O surgimento de associações de católicos LGBTI+ e as recentes declarações anti-discriminação do Papa Francisco mostram um esforço convergente em integrar a comunidade na Igreja. No entanto, enquanto os clérigos sublinham o caminho percorrido, a comunidade LGBTI+ ainda reza para que "amar o próximo" não seja pecado.

“Amarás o teu próximo como a ti mesmo” [Mateus 22:37–39]. Apesar da mensagem do segundo grande mandamento de Jesus, os membros da comunidade LGBTI+ ainda não conquistaram um espaço de plena igualdade no seio da Igreja Católica

Embora tenham vindo a surgir, inclusive em Portugal, associações que promovem a integração de pessoas LGBTI+ católicas na Igreja, a sexualidade de cada um ainda pode ser uma barreira. Mas se uns desistem de exercer a sua fé, há quem veja na contrariedade a missão de conquistar algo maior: um lugar igualitário.

O JPN falou com pessoas LGBTI+ que estiveram ou continuam a estar ligadas à Igreja Católica. Ainda que com histórias distintas, todos concordam que ainda há um longo caminho a percorrer até que a comunidade consiga um lugar na Igreja sem ser olhada de lado.

Atualmente, a posição da Igreja segue uma lógica de condenar o pecado e não o pecador. Nos últimos anos, têm-se verificado mudanças na narrativa das autoridades católicas – entre as quais o Papa Francisco – no sentido de transmitir mensagens mais progressistas de não-discriminação da comunidade LGBTI+. No entanto, pessoas que não sejam heterossexuais continuam a não ter direito a casar ao abrigo da Igreja Católica e, por vezes, a poder exercer trabalho religioso. 

O que diz a Igreja sobre a homossexualidade?

Ao longo do tempo, a posição da Igreja Católica face à homossexualidade foi-se suavizando, sem nunca a aceitar por completo.

Esquecendo eras mais remotas, recuemos ao documento redigido pela Congregação para a Doutrina da Fé, em 1975, intitulado “Pessoa Humana: Algumas questões de ética sexual”. Nele considerava-se que as relações homossexuais seriam “condenadas na Sagrada Escritura como graves depravações” e “consequência triste de uma rejeição de Deus”. No mesmo documento, concluiu-se ainda que “os atos de homossexualidade são intrinsecamente desordenados e que não podem, em hipótese nenhuma, receber qualquer aprovação”.

Onze anos depois, na “Carta aos Bispos da Igreja Católica sobre o Atendimento Pastoral  das Pessoas Homossexuais” já se fala numa “particular inclinação da pessoa homossexual, embora não seja em si mesma um pecado, constitui, no entanto, uma tendência, mais ou menos acentuada, para um comportamento intrinsecamente mau do ponto de vista moral”.

Mais recentemente, em 2021, uma nota da Congregação para a Doutrina da Fé sobre o possível casamento de pessoas homossexuais na Igreja Católica explicava: “Deus não deixa de abençoar cada um de seus filhos. Mas não abençoa nem pode abençoar o pecado”. Na mesma nota, considera-se “ilícita toda a forma de bênção que tenda a reconhecer uniões [de pessoas homossexuais]”.

Papa Francisco apelou à não discriminação da comunidade LGBTI+. No entanto, sublinha que o matrimónio se deve dar entre homem e mulher. Foto: Long Thiên / Wikimedia Commons

Apesar dos documentos escritos, mesmo no seio da Igreja Católica continuam a verificar-se posições evidentemente distintas em relação à homossexualidade. O atual Papa apelou recentemente à não-discriminação de homossexuais, quer pelas suas famílias, quer pela sociedade. “Homossexuais têm direito a fazer parte de uma família”, disse em 2020; no ano passado, reforçou que os pais que vejam “orientações sexuais diferentes nos filhos” devem “acompanhá-los”, em vez de “se esconderem atrás de uma atitude de condenação”.

Em contraste com esta narrativa mais progressista, o Papa emérito Joseph Ratzinger, no seu livro “A verdadeira Europa, identidade e missão”, afirmou que “o conceito de casamento homossexual está em contradição com todas as culturas da humanidade”.

Um caminho gradual. Até quando? Até onde?

Ao JPN, dois padres que aceitaram falar sobre o assunto sublinharam que o processo de aceitação da comunidade LGBTI+ no seio da Igreja Católica tem sido gradual.

Jorge Duarte, padre em Mafamude, Vila Nova de Gaia, fala de um “caminho que se vai percorrendo”. No entanto, admite: “talvez quem se sente marginalizado sinta que é muito lento”. “Há muito caminho a percorrer. A discriminação no dia a dia é algo que realmente ainda existe”, analisa o também assistente religioso do Centro de Produção do Porto da Rádio Renascença. Di-lo, contudo, sem deixar de fazer uma ressalva: “o não discriminar, o respeitar, o acolher uma pessoa com uma orientação sexual determinada, não quer dizer que se concorde com, ou que seja boa essa orientação sexual”, afirmou na entrevista que concedeu ao JPN.

Opinião diversa tem José Maria Gonçalves, que exerce também em Vila Nova de Gaia, mas na paróquia de Canidelo (Santo André). O padre mostra-se “absolutamente convencido” de que o problema da discriminação da comunidade LGBTI+ “vai ser superado rapidamente”. “Com os problemas que se vão colocar ao mundo, um mundo desestruturado e com tantas problemáticas sérias a enfrentar, esta vai ser uma questão menor e que vai encontrar o seu justo lugar no seio da igreja também”, vaticina.

Muito mais crítico é Krzysztof Charamsa, um ex-padre polaco que foi expulso do Vaticano por assumir a sua homossexualidade. “O poder religioso, tal como o do Papa, tem de admitir urgentemente os seus erros e falhas antigas e mudar a sua posição doutrinária e moral em relação à homossexualidade, que já se provou ser falsa e em contradição com os conhecimentos científicos e teológicos atuais”, declarou ao JPN, por escrito.

Krzysztof Charamsa foi expulso do Vaticano quando se assumiu como homossexual. Foto retirada do Facebook de Krzysztof Charamsa

O antigo padre aponta a propósito o documento “Academic Statement on Ethics of Free and Faithful Same-Sex Relationships”, no qual se apresentam e desconstroem várias justificações e argumentos comummente usados pela Igreja na condenação de casais homossexuais.

Charamsa considera que o Papa Francisco convenceu “a opinião pública, a imprensa e as próprias vítimas – o povo católico LGBTI+ – de que está a ‘reformar’ alguma coisa”, mas, na sua opinião, não está. Pelo contrário: “o que realmente faz é o esforço em manter toda a homofobia doutrinária e a discriminação religiosa legal e imoral do povo LGBTI+, ao mesmo tempo que convence hipocritamente as vítimas de que as ‘ama’”, acusa.

LGBTI+ e católico: um ato de contradição?

À primeira vista, ser ativamente católico sem ser heterossexual pode parecer paradoxal. A comunidade LGBTI+ tem lugar na Igreja, mas para muitos apenas se mantiverem a sua orientação em segredo: uns aceitam, outros desistem da fé, mas ainda há quem lute pela inclusão no seio religioso.

Ainda que reconheçam que a sua orientação sexual contrasta com a posição atual da Igreja, há pessoas LGBTI+ que se esforçam por não contrariarem as suas convicções. Acreditam, no entanto, que a mensagem que a instituição católica transmite nem sempre é a mensagem de amor ao próximo que consideram que deveria passar.

Catarina Andrade tem 20 anos, foi acólita dos cinco aos 18 e catequista durante três anos. A jovem açoriana é bissexual e, na sua opinião, não se pode falar num processo de aceitação enquanto a sexualidade de cada um for considerada uma “cruz”.

“A Igreja Católica diz: ‘Está tudo bem! Não faz mal gostares de pessoas do mesmo género. Ou de gostares dos dois géneros’. Mas depois diz assim: ‘tens é que aprender a lidar com a tua cruz’. Porque é que é uma cruz? Porque é que não posso, simplesmente, ser livre de amar sem restrições?”, questiona a estudante da Universidade do Porto.

Sobre o espaço reservado à comunidade LGBTI+ no universo católico, António Castro, homossexual, afirma: “abertamente, não há”. Por isso, não formou grandes expectativas: “Nunca estive à espera que durante a minha vida as coisas mudassem. Sempre pensei que quando chegasse aos vinte, trinta, quarenta anos, se calhar não ia continuar”, confessa ao JPN.

O ex-catequista, agora com 41 anos, afirma que, enquanto era ativamente religioso, conseguia não entrar em “contradições”. No entanto, sublinha: “Não conseguia imaginar-me a manter-me para o resto da vida [na Igreja], tendo em conta que queria encontrar alguém com quem me relacionar, casar talvez, e aí já ia contra o que é dito”. Foi assim que aos 25 anos de idade António Castro decidiu abandonar a relação próxima que mantinha com a igreja. 

Sabia que…
Segundo o estudo “Ser cristão na Europa Ocidental”, do Pew Research Center, Portugal é o país da Europa ocidental onde uma maior percentagem da população se identifica como cristã (83%). Contudo, o relatório de 2018 “Os jovens adultos europeus e a religião”, do Centro Bento XVI para a Religião e Sociedade, revelou que nas populações mais jovens há uma menor adesão à religião, com apenas 58% a manifestarem-se como católicos e mais de metade a confessar não frequentar a missa regularmente.

João Cláudio Maria, hoje maestro no coro da paróquia de Pedrógão Grande, revelou, em 2017, a sua história ao jornal Observador. O jovem acredita ter sido expulso do Coro de São Domingos, na vizinha paróquia de Castanheira de Pêra, de onde é natural, por ser homossexual.

João era maestro do coro desde 2010 e foi quando a sua orientação sexual se tornou conhecida que começou a notar mudanças na forma como o tratavam na paróquia. Isto culminou na proibição de atuar no coro e na sua saída. A Igreja nunca confirmou que o afastamento de João estivesse relacionado com a sua orientação sexual, acusando antes o jovem de delito de “desobediência e rebeldia para com a autoridade” do então padre da paróquia leiriense.

Apesar de ter sido afastado, João Cláudio Maria não deixou, contudo, de fazer o que gosta e mudou de paróquia por não conseguir “ser racional ao ponto de dizer que não”. “Se fosse justo [consigo próprio], dizia que não e não voltava”, mas “o amor tem destas coisas parvas”, diz ao JPN. O jovem afirma-se “aditivado com a Igreja”.

Não é o único a falar de amor. “Diana”, nome fictício, é uma jovem homessexual e assume-se como praticante, mas não no sentido comum da palavra. Não desempenha nenhuma função na Igreja, nem vai à missa todos os domingos, mas sublinha que exercer a sua fé também é ser praticante.

Para “Diana”, a motivação para continuar a sua “missão”, como lhe chama, é a de mostrar a sua fé e incentivar pessoas da comunidade a não se afastarem da religião por acharem que a “Igreja exclui”. “O meu papel enquanto presença da comunidade LGBTI+ é conseguir que as pessoas não retrocedam, mostrando que o mote essencial, mais verdadeiro e de maior relevância, é que Deus é amor. As pessoas têm que perceber que Deus é amor de qualquer forma”, diz.

Movem-se por algo que não se explica, muito menos se vê: a fé. No dicionário define-se como “estado ou atitude de quem acredita ou tem esperança em algo; adesão absoluta do espírito àquilo que se considera verdadeiro”. Para o Padre José Maria Gonçalves, a fé e o “grande amor à Igreja” são os grandes motores para que a comunidade LGBTI+ continue a lutar pelo seu lugar na Igreja Católica.

Emotiva, “Diana” acrescentou ainda que, com uma “fé tão viva”, não consegue evitar passar a mensagem de que “Deus é amor” e vai “amá-lo de qualquer forma”.

Abrigos em tempos difíceis

Em Portugal, foram criadas já algumas associações de católicos LGBTI+, com o objetivo de abrir espaços seguros de partilha para pessoas religiosas independentemente da sua orientação sexual.

A Associação Rumos Novos surgiu em maio de 2008, de modo a integrar pessoas LGBTI+ no seio da Igreja Católica. Segundo o seu fundador, José Leote, a associação cobre “um largo espectro de católicos e católicas”, quer estejam ou não integrados nas suas paróquias.

Criou-se “um espaço onde podem ser eles e elas mesmos sem julgamentos, cada um com a sua caminhada de vida”, diz ao JPN. No blogue da associação, podem encontrar-se documentos, reflexões, notícias e propostas de atividades.

A 10 de junho de 2008, lançou o manifesto “À Igreja Católica Portuguesa e aos Grupos e Associações LGBT”. Ao longo dos 14 anos de vida, a Rumos Novos já participou em diversos encontros, conferências e congressos de grupos homossexuais cristãos.

A comunidade online da Rumos Novos é composta por cerca de 290 indivíduos. Nos encontros presenciais, que têm no Centro LGBTI, na zona do Chiado, em Lisboa, costumam aparecer muito menos pessoas. A discrepância deve-se ao facto de muitos associados não serem assumidos nas suas respetivas paróquias e temerem ver descoberta a sua orientação sexual.

 
 
 
 
 
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Usualmente, os encontros de associados têm uma frequência mensal e contam com espaços de partilha de questões e de oração. Sempre que possível, há um padre que realiza celebrações eucarísticas para a comunidade LGBTI+. Quando tal não acontece, os membros da Rumos Novos participam em celebrações que se realizam na Sé de Lisboa, juntando-se aos restantes fiéis.

José Leote reforça que o principal objetivo da associação é fazer com que “os cristãos católicos LGBTQIA+ se sintam livres e abertos para viver a sua fé sem medo”. Alinhada com este pensamento está a ideia de que a orientação sexual não influencia a fé ou a cristandade de cada um. “Somos imagem e semelhança de Deus que nos criou por inteiro e nos ama tal como somos”, acrescenta.

Já a 1 de abril deste ano, nasceu também a Sopro. A associação surgiu com o intuito de criar um espaço para uma comunidade mais alargada nas Jornadas Mundiais da Juventude que Portugal vai acolher em 2023, em Lisboa.

Por considerarem que o espaço dedicado a católicos LGBTI+ era pouco representativo, um grupo de indivíduos mobilizou-se para a construção de uma nova associação

A coordenação da Sopro está a cargo de uma equipa composta por quatro mulheres. A restante equipa é composta não só por leigos, mas também por membros da Igreja Católica, como padres. 

O padre José Maria Gonçalves, que o JPN encontrou em Canidelo, é um deles e sublinha que a associação, ainda que não seja o primeiro grupo de católicos LGBTI+, apresenta uma postura “revigorante” e “nova”

O padre acrescenta que, enquanto que os grupos do passado foram criados porque as pessoas da comunidade precisavam de um espaço para “partilhar as suas feridas, os seus sofrimentos”, nos dias que correm é preciso aprofundar a ação levada a cabo por estas organizações.

Assim, destaca que o que faz da Sopro uma iniciativa diferente é o facto de se sentirem “no direito e no dever de intervir dentro da Igreja”, para reivindicar o seu lugar na instituição e “estabelecer pontes com a hierarquia da Igreja Católica”. Em poucas palavras, o padre define o grupo: “O Sopro é um testemunho de que não temos nada a esconder”.

Mudam-se as narrativas, mantêm-se as doutrinas

Apesar do seu discurso mais progressista, o Papa Francisco mantém firme que as uniões ao abrigo da Igreja devem ser celebradas unicamente entre um homem e uma mulher e com a finalidade de gerar descendência.

A posição foi marcada na referida nota da Congregação para a Doutrina da Fé, em 2021, que surgiu depois de alguns padres, de países como a Alemanha ou os Estados Unidos, terem feito pedidos formais para legitimar casamentos homossexuais que celebraram nas suas paróquias. 

A Alemanha é um bom exemplo de um país onde a pressão tem aumentado sobre o Vaticano. Em maio, mais de uma centena de padres, ex-padres, professores e paroquianos que se identificam como homossexuais lançaram a campanha #OutInChurch e o movimento #LiebeGewinnt (traduzido do alemão, “O amor vence”) exigindo que as pessoas LGBTI+ possam viver sem medo e com acesso a todas as atividades e ocupações da igreja sem lugar a discriminação, informou a Deutsche Welle. Dias mais tarde, dezenas de padres associados a este movimento convidaram casais do mesmo sexo a comparecerem nas suas paróquias para serem abençoados.

 

 
 
 
 
 
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Mesmo assim, o Vaticano continua a deixar claro que estas bênçãos não são legítimas, não estando autorizadas, pelo que não seriam consideradas lícitas caso fossem dadas.

O padre Jorge Duarte afirma, nesta linha, que pessoas LGBTI+ “podem e têm o direito a ter uma proteção legal à vivência do seu amor e da sua vida”. Segundo o pároco, porém, um casamento homossexual “nunca será o casamento cristão como nós o entendemos e isso tem a ver com toda a moral, toda a mensagem cristã sobre a família, sobre o matrimónio, sobre a complementaridade [entre] homem e mulher”.

Em oposição, Teresa C., pastora da associação Rumos Novos, sublinha que as pessoas homossexuais, apesar de “não gerarem vida”, “complementam e preenchem a vida uma da outra”.

Na ótica do padre José Maria Gonçalves, a postura atual da Igreja não é de oposição, mas sim de “omissão”. “Mais do que o querer negar, há uma espécie de tabu. Se alguém levantasse a questão, as pessoas diziam: ‘não falemos aqui, evitemos falar’. E isso é mau, porque facilmente passa a mensagem de que tudo pode acontecer, e ser vivido, mas só se for no escondimento”, diz.

Para Catarina Andrade, existe uma falsa aceitação da comunidade: “Ainda existe muito um nível do ‘eu respeito, mas não aceito’. Desde bem pequenina, na religião, fui ensinada que o respeito passa por uma aceitação do ser como ele é”, diz ao JPN a ex-catequista.

É, mais uma vez, a igreja a assumir uma postura seletiva daquilo que “lhe dá mais jeito”, considera João Cláudio Maria, que além de maestro de um coro estudou também Teologia no Seminário, e que dá o exemplo do catecismo católico como um texto que “não tem validade teológica objetiva”.

(Des)crença no “milagre” da igualdade

Como a transformação da água em vinho ou a multiplicação do pão, há quem veja na aceitação igualitária da comunidade LGBTI+ pela Igreja Católica a possibilidade de um milagre. Para o padre Jorge Duarte, a igualdade já é palpável. “Deus não ama só os heterossexuais. Ama todos”, refere. Assume, porém, que a homossexualidade “não está de acordo com o pensamento da Igreja”.

Em mais de quarenta anos como padre, José Maria Gonçalves diz que a evolução tem sido larga. “Nunca pensei, na minha longa vida, ver tanta evolução e houve muita, muita, muita”, garante. Sobre o futuro, está convicto de que a discriminação da comunidade LGBTI+, aos olhos da Igreja Católica, se tornará uma “questão menor” em menos de duas décadas.

Menos otimistas, as pessoas da comunidade LGBTI+ não esperam mudanças para tempos próximos. Catarina Andrade considera que “o que a geração atual está a construir é o que vai existir daqui a muitas gerações”. Na sociedade e na Igreja, a aceitação move-se a velocidades diferentes, acredita. A jovem é lapidar na sua reflexão: “Acho que a sociedade está mais tolerante, porque está cada vez mais fora da Igreja”

João Cláudio Maria alerta para uma tendência que pode atrasar o processo de evolução da mentalidade da Igreja: “Tradicionalmente, nós temos um papa progressista hoje, amanhã teremos um muito conservador, que vai fazer andar para trás aquilo que se andou para a frente”. João calcula que antes da comunidade LGBTI+ ser aceite como igual, ainda deverão haver padres a casar e mulheres a poder presidir às missas.

Uma possível mudança do paradigma atual pressupõe que as mentalidades no cerne da Igreja Católica se alterem. Teresa C., da associação Rumos Novos, defende a necessidade de a instituição Católica perceber que “amor é sempre amor” e que “pessoas que procuram viver esse amor não têm que ser medidas de forma diferente só porque aquilo a que nos habituamos durante séculos e séculos de História foi um modelo heterossexual”.

Olhando para lá do pessimismo em relação ao futuro próximo, os membros da comunidade LGBTI+ mantêm-se erguidos pela vontade de conquistar um lugar que devia, nas suas palavras, ser de todos. “Diana” não tem dúvidas: “A Igreja não exclui ninguém. Esse é um dos motes da Igreja Católica: ser inclusiva com qualquer pessoa, porque todos os que têm fé e acreditam em Deus têm espaço”.

Sobre quando será o dia em que se alcança a igualdade plena, João Cláudio Maria tem esperança que chegue eventualmente. “Um dia vamos perceber que somos só pessoas. No dia em que tirarmos estes rótulos todos de nós… Vamos chegar lá”, vinca.

Artigo editado por Filipa Silva e Tiago Serra Cunha