A Galeria Energia é o novo projeto da Galeria Municipal do Porto (GMP). Um programa cultural fora de portas no qual entram a ciência, a música, a natureza e, claro, a arte. A entrada é gratuita e a primeira edição vai durar até à Primavera de 2023, altura em que a GMP reabre as portas ao público.
A cultura é uma união entre arte, ciência, música e natureza, pelo menos na Galeria Energia. Este é o primeiro projeto da nova direção artística da Galeria Municipal do Porto (GMP), que tem Filipa Ramos ao leme desde o início deste ano.
Em conversa com o JPN, a nova diretora disse que o programa de encontros públicos assenta em dimensões que “dialogam entre si e se cruzam – a cultura acaba por ser o local onde estes modos se encontram”.
De uma conceção sobre a energia como algo que nos une, construiu-se um programa cultural que reúne artistas, cientistas, escritores, músicos e poetas, em conferências, concertos, passeios e workshops que terão lugar em espaços variados da cidade, até porque a GMP está, desde fevereiro, encerrada para obras de reabilitação.
Para Filipa Ramos, este ano vai ser “uma ocasião para perceber o que se pode estabelecer com os públicos da cidade. A necessidade e o desejo para este tipo de eventos”.
Oito sessões na agenda até setembro
Da Galeria Energia, que se vai estender até à Primavera de 2023, já é conhecida a programação até setembro. Há oito sessões já agendadas, à volta de quatro linhas temáticas: “Ciência é Arte”, “Imaginários”, “Concertos Comentados” e “Pastos e Pastos”.
A primeira sessão aconteceu na última sexta-feira (8) sob o mote “A Ciência do Medo”, onde as questões foram diversas: Como é disseminado o medo? Como funcionam os mecanismos de defesa perante uma situação de risco e qual a sua influência no comportamento animal? E como é que o contexto determina a reação dos organismos ao perigo? Foi a isto que Marta Moita, investigadora principal de neurociências comportamentais na Fundação Champalimaud em Lisboa, procurou responder neste primeiro encontro.
A próxima sessão está marcada para 29 de abril, e inclui-se no tema “Imaginários”. Esta secção do programa tem o objetivo de estimular questões que podem influenciar a maneira como concebemos o que está para vir. A conferência “Like Lichens Listen” será conduzida por Teresa Castro, no Auditório da Biblioteca Municipal Almeida Garrett (BMAG). A professora de Estudos de Cinema na Sorbonne Nouvelle em Paris estuda a relação entre cinema e animismo, ecocrítica e vida vegetal. A projeção da videoinstalação com o mesmo nome da conferência, da autoria de Silvia Maglioni e Graeme Thomson, inclui-se na sua apresentação, que pretende criar uma reconexão com o mundo.
A 28 de maio, no estúdio de gravação Arda Recorders, a conversa já é outra. A música passa a ser o mote condutor das sessões, ao introduzir a secção de “Concertos Comentados”, que têm como objetivo a partilha de influências e referências estéticas e musicais.
“Sun Oddly Quiet”, álbum lançado pelo percussionista João Pais Filipe em 2020, dá nome ao primeiro concerto, durante o qual este “escultor de sons” irá apresentar o seu processo de criação e exploração através dos instrumentos de percussão que sua e que constrói. Inerentes nos sons que produz, ouvem-se memórias das suas viagens por outros continentes.
O evento a seguir integra-se também nos “Concertos Comentados”. No dia 19 de junho, na Concha Acústica dos Jardins do Palácio de Cristal, é a vez do duo Invernomuto orquestrar as sessões, para apresentarem o álbum “Black Med, Capítulos IV & VI”, que interceta trajetórias sónicas que cruzam o Mediterrâneo, registando o seu movimento e absorvendo as suas narrativas.
Uma das vozes do pensamento contemporâneo marca presença, no dia 22 de junho, no auditório da BMAG, para mais uma sessão do programa “Imaginários”. Saidiya Hartman, escritora e académica de estudos afro-americanos, é professora de inglês e de literatura comparada na Universidade de Columbia em Nova Iorque e guiará a conversa.
“A História Recontada” é uma oportunidade para ouvir histórias não contadas sobre vidas negras. A escritora desenvolveu o método de “fabulação crítica”, que “combina pesquisa histórica e de arquivo com teoria crítica e narrativa ficcional”, lê-se no site da Galeria. Aqui, a força da imaginação é a arma para combater “vozes e pontos de vista académicos brancos”.
No dia 9 de julho, o trilho já é por vários espaços da cidade, incluindo no périplo o Mercado do Bolhão, e sempre sem esquecer a ligação com a natureza. A “ação participativa” batizada de “Plantas Insubmissas”, integrada no programa “Pastos e Pastos”, será da responsabilidade d”A Recoletora”, organização que junta botânicos, nutricionistas, chefs, artistas e designers. A ideia é pesquisar, catalogar e mapear plantas silvestres comestíveis espalhadas pela cidade, com o objetivo último de vir a reintegrá-las nas nossas dietas e hábitos alimentares.
O próximo evento do calendário insere-se no “Ciência é Arte”, designa-se por “A Amiga da Onça” e conta com a participação da poeta, artista e investigadora do Instituto de Biologia e Medicina Experimental de Buenos Aires, Patricia Saragüeta, que se dedica ao estudo da regulação hormonal do aparelho reprodutor feminino.
O encontro já está marcado para 22 de julho, na Galeria da Biodiversidade, no Jardim Botânico, onde será feita uma reflexão sobre a “importância de estudar os aspectos 3D do ADN endometrial para compreender e melhorar a reprodução e conservação entre humanos e onças”.
Para já, o programa encerra com um concerto comentado, pela produtora e DJ Nkisi. A música eletrónica que produz junta ritmos africanos, os maneirismos agressivos de dança europeus e melodias do sintetizador. A apresentação está integrada no projeto The Secret Institute e designa-se de Invisible Gestures (Gestos Invisíveis).
Combina-se o estudo do movimento das mãos como modo para invocar “forças ancestrais da natureza e do cosmos”, numa performance improvisada, estimulada por variados ritmos e sons, que terá lugar de novo na Concha Acústica do Palácio de Cristal, a 30 de setembro.
Este primeiro ciclo da Galeria Energia termina, como se disse, na Primavera de 2023, altura em que a GMP deverá reabrir as portas ao público.
A entrada em todos os eventos é gratuita, sendo necessário fazer um levantamento dos bilhetes (dois por pessoa) até 15 minutos antes. É aconselhada também a reserva prévia através do e-mail [email protected].
Artigo editado por Filipa Silva