O primeiro festival de verão do ano arrancou esta quinta-feira na Alfândega do Porto. O JN North Festival abriu as honras a uma época festivaleira há muito aguardada a destacar o melhor do rock nacional, com uma viagem nostálgica pelo meio a êxitos de outros tempos.

A quarta edição do JN North Festival prometia e cumpriu, num dia em que o rock nacional triunfou. O festival arrancou na Alfândega do Porto esta quinta-feira, 26 de maio, e celebrou algumas bandas portuguesas de culto, como Ornatos Violeta, Linda Martini ou os menos aparecidos ZEN.

O certame, apesar de recente, já faz parte do circuito dos grandes festivais portugueses. Este ano, com outro destaque: foi responsável por abrir a época de 2022, por muitos aguardada por retomar a festa pela primeira vez desde o início da pandemia.

As portas abriram-se às 16h00, ainda o sol estava alto. Com um público pouco solto e a chegar de forma lenta ao recinto, S. Pedro, Paraguaii e Paus tiveram a difícil tarefa de conquistar as primeiras centenas de pessoas, que ansiavam pelas bandas de maior destaque. Um aquecimento cumprido com distinção pelas bandas, mas que nem sempre conquistou a atenção dos festivaleiros, que aproveitavam para apreciar a vista sobre o Douro ou para beber alguma coisa ao pôr do sol.

No primeiro dia do festival, o destaque foi mesmo para os cabeças de cartaz, Ornatos Violeta. O grupo musical portuense celebrou, assim, os seus 30 anos de carreira, juntando público de todas as idades, a pisar estatuto como banda portuguesa intemporal. Com êxitos como “Ouvi Dizer”, que conta já com 23 anos, o público cantou palavra a palavra com os artistas, dando um final mágico à noite do rock nacional.

Antes, passaram pelo palco outros nomes grandes do género. Os Linda Martini optaram por focar a sua performance no mais recente álbum, “ERRÔR”, mas sem esquecer os seus êxitos mais antigos, que fizeram soar a voz do público. O rock vibrou e os festivaleiros também.

Os ZEN, banda com mais de 25 anos,  fez uma viagem nostálgica dedicada a todos os fãs presentes, revisitando o álbum de estreia, “The Privilege of Making the Wrong Choice”, com direito a paragem (quase) final em U.N.L.O., seguramente um dos temas mais recordados do rock português dos anos 90. Era elevada a ânsia para este momento, não só pelo concerto em si, mas pela ideia de se reviverem memórias antigas. “Esta t-shirt dos ZEN que eu tenho, comprei-a há 25 anos num concerto deles”, partilha Guilherme Cardoso, fã da banda, a apontar para sua camisola enquanto falava ao JPN.

“Chega a uma altura em que o teu tempo é muito limitado. Então, o tempo que reservas tem de ser para te fazer voltar um bocadinho atrás”, conta Maria Manuela Carvalho, uma dos muitos fãs que estiveram presentes no festival para ver os ZEN. O concerto tão esperado terminou em grande e com fogo de artifício.

Guilherme Cardoso (á esquerda) e Maria Manuela Carvalho (na direita) vieram com amigos para ver o concerto dos ZEN. Foto: Martim Mota/JPN

Num recinto “pequeno”, North Festival espera ultrapassar previsões de afluência

O recinto da Alfândega conta com bem mais do que concertos. Há também um espaço fechado destinado a receber DJ e todos aqueles que estejam prontos para a festa, passeios de barco pelo Douro acompanhados de música ao vivo, além da imprescindível zona de restauração, entre várias atividades extra para usufruir.

Apesar do espaço estar dotado de uma vista considerada por muitos de luxo ao encontrar-se no coração da cidade do Porto, num local histórico – dos poucos grandes festivais realizados em espaços deste género – as opiniões dividem-se. “Acho que o espaço é pequeno, mas tirando isso está tudo impecável”, confessa Fernando Guedes, um fã de rock português que põe em primeiro lugar ver as suas bandas favoritas. “Não é propriamente espetacular, é mais difícil de estacionar, mas valeu pelo cartaz”, ressalta Guilherme Cardoso.

O recinto do North Festival tem vista para parte da zona histórica que circunda a Alfândega. Foto: Martim Mota/JPN

Jorge Veloso, diretor do JN North Festival, salienta ao JPN que ter um festival destes num local como a Alfândega é “diferenciado”. “É um edifício centenário, não precisamos de improvisar muito. Quisemos um conceito de festival mainstream, mas que fosse urbano. Estamos perto das pessoas. O público pode sair do trabalho de camisa e sentem-se bem aqui. É um festival descontraído“, diz.

Apesar de todas as adversidades que se impuseram à realização deste festival, que foi cancelado três vezes nos últimos dois anos por causa da pandemia, a organização está entusiasmada “por voltar a fazer aquilo que mais gostamos, pela adesão e pelo tempo”.

Por trás do festival que teve início esta quinta-feira, está muito tempo de preparação, admite Jorge Veloso. O diretor prevê que, em termos de público, as expectativas iniciais venham ser ultrapassadas, contando com pessoas vindas de, pelo menos, 25 países.

Mas o que torna o JN North Festival um festival de verão “de eleição” é o seu cartaz diversificado, defende: “Tínhamos de assumir que o nosso festival é dos 8 aos 80 e porque não tornar os dias temáticos?”. “Let’s Rock”, “Let’s Dance” e “Let’s remember” são os temas que dão mote a um cartaz de três dias que, segundo Jorge Veloso, “qualquer pessoa que olhe para o cartaz vai, no mínimo, achar que um dos dias é interessante”.

“Não queremos ser os maiores, mas a nível de qualidade somos uns dos melhores”, remata o organizador.

O JN North Festival prepara-se para mais dois dias na música. Esta sexta-feira, o foco está na música eletrónica para fazer o público festejar verdadeiramente com DJs como Don Diablo e Robin Schulz. Depois de uma primeira noite que, para a organização, foi um sucesso, o festival mantém-se na Alfândega do Porto até sábado (28), no terceiro e último dia a fazer mais uma viagem nostálgica que conta com The Jesus and Mary ChainThe WaterboysGNR e vários outros.

Artigo editado por Tiago Serra Cunha