Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD) e a Ordem dos Psicólogos estão a promover o reforço de apoio psicológico nas universidades e politécnicos, em resposta ao impacto negativo da pandemia na saúde mental dos estudantes. As instituições já se podem candidatar ao programa, que pretende apoiar o desenvolvimento de três projetos que contribuam para uma menor incidência dos problemas de saúde mental entre os estudantes.

Ao JPN, o bastonário da Ordem dos Psicólogos, Francisco Miranda Rodrigues, explica que, normalmente, é no ensino superior que surgem os primeiros sinais associados a problemas ao nível da saúde mental. “A integração no ensino superior, novas redes de relações, a eventual passagem para o mercado de trabalho são alguns dos desafios que os estudantes universitários têm de passar”, esclarece o bastonário, sublinhando que é crucial trabalhar do ponto de vista preventivo “com ações de integração logo nos primeiros meses de entrada no ensino superior e com projetos que promovam a saúde mental”.

No lançamento do programa, na passada segunda-feira (11) em Lisboa, a ministra da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Elvira Fortunato, salientou a importância das instituições em criar e fortalecer serviços de psicologia e saúde, através da promoção do bem-estar e realização de consultas aos alunos. Acrescentou ainda que o estímulo da literacia nesta área deve começar a espelhar-se de forma mais expressiva dentro do ensino superior.

Para a ministra, este projeto acaba por ser “uma oportunidade crucial para intervir nos casos já detetados entre os estudantes do ensino superior, mas também para travar o escalar de situações que podem ser previamente prevenidas”, mostrando a sua total confiança na iniciativa.

Durante a sessão de apresentação, citaram-se dados recentes que revelam que cerca de um quarto dos estudantes universitários mostra sinais de depressão e metade apresenta sintomas moderados ou graves de ansiedade. Com a crise pandémica, o estado de saúde mental de mais de metade dos alunos piorou. Esta “situação preocupante” foi uma das razões que levou a Ordem dos Psicólogos a criar este projeto.

No entanto, Francisco Miranda Rodrigues aponta outras: “os psicólogos existentes no ensino superior são um rácio muito reduzido, por isso não há recursos suficientes e a maior parte das vezes esses profissionais acabam por ser colocados a fazer apenas e só consulta. Essa não deveria ser a prioridade num contexto de ensino superior”.

Programa vai financiar três projetos no próximo ano letivo

Durante um ano letivo, a FLAD e a Ordem dos Psicólogos vão apoiar três projetos através de um financiamento de até 100 mil euros. É obrigatório que pelo menos um dos projetos financiados seja do interior do país.

As candidaturas vão estar abertas até 19 de junho e as instituições selecionadas para receber o apoio no ano letivo 2022/2023 vão ser conhecidas um mês depois. Podem concorrer projetos desenvolvidos por serviços de psicologia ou por serviços de saúde das instituições de ensino superior que incluam pelo menos um psicólogo na equipa.

O objetivo é que a participação ativa das universidades e politécnicos colabore na promoção da literacia em saúde mental, facilite o acesso a cuidados especializados e desenvolva ferramentas e competências socio emocionais fundamentais a todos os estudantes.

Segundo Francisco Miranda Rodrigues, atualmente, as competências socio emocionais são as mais procuradas no mercado de trabalho. “Trabalho em equipa, interpessoal, auto-relação emocional, assertividade, resolução de problemas, são competências que fazem a diferença tanto no mercado de trabalho, como na aprendizagem e na adaptação ao mundo face aos desafios que temos de enfrentar”, clarifica o psicólogo ao JPN.

Projetos como estes beneficiam mais do que apenas os estudantes. Francisco Miranda Rodrigues frisa que as instituições beneficiam “de imediato” com a aposta no apoio psicológico, uma vez que se reduzem os números de abandono escolar no primeiro ano de curso, “que são relativamente elevados em Portugal”. Para além disso, estudantes mais saudáveis, mais integrados, preparados e bem-sucedidos favorecem as suas famílias, a economia e “portanto estamos a melhorar a sociedade no seu todo”.

Na ótica do bastonário da Ordem dos Psicólogos, a possível renovação deste programa a mais anos depende da qualidade das candidaturas existentes e dos resultados esperados para o próximo ano letivo.

Artigo editado por Tiago Serra Cunha