Depois de dois anos de espera e incerteza para os festivais de música de verão, o regresso aos palcos está finalmente marcado. Roberta Medina, responsável pelo Rock in Rio, explica ao JPN que a logística foi “diferente de outros anos”, mas espera uma edição “com mais celebração e consciência”.

“Tudo indica que, em 2022, os festivais vão voltar a realizar-se sem restrições, com um plano de contingência”. Esta é a expectativa de João Carvalho, diretor do Paredes de Coura e também responsável pela organização do Primavera Sound. Depois de dois anos praticamente parados, os festivais de verão regressam agora em força, numa altura com menos restrições, mas em que continuam a ser precisos cuidados e “consciência”.

João Carvalho. Foto: Facebook

No que à segurança e higiene diz respeito, os parâmetros vão continuar tão minuciosos como em anos anteriores, não havendo a necessidade de fazer grandes mudanças, explica João Carvalho ao JPN.

“Sempre fomos conhecidos por termos festivais que se preocupam com o bem-estar e a saúde das pessoas, ou seja, se até agora tínhamos esse cuidado e não havia nenhuma pandemia, vamos obviamente continuar a ter. Temos cuidado com a higiene, temos um posto médico permanente como sempre tivemos”, relembra o organizador do Paredes de Coura.

Roberta Medina, responsável pela organização do Rock in Rio Lisboa, pondera algumas medidas para a próxima edição do festival que nasceu no Brasil. Quatro anos depois dos últimos concertos no Parque da Bela Vista, em Lisboa, aquele que é um dos maiores festivais de música do país começa a preparar mais dois fins de semana com cartaz repleto.

Roberta Medina. Foto: Divulgação

A vice-presidente do Rock in Rio pondera, por exemplo, a existência de mais postos de desinfeção de mãos, mas admite que ainda não existe uma grande preocupação a esse respeito.

“São coisas que ainda não vale a pena serem discutidas porque muda tudo muito depressa. Um grande evento como o Rock in Rio já tem uma quantidade tão grande de normas e regras que isto não faz qualquer diferença [na organização]”, explica, em declarações ao JPN.

No entanto, ainda que a pandemia tenha mudado pouca coisa para as edições que agora se vão realizar, a nova ameaça da guerra fez tem tido consequências de uma ponta à outra da Europa.

Os organizadores confessam que, inesperadamente, este tem sido o maior entrave à organização dos festivais.

Roberta Medina fechou forçosamente os contratos para o abastecimento de matérias-primas e montagem de infraestruturas já em novembro de 2021, de forma a garantir a entrega dos serviços. Mas nem sempre foi assim. “Noutros anos, era possível inventar e fazer algo novo a qualquer momento. Hoje já não dá, porque os fornecedores não estão estruturados da mesma forma. Toda a cadeia produtiva está fragilizada e as opções são muito limitadas”, explica a responsável pelo Rock in Rio.

Já João Carvalho acrescenta que “ficou tudo mais caro”. “Os combustíveis estão mais caros, assim como os recursos humanos, o ferro e a madeira. Os custos aumentaram cerca de 30%, o que, num orçamento de infraestruturas que rondará os 2 milhões de euros, é significativo”.

Rock In Rio Lisboa

Rock In Rio Lisboa é um dos maiores festivais de música em Portugal. Foto: Rock In Rio/Flickr

Ricardo Brumão, diretor da Associação Portuguesa de Festivais de Música (APORFEST), considera que “por parte do público existe uma grande vontade de estar próximo”, mas, em conversa com o JPN, teme as consequências da pandemia e da guerra na organização das edições deste ano.

“Nem toda a gente manteve o mesmo nível económico. Quando estamos sempre a ver notícias sobre a guerra, é normal haver alguma incerteza, algum receio de como podemos ser afetados e isso leva a que as pessoas se retraiam nos consumos, por exemplo”, diz.

Apesar de tudo, João Carvalho garante que o objetivo para 2022 é “fazer algo histórico” nos festivais pelos quais está responsável. Para isso, cada festival fez esforços no sentido de trazer novidades e “oferecer mais” ao público. “No caso específico do Paredes de Coura, vai ter mais um dia, inteiramente dedicado à música portuguesa. Vão ser cinco dias de ‘sobe à vila’ e quatro dias de palco principal – ou seja, no total, o Paredes vai ter nove dias”, diz.

A “Cidade do Rock”, por sua vez, terá novas áreas de lazer, como é o caso do Chef’s Garden, da Game Square, o ECS Online Sports Bar. Para além destas novidades, alguns elementos já conhecidos pelo público também chegam renovados. É o caso da roda gigante – “é possível escolher a música que se vai a ouvir e enquanto se anda estamos a concorrer a prémios”, refere a organizadora.

Ainda que seja um ano de celebração e alegria, o regresso também vai ficar marcado pela reflexão. No Digital Stage, Roberta Medina quer abordar a “inclusão e comportamento no mundo digital, para as pessoas perceberem que o que fazemos online também tem impacto na vida real”. No Rock in Rio também vão existir conversas sobre transição energética e sustentabilidade, que serão debatidos “com humor, com música e com diversão”.

No Paredes de Coura, a saúde mental vai ganhar um lugar de destaque: “1uero criar um espaço onde as pessoas possam refletir, possam falar com especialistas, possam descobrir-se”, conta João Carvalho.

Apesar dos percalços criados pela realidade atual, os dois responsáveis pelos festivais partilham de uma expectativa: que 2022 seja um regresso “ternurento” aos festivais de verão.

João Carvalho espera “que as pessoas se divirtam, que não haja incidentes e que seja o festival dos abraços, dos afetos, das emoções. Acima de tudo, queremos esquecer o pesadelo da guerra e da pandemia”, remata.

Artigo editado por Tiago Serra Cunha