O cenário de 2017 volta a repetir-se, mas a distância entre os dois vencedores da primeira volta nunca foi tão curta. Jean-Luc Mélenchon ficou em terceiro lugar, a menos de 2% da candidata de extrema-direita.

Na noite eleitoral, Emmanuel Macron discursou na sua sede de campanha. Foto: Twitter En Marche

Os franceses voltaram este domingo (10) às urnas para eleger o próximo presidente do país. Emmanuel Macron foi o vencedor da primeira volta das presidenciais, alcançando 27,60% dos votos. A segunda candidata mais votada foi Marine Le Pen, que alcançou 23,41% dos votos dos franceses. Os dois candidatos avançam para a segunda volta destas presidenciais e, deste modo, repetem, a 24 de abril, o confronto de 2017.

As sondagens apontam o incumbente como o favorito à conquista do lugar no Eliseu, porém, a margem que o separa de Marine Le Pen é curta. O agregador de sondagens do “Le Monde” estima que Macron poderá ter entre 49 a 55% dos votos, enquanto que Le Pen conquistará entre 45 e 51% dos votos. Por sua vez, o agregador de sondagens do site Politico atribui 53% dos votos ao atual presidente e 47% à candidata de extrema-direita. Em todo o caso, prevê-se que se verifique a menor distância alguma vez registada entre Macron e Le Pen.

No discurso, Macron convidou todos os franceses, independentemente das suas “sensibilidades” e “escolhas na primeira volta”, a unirem-se para “barrar a extrema-direita”. O incumbente manifestou o desejo de convencer os eleitores de que o seu projeto “responde ao medo [dos eleitores] mais firmemente que o da extrema-direita”, e afiança que votar em si é “fazer a escolha da esperança” e “da França e da Europa juntas”.

O presidente agradeceu também aos candidatos que apelaram ao voto em si na segunda volta, nomeadamente a republicana Valérie Pécresse, a socialista Anne Hidalgo, o ecologista Yannick Jadot e o comunista Fabien Roussel. Philippe Poutou, décimo primeiro classificado, também apelou ao voto em Macron, mas de forma indireta, ao defender que “nenhum voto deve ir para a extrema-direita”.

Uma “escolha de sociedade” em jogo na segunda volta

Marine Le Pen a votar na 1.ª volta das eleições francesas. Foto: Twitter Marine Le Pen

Le Pen começou por agradecer ao “povo francês” que lhe “deu a honra de se qualificar para a segunda volta, contra o presidente que está de saída”. A candidata apelou também à união dos eleitores que este domingonão votaram no atual presidente: “juntos vamos construir, com entusiasmo e convicção, uma grande vitória”. Le Pen afirma ainda que “aquilo que estará em jogo a 24 de abril não é só um voto de circunstância, mas uma escolha de sociedade e mesmo de civilização”. Para a segunda volta, Le Pen conta com o apoio de Éric Zemmour e Nicolas Dupont-Aignan, também eles de extrema-direita.

Quem ficou a uma pequena distância de conseguir o acesso à segunda volta foi Jean-Luc Mélenchon. O candidato da esquerda radical ficou em terceiro lugar, com 21,95% dos votos, a menos de dois pontos percentuais de Le Pen. Mélenchon superou as expectativas geradas pelas sondagens, que apontavam para que o candidato ficasse próximo de Le Pen, mas não a uma distância tão pequena. Na reação aos resultados eleitorais, o rosto da França Insubmissa repetiu o seu principal apelo mais do que uma vez: “não devemos dar um único voto à senhora Le Pen!”.

Jean-Luc Mélenchon não passou por pouco à terceira volta. Foto: Facebook Jean-Luc Mélenchon

Éric Zemmour, candidato da extrema-direita que chegou a estar muito próximo de Marine Le Pen nas sondagens, acabou por ficar-se pelos 7%, em quarto lugar do escrutínio. Como seria expectável, Zemmour apelou ao voto na candidata da Reunião Nacional, apesar das diferenças entre ambos: “contra Marine Le Pen, está um homem que fez entrar dois milhões de imigrantes, que não disse uma única palavra sobre segurança nem sobre imigração durante a sua campanha”.

A republicana Valérie Pécresse, que chegou a estar em segundo lugar das sondagens, ficou em quinto lugar com 4,79% dos votos, um resultado inferior ao que a maioria das sondagens previa. A candidata aponta a falta de debate como a principal causa que fez com que “não conseguisse” transmitir a sua mensagem e convencer os eleitores. Apesar das divergências entre os dois programas, Pécresse manifestou a sua intenção de votar “em consciência” em Macron, na segunda volta, “para impedir a chegada ao poder de Marine Le Pen e do caos que de tal resultaria”. Os Republicanos registaram o seu pior resultado numa eleição presidencial, ficando bastante aquém dos 20% de François Fillon em 2017.

Quem também bateu um recorde negativo foi o Partido Socialista. Com Anne Hidalgo a candidatar-se ao Eliseu, o partido não conseguiu chegar aos 2% dos votos nesta primeira volta, ficando em antepenúltimo lugar da votação. Este é agora o pior resultado de sempre dos socialistas em eleições presidenciais, recorde negativo que já tinha sido batido por Benoît Hamon em 2017, com 6,36% dos votos.

Com 97% dos resultados apurados, a abstenção situa-se, por enquanto, nos 25,14%. Apesar de ser superior à da primeira volta de 2017, é um resultado inferior ao registado em 2002, o que contraria a expectativa pré-eleitoral de que seria a votação presidencial menos participada de sempre.

A segunda volta das eleições presidenciais em França acontece a 24 de abril, domingo. Até lá, Emmanuel Macron e Marine Le Pen têm duas semanas para concentrar esforços de campanha e tentar convencer os eleitores que escolheram outros candidatos na primeira volta.

Artigo editado por Filipa Silva