda que os diversos filmes tenham chegado de universos diferentes, alguns foram recebidos com reações mais unânimes. “Dilúvio” conseguiu a maior chuva de aplausos da tarde. A obra de Eduardo Cruz – a mais longa das curtas exibidas – nasceu de uma “ansiedade constante” e de um processo tão tumultuoso como a sua narrativa. “É se calhar a coisa que mais me orgulho de ter feito, mas foi uma dor de cabeça”, admitiu o cineasta ao JPN.

As mãos que aplaudiam o filme anterior, serviram para tapar os olhos em “Atrás da Porta”. Durante o filme mais assumidamente de terror a concurso, o público susteve várias vezes a respiração. Se o nome Fantasporto pode derivar de ambas as palavras, “fantasma” e “fantástico”, este foi o filme que melhor equilibrou esta dicotomia.

Tom Freitas e Inês Paredes, realizadores de “Atrás da Porta”. Foto: Mafalda Barbosa

Quando questionado sobre como é trabalhar neste género específico em Portugal, um dos realizadores, Tom Freitas, admitiu ao JPN que a equipa enfrentou algumas dificuldades: “É um pouco diferente, um pouco desafiante, a gente tem pouca referência no mundo de terror em português”.

Inês Paredes, também responsável pelo filme, sublinhou a dificuldade em tornar o cinema de terror em Portugal acessível: “A questão da distribuição prende-se muito com a questão de orçamento, de dinheiro, de fundos, que não há. É por isso que se torna um pouco uma coisa de nicho e às vezes até chega a ser uma coisa bastante elitista, que não devia ser. O cinema é para todos, o cinema é feito de todos para todos”, disse. 

Contudo, estes obstáculos não foram impedimento para a construção de produtos finais de qualidade. Em várias curtas apresentadas, foi fácil esquecer que por detrás da câmara estiveram estudantes ainda a dar os primeiros passos. 

O único filme de animação a concurso, “Jornadas de Papel” foi realizado por estudantes do mestrado em Comunicação Audiovisual da ESMAD do Politécnico do Porto. Ao JPN, os realizadores Eduardo de Oliveira e Maria Ana Marques, referiram que o cinema de animação em Portugal está “bastante consolidado”. Acrescentaram, no entanto, que não há muitos estudantes a seguir esse trajeto.

Eduardo de Oliveira e Maria Ana Marques, realizadores de “Jornada de Papel”. Foto: Mafalda Barbosa

O futuro do cinema português aponta alguns problemas ao presente. Sobre o crescimento da sétima arte em Portugal, Inês Paredes afirma que está a acontecer em “passinhos de bebé”. Já Eduardo Cruz reforça a importância de “apoiar o que é feito cá, que é normalmente feito com muitas limitações”. Maria Ana Marques resume o sentimento dos novos cineastas: “Não é fácil fazer cinema”.

A sessão contou também com a apresentação do thriller “Refém”, da curta experimental “Skull 2”, o filme-poema “Fruta Tocada por Falta de Jardineiro” e “Misericórdia”, uma curta que nasceu para acompanhar a música composta por João Pedro Pinto.

A sessão foi encerrada com “Meu Castelo, Minha Casa”, de José Mira, a única curta-metragem extra-concurso. Para o Prémio do Cinema Português está ainda nomeada a longa-metragem “Amelinda”, de Miguel Gomes, exibida no dia anterior.

O 42.º Fantasporto começou no dia 1 de abril e permanecerá a preencher as salas do Rivoli até ao próximo domingo, 10 de abril. A sessão de apresentação dos vencedores terá lugar no sábado (9).  No mesmo dia, será apresentado o filme “Everything, Nothing and Something Else” de Marina Kondratiev, filmado nas ruas de Kiev, em homenagem ao povo ucraniano.

Artigo editado por Filipa Silva