Apesar da maioria dos docentes ter doutoramento e formação académica ajustada às unidades curriculares que lecionam, um estudo apresentado no dia 8 de abril pela EDULOG vem revelar falhas na formação dos profissionais da Educação em Portugal. A conclusão deste estudo, que visa expor as características académicas e profissionais dos docentes encarregados da formação inicial de professores dos ensinos básicos e secundário, é de que um em cada três professores têm perfis académicos desajustados às componentes de formação.

Em resposta à situação constatada no estudo “Perfil académico e profissional de professores do ensino superior que asseguram a Formação Inicial de Professores”, o EDULOG propõe políticas de reconhecimento da Formação Inicial de Professores, “criando condições de desenvolvimento profissional que lhes permita aprofundar os conhecimentos sobre as práticas do ensino supervisionado, ao mesmo tempo que se criam condições de envolvimento dos estudantes, em estágio, em atividades de investigação sobre a prática docente”, conforme explica em comunicado.

As fragilidades no setor da Educação em Portugal

Para este estudo, foram analisados todos os cursos que asseguram a Formação Inicial de Professores, de instituições públicas e privadas, acreditados pela Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior (A3ES), totalizando um total global de 1.736 docentes que asseguram o ensino de 2.878 unidades curriculares. Destes, 1.260 estão associados a 2.040 unidades curriculares de cursos lecionados em instituições de ensino superior público e outros 476 associados a 838 unidades curriculares de cursos em instituições de ensino superior privadas.

A investigação contou com o envolvimento do Centro de Investigação e Intervenção Educativas (CIIE) da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto (FPCEUP) e com resultados obtidos através da análise de 148 cursos.

Para além da questão dos perfis académicos desajustados, a investigação conclui também que muitas das instituições de ensino superior analisadas não têm aberto concursos para que possam cumprir as indicações legais para a progressão de carreira, o que, segundo a instituição, “pode significar um indicador das dificuldades financeiras vividas neste setor”.

O estudo revela também que a maior parte dos docentes tem ligação a Centros de Investigação, no entanto, o seu volume médio de publicações de artigos é baixo.

A importância do reconhecimento da Formação Inicial de Professores

Perante estes resultados, o EDULOG defende que a solução reside na Formação Inicial de Professores, devendo a investigação “servir como ponto de partida para uma reflexão mais alargada sobre a importância” desta formação, admite David Justino, membro do Conselho Consultivo do EDULOG.

Assim sendo, este conselho defende que as instituições de ensino superior com cursos na área de Formação Inicial de Professores devem investir na progressão da carreira académica e “oferecer condições aos docentes para o envolvimento em projetos relacionados com esta área de ensino, assim como para a produção científica e investigação”.

Cabe, também, à instituição de ensino responsável pelo desenvolvimento dos cursos de Formação Inicial de Professores encontrar formas de envolvimento institucional ativo dos docentes sem formação académica de base educacional, em atividades de desenvolvimento profissional relacionadas com o exercício da docência nos níveis escolares para os quais estão a formar.

O EDULOG propõe ainda a ampliação dos protocolos de cooperação entre as instituições de ensino superior e as escolas cooperantes a processos institucionais de trabalho coletivo, de modo a evitar o isolamento da relação dos professores cooperantes no seu relacionamento apenas com os estagiários.

EDULOG, o “think tank” da Fundação Belmiro de Azevedo

Considerado o “think tank” da Fundação Belmiro de Azevedo, o EDULOG é uma iniciativa que pretende “contribuir para a construção de um sistema de educação de referência através da investigação científica com base da compreensão dos desafios da Educação; a partilha e a discussão dos resultados de investigação e a informação das políticas públicas para a inovação e a mudança na Educação”.

O seu Conselho Consultivo, responsável pela orientação e a definição de prioridades, conta com nomes como Isabel Alçada, Alberto Amaral, António Barreto, David Justino, Isabel Leite, João Filipe Queiró, José Côrte-Real e José Novais Barbosa. Daniel Carvalho é o Secretário-Geral da instituição, assegurando a sua gestão administrativa e operacional.

A ação da Fundação Belmiro de Azevedo centra-se na promoção da Educação, apoiando nomeadamente projetos educativos que promovam a inclusão social e a igualdade de oportunidades. Para tal, a fundação institui bolsas de estudo e prémios de mérito. 

Artigo editado por Tiago Serra Cunha