O presidente do Comité Olímpico e os presidentes das federações de ciclismo e de atletismo analisaram a escolha do governo para a pasta da Juventude e do Desporto e definem prioridades para o mandado de João Paulo Correia.

João Paulo Correia tem 45 anos e sucede a João Paulo rebelo no cargo. Foto: João Paulo Correia/Facebook

Com a tomada de posse de João Paulo Correia como novo secretário de Estado da Juventude e do Desporto no XXIII Governo, muitas são as expectativas para a governação do ex-presidente do Clube de Futebol de Oliveira do Douro.

Para além de já ter presidido a um clube, o secretário era, até à sua nomeação, o líder da União das Freguesias de Mafamude e Vilar do Paraíso, em Vila Nova de Gaia, desde 2013, e vice-presidente do grupo parlamentar do Partido Socialista, bem como deputado à Assembleia da República desde 2009.

Todos os entrevistados mostram-se confiantes com a escolha de António Costa para a pasta da Juventude e do Desporto, anteriormente tutelada por João Paulo Rebelo. Na ótica de Jorge Vieira, Presidente da Federação Portuguesa de Atletismo (FPA), João Paulo Correia é alguém “com experiência associativa e um conhecedor do desporto”. “É uma primeira garantia importante”, referiu.

O financiamento no desenvolvimento desportivo

Para o mesmo responsável federativo, um dos principais problemas no desporto é o financiamento. Jorge Vieira realçou que há, “não só no atletismo”, um problema geral no desenvolvimento do desporto. No entanto, salienta também que sem uma “política de financiamento completamente distinta” é impossível conseguir melhorias.

O líder da federação de atletismo refere que é necessário “alargar a prática do desporto a mais jovens e mais cidadãos do nosso país”. “A área infanto-juvenil é uma prioridade e a primeira prioridade é o acesso à descoberta do desporto, de um número alargado de modalidades”. Na visão de Jorge Vieira, há muito que se deixou de ter políticas orientadas especificamente para o aumento de praticantes.

A propósito, na semana passada, a Pordata lançou um relatório no qual constata que Portugal é o país da União Europeia em que menos se pratica exercício físico.

Embora esteja ciente que são necessárias “políticas de base que já se apagaram há muito do vocabulário e do discurso político”, enaltece que “80 e poucos milhões de euros”, a partilhar com a juventude, é financiamento insuficiente para ter “políticas desportivas de expansão e de desenvolvimento”. De referir que em 2021, a Juventude e o Desporto contaram com um financiamento inferior em 10 milhões de euros face ao ano anterior, em que a fatia orçamental foi de 90 milhões de euros.

Para Delmino Pereira, presidente da Federação Portuguesa de Ciclismo (FPC), o “principal problema” recai também sobre o financiamento. Embora a modalidade não tenha pavilhões, “os custos logísticos são muito altos”, refere.

Além disso, as novas variantes do ciclismo nos Jogos Olímpicos, acarretam, em consequência, uma maior despesa,  e a estas acresce os gastos “na realização de eventos na via pública, principalmente ao nível de policiamento”.

Para além destas questões, Delmiro Pereira frisou a “dificuldade acrescida de levar o ciclismo à escola”. Um aspeto que poderá ser alterado nos próximos anos se se cumprirem dois projetos do Ministério da Educação que o “Jornal de Notícias” noticiou este domingo, o “Desporto Escolar sobre Rodas” e o “Ciclismo Vai à Escola” que promete, já a partir do próximo ano letivo, ensinar crianças a andar de bicicleta, quer para deslocações ou modo competitivo.

Urgência da “desburocratização”

Em entrevista ao JPN, José Manuel Constantino, presidente do Comité Olímpico de Portugal, refere que as medidas mais imediatas se prendem com três pontos. Na sua perspetiva, “é preciso, em primeiro lugar, definir aquilo que são as linhas orientadoras do programa de preparação olímpica”.

A dois anos da próxima edição da maior competição do mundo – Paris 2024 -, José Manuel Constantino reforçou que é necessário recuperar o tempo perdido, uma vez que “as eleições antecipadas com queda do governo” fez com que os atletas ainda estejam “a trabalhar com o modelo anterior”.

Um segundo aspeto recai sobre a “necessária desburocratização do funcionamento das federações”. Para o presidente do Comité Olímpico, há uma carga elevada de trabalho administrativo “por força da dependência do financiamento público”. Assim, devem ser encontradas soluções para aliviar essa carga administrativa “atendendo a que uma parte significativa das organizações não dispões de recursos humanos qualificados” para responder às exigências pretendidas.

Por último, José Manuel Constantino falou sobre as questões relativas aos estatuto de agente desportivo benévolo. Segundo o Comité Olímpico de Portugal, é inadiável “procurar o devido equilíbrio entre quem se encontra em regime de benevolato e quem se dedica à atividade a título profissional”.

“Eu creio que o atual secretário de Estado, enquanto deputado, ele que também foi presidente de um clube desportivo, manifestou sempre muita sensibilidade e preocupação com este tema e, naturalmente, aguardo que essa sensibilidade possa agora ser transposta para o plano político”, ressalvou.

Pasta passa para os Assuntos Parlamentares

 O XXIII Governo marcou a passagem da pasta da Juventude e do Desporto do Ministério da Educação – onde estava integrada desde o primeiro governo de António Costa, de 2015 – para o Ministério dos Assuntos Parlamentares, ficando assim, novamente, na dependência direta do primeiro-ministro. Jorge Vieira, da FPA, vê com bons olhos esta mudança e tem esperança que a mesma “venha a refletir uma nova política para a área desportiva”.

Na base desta opinião, o presidente salienta que “o desporto acabou por ficar esquecido num ministério gigantesco [da Educação]”.

Para José Manuel Constantino, do Comité Olímpico, esta passagem “é, do ponto de vista da hierarquia governamental, uma promoção para o próprio desporto do ponto de vista formal”. Agora, segundo o presidente, falta saber se esta subida se pode “também traduzir num peso mais significativo da agenda desportiva na agenda da governação”.

João Paulo Correia tomou posse a 30 de março, num governo que conta com 17 ministros e 38 secretários de Estado, sendo o  23.º da democracia portuguesa. 

Artigo editado por Filipa Silva