A Universidade do Porto atribuiu o centésimo título de Doutor Honoris Causa à escritora canadiana, por proposta da Faculdade de Letras. No fim do evento, em declarações aos jornalistas, a autora de "A História de Uma Serva" demonstrou o seu apoio à Ucrânia, cuja situação tem "acompanhado todos os dias".

A escritora canadiana é a 100.ª personalidade a ser distinguida com este título pela Universidade do Porto. Foto: Egídio Santos/U.Porto

O Salão Nobre da Reitoria da Universidade do Porto (UP) recebeu, esta sexta feira (22), a cerimónia de atribuição do Doutoramento Honoris Causa à autora canadiana Margaret Atwood. Para além da escritora, estiveram presentes António de Sousa Pereira, Reitor da UP, Fernanda Ribeiro, Diretora da Faculdade de Letras (FLUP), a madrinha, Fátima Vieira, e o escritor argentino-canadiano Alberto Manguel, que leu o Elogio.

Ao longo do seu discurso, Manguel deu a conhecer alguns factos sobre a vida de Atwood, que faziam adivinhar um futuro promissor na área da literatura desde muito cedo. “[Margaret Atwood] Escreveu os primeiros poemas ainda antes dos seis anos. Só frequentou a escola a tempo inteiro a partir dos 12 anos e, depois, já adolescente, começou a distinguir-se enquanto poeta com uma voz incisiva, irónica e inconfundivelmente pessoal“.

O escritor ressaltou ainda a importância da escritora na construção da consciência cultural canadiana: “Margaret Atwood dispôs-se a construir uma consciência cultural do Canadá. Em ‘Survival’, livro revolucionário na altura e hoje um clássico, Atwood define a cultura do Canadá em termos da sua relação com a natureza e através da presença constante da heroína, vítima, protagonista, que vê como característica da identidade nacional”.

O ativismo de longa data da autora em defesa de diversas causas sociais, entre as quais se destacam os direitos das mulheres e o bem-estar do planeta também foram comentados por Alberto Manguel. “Quase 35 anos depois da primeira edição, o romance [“A História de Uma Serva”] alcançou em várias partes do mundo, o estatuto de grito de batalha; um espelho ligeiramente exagerado das injustiças da sociedade atual”.

Cerimónia contou com um Elogio proferido por Alberto Manguel, além de um interlúdio musical. Foto: Margarida Guerreiro/JPN

Ao Elogio seguiu-se um interlúdio musical, executado pela Ópera Aberta da Universidade do Porto, com a direção artística do maestro António Sérgio e a soprano Anita Silva. A professora Fátima Vieira, madrinha de Atwood, fez o pedido de atribuição do título Honoris Causa, ao qual o Reitor da UP acedeu, formalizando-se o processo.

A cerimónia encerrou com um agradecimento simples de Margaret Atwood, feito em português: “muito obrigada à Universidade do Porto por este Doutoramento”. Já em inglês, a autora afirmou sentir-se muito honrada e elogiou a cidade do Porto. “É uma cidade linda que adorei visitar. Obrigada por esta memória maravilhosa”, disse. O discurso terminou com a leitura do poema “The Moment”.

No átrio da Reitoria, houve um momento para cumprimentar a escritora e falar sobre a atualidade. Margaret Atwood salientou a atual situação de guerra na Ucrânia, referindo que acredita que as histórias da guerra “serão escritas por pessoas ucranianas”. A autora aproveitou o momento para manifestar o seu apoio à Ucrânia: “sabemos que isto é uma guerra entre a democracia liberal e o totalitarismo e estamos todos do lado da democracia liberal”. Acrescentou que o desenrolar da guerra tem sido “inesperado” e que “a Ucrânia tem estado a sair-se muito bem”.

No final da cerimónia, Atwood cumprimentou os presentes no átrio da Reitoria. Foto: Margarida Guerreiro/JPN

A UP evocou “a extraordinária qualidade da obra literária [de Atwood], a importância da sua reflexão intelectual e a pertinência do seu combate público por uma sociedade mais justa, digna e sustentável” como principais motivos para a atribuição do Doutoramento Honoris Causa, referidos na proposta da FLUP.

Aos 82 anos, Margaret Atwood é uma das figuras de maior relevo da literatura internacional. A escritora canadiana ganhou reconhecimento com o romance “A História de Uma Serva” (“The Handmaid’s Tale”, no original), editado em 1985. É responsável por mais de 50 obras, em diversos géneros literários.

Artigo editado por Tiago Serra Cunha