“Tudo o que de mau que está a acontecer pelo mundo tem envolvimento iraniano”, indicou o embaixador de Israel em Portugal, Dor Shapira, ao falar aos estudantes da Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho, durante uma sessão na quinta-feira passada (07) na Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho (UM).

Na sessão, que teve como tema os “Desenvolvimentos no Médio Oriente”, o embaixador expressou as suas opiniões acerca de questões geopolíticas atuais referentes ao Irão e Palestina, aos Acordos de Abraão, à aliança com os Estados Unidos, bem como à guerra da Ucrânia. O diplomata mencionou, também, os avanços tecnológicos que Israel desenvolveu nos últimos 75 anos. 

Sobre as ambições nucleares do Irão, Dor Shapira disse que as atitudes do Teerão são uma ameaça não apenas a Israel, mas a todo o Médio Oriente. “Nenhum de nós sabe o que eles farão com uma arma nuclear, nem podemos pensar no risco que eles podem representar caso consigam isso”, afirmou. A comunidade internacional tenta chegar a um acordo com o Irão desde 2015, quando o país árabe concordou em diminuir as reservas de urânio enriquecido em troca da suavização das sanções impostas conjuntamente pelos Estados Unidos, União Europeia e pelo Conselho das Nações Unidas (ONU). 

Contudo, em 2018, o então presidente norte-americano, Donald Trump, alegou que o tratado era insuficiente e retirou os Estados Unidos das negociações. A decisão americana foi seguida de uma restituição das sanções e do consequente abandono por parte dos árabes de parte dos seus compromissos. O assunto voltou a ser discutido no início de 2022, sem a presença da potência americana e com duas exigências do Irão: o levantamento de todas as sanções e uma garantia de que os EUA não deixarão novamente o acordo. 

Mesmo sendo o principal inimigo do Irão, o governo de Israel declarou previamente que não ficaria “legalmente vinculado” aos islâmicos em função do acordo. “Israel não está a propor nenhum tipo de conversa, nem acordos. Nós só queremos ter a certeza que podemos chegar ao melhor tratado, porque assinar algo que não seja o ideal coloca-nos em um imenso risco e isto é algo que não podemos aguentar. Todavia, no momento, não parece que a melhor opção esteja sendo acordada”, reiterou o embaixador israelita. “Viver num mundo que tal país tem tal arma é um grande não para nós”.

A Cimeira de Negev

O diplomata israelita mencionou, ainda, a Cimeira do deserto de Negev – um fórum sem precedentes que reuniu pela primeira vez na história ministros de Israel, Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Marrocos e Egito. De acordo com Shapira, o encontro “foi um ótimo exemplo para observar as diferenças daqueles países liderados por Israel e outros que querem promover a paz, e aqueles que são liderados pelo Irão e que estão procurando terror e destruição”.

A cimeira realizou-se no fim do mês passado na cidade de Sde Boker, no sul de Israel, e teve como objetivo arquitetar um plano regional defensivo frente à ameaça iraniana. Os ministros do Médio Oriente discutiram meios para proteções nucleares e de cibersegurança, bem como soluções contra ataques de drones – frequentes na região. O fórum também deu seguimento às conversas estabelecidas em 2020 pelos Acordos de Abraão, que marcou oficialmente o tratado de paz entre os Emirados Árabes Unidos e o Estado de Israel. 

“Esses acordos de paz são muito importantes e estão a mudar verdadeiramente a região. Mostra que estamos a evoluir para o caminho certo e isso é uma coisa muito positiva”, reconheceu. “Esta é uma mensagem forte que transmitimos, para o Médio Oriente e para o mundo. Se quiser estar no lado certo da história, se se importa com o seu povo, com o futuro do seu país, precisa estar deste lado, e não do outro lado, que só procura destruição, guerra, terror”. 

Tanto a Cimeira de Negev quanto o Acordo de Abraão contaram com a mediação dos Estados Unidos. Para Dor Shapira, a aliança entre americanos e israelitas é “a relação mais importante” entre os países e permanecerá assim “para sempre”.

“Independentemente de quem seja o primeiro-ministro de Israel ou o presidente dos Estados Unidos, foi sempre assim e sempre será assim, devido aos valores comuns e a história que temos entre os países. E os Estados Unidos vão continuar a ser o aliado mais importante de Israel e Israel vai continuar a ser o aliado mais importante dos Estados Unidos. Não se trata dos líderes, é algo maior do que isso e vai continuar a ser assim para sempre”, referiu o embaixador ao JPN numa entrevista à margem da sessão.

Palestina: um conflito infindável 

Quanto às tensões entre os árabes e os judeus, o embaixador disse que é “preciso achar formas de vivermos juntos e fazê-lo da melhor maneira”, e mencionou que a falta de confiança é um problema que permeia todos os anos de conflito. “Precisamos trabalhar ainda mais para construir a confiança entre os dois lados e isso é algo que o governo de Israel está a tentar fazer. Tentamos garantir que os palestinos larguem as armas e abandonem o caminho do terror e tentem trabalhar juntos para melhorar para ambos os países”, disse.

A violência tem aumentado na região. Nos últimos dez dias de março, quatro ataques contra judeus foram registados. Os dois primeiros foram reivindicados pelo Estado Islâmico, enquanto o terceiro criminoso pertencia ao Fatah – movimento de libertação da Palestina. Ao fim da semana, que foi a mais mortal desde a Segunda Intifada, 11 pessoas morreram e a polícia foi colocada em estado de alerta pela primeira vez desde os conflitos na Faixa de Gaza. 

“Ninguém precisa de me explicar porque é importante ter paz entre os povos. Eu preciso de mandar os meus filhos para o exército. A minha filha mais velha está no 11.º ano e em um ano e meio ela vai estar no exército. Depois dela, eu tenho outros três filhos. Eu não quero que eles lutem, mas nós temos que fazer isso. O nosso país precisa deles”, contou Shapira.

“Apoiamos a Ucrânia a 100%”

O estourar do conflito entre Rússia e Ucrânia foi marcado pela tentativa israelita de manter um papel de mediador entre os dois países. Durante as primeiras semanas da ofensiva, o primeiro-ministro israelita, Naftali Bennet, realizou chamadas telefónicas e reuniu-se com o presidente russo, Vladimir Putin, em Moscovo. 

No fim de março, o chefe de Estado ucraniano, Volodymyr Zelensky, indagou, no decorrer do seu discurso ao parlamento hebreu, os motivos pelos quais Israel decidiu não impor sanções à Rússia e pediu que o país tomasse uma decisão. “A Ucrânia fez a sua escolha há 80 anos e temos entre nós os justos que esconderam judeus, é hora de Israel fazer a sua escolha (…), indiferença mata”, disse Zelensky.

Contudo, apesar da pressão internacional, Dor Shapira assegurou que o país está a apoiar a Ucrânia a “100%” e que “já sabia em que lado estava desde o dia 1”.  “Nós estamos a rejeitar essa guerra e agressão russa. Estamos a apoiar a Ucrânia através do maior número possível de ajuda humanitária que podemos dar. Israel é o único país até agora que abriu hospitais militares dentro da Ucrânia. E eu não tenho conhecimento de nenhum outro país que fez algo parecido, porque a resposta é não”. 

A Hadassah Medical Organization (HMO) foi uma das organizações de saúde israelitas que enviou equipas de apoio à Ucrânia. A HMO, juntamente com o Ministério da Saúde e a Sheba Medical Center, montou um hospital de campanha em Lviv com maternidades e enfermarias pediátricas. 

Nação ‘startup’

O embaixador Dor Shapira mencionou, também, o desenvolvimento de Israel durante as últimas sete décadas e afirmou que a tecnologia encontrou um fértil terreno na Terra Santa. “O Médio Oriente é dividido por dois tipos de países: aqueles com solo petrolífero e aqueles com solo santo”, disse. “A tecnologia mudou o nosso país completamente”.

Agora, a nação, que era maioritariamente conduzida pelos lucros no mercado agrícola, passou a ser o centro com o maior concentração de startups per capita do mundo. “Nós fomos um país que foi baseado em agricultura, e é bom ter agricultura pelos primeiros anos, mas o que fazemos depois? Como fazemos para isso ser mais relevante?”, indagou. “Então, nos anos 90 mudamos para a tecnologia. Nós costumávamos exportar, para todo o mundo, laranjas – chamadas jaffa. Então, há 30 anos mudamos das ‘Jaffas’ para ‘Java’ [linguagem de programação]”. 

Segundo Shapira, outro marco de Israel foi durante a COP 26 de Glasgow, na qual a delegação israelita era a segunda maior da conferência. O diplomata explicou que a  razão por trás disso foi a presença da comunidade de empresários de Israel, que foram enviados para entender os problemas e posteriormente desenvolver soluções. “Você não ficaria surpreso se, de agora em diante, visse mais e mais companhias israelitas nesse setor”, termina.

Artigo editado por Tiago Serra Cunha