O LGBT+ Music Festival, agendado para os dias 1, 2 e 3 de julho e a ser realizado no Porto, vai sofrer alterações no seu formato. O anúncio foi feito na última quarta-feira (1) através de um comunicado publicado nas páginas das redes sociais da organização do festival e deixou muita gente indignada.

No documento, a equipa do LGBT+ Music Festival escreve que “tem experienciado vários problemas internos”, mas que vai fazer de tudo para “ter a certeza que o festival continua ativado”. Assim, a organização decidiu que o festival “vai ser realizado num formato diferente”, a um mês da data prevista; porém, não especifica se são alterações no espaço, nas datas, no cartaz ou no programa. O festival anunciou uma extensa lista de artistas, como Iggy Azalea, Bebe Rexha, Todrick Hall, Melanie C, Ludmilla, entre muitos outros, e previa várias experiências para os visitantes como festas em barcos e pool parties, entre outras.

 

 
 
 
 
 
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Esta situação gerou uma forte onda de contestação nas redes sociais, onde as pessoas demonstram o seu descontentamento através de comentários: algumas afirmam que este evento será a versão 2.0 do Fyre Festival e outras até consideram isto uma “falta de respeito” à comunidade LGBT+.

Com receio de serem vítimas de fraude, várias das pessoas que compraram bilhetes para o evento LGBT+ pedem um reembolso. Face a isto, a equipa do festival refere no comunicado que vão “partilhar mais informação sobre o processo de transferências e reembolsos”. Igualmente, a organização revela que, em caso de dúvidas, as pessoas devem contactá-la através de mensagem privada nas redes sociais ou através do e-mail [email protected].

Em entrevista à Antena 1, Lívia afirmou que gastou cerca de 700 euros para ir ao festival e, quando viu o comunicado, ficou “frustrada”, “indignada” e até “humilhada mesmo, como cliente, como pessoa LGBT que estava acreditando muito e esperando muito um festival”. Ao tentar contactar a organização, Lívia reparou que o e-mail indicado no comunicado era “falso” e não existe, referindo que “os e-mails que [as pessoas] mandam, voltam”. Entretanto, após algumas queixas, a equipa já alterou a descrição da publicação do Instagram e colocou o e-mail correto: [email protected].

As acusações da possibilidade de fraude parecem ganhar mais peso, tendo em conta que, de acordo com a Antena 1, a produtora por detrás do festival – Apollon Group – só surgiu em 2021 e o seu website não tem qualquer contacto disponível. A plataforma Unimado acrescenta que não foi encontrado nenhum registo da empresa no Portal de Justiça. Igualmente, a Galaxydelirium, empresa “responsável por idealizar o festival”, refere a Antena 1, foi criada no ano passado e, segundo o portal Racius, o seu capital social é de 500 euros.

Situação pode “manchar” comunidade LGBT+

Para além de preocupar as pessoas que compraram o bilhete, esta situação preocupa também organizações LGBT+ e a comunidade em geral. Filipe Gaspar, ativista e membro da Comissão Organizadora da Marcha do Orgulho do Porto (COMOP), afirma ao JPN que os membros desta comissão ficaram “surpreendidos e preocupados” com o incidente.

Contudo, o ativista deixa claro que esta entidade, composta por 18 coletivos e organizações LGBT+, “não tem qualquer ligação à organização” do festival, visto este ser um “evento comercial” e a marcha ser um “movimento reivindicativo”. Sofia Brito, também membro da COMOP, em nome do grupo Feminismos sobre Rodas, e ativista, acrescenta que a Marcha do Orgulho LGBTI+ do Porto e a Comissão apresentam um “posicionamento ativista e anticapitalista”, não indo, assim, o festival ao encontro do “âmbito da marcha”.

Tal posição terá sido assumida, em fevereiro, numa reunião entre a COMOP e a organização do festival, onde, segundo Filipe Gaspar, a comissão defendeu que “não queria ter ligação a uma organização que fosse mais do que um movimento reivindicativo”. Este encontro foi realizado para “coordenar as atividades e conseguir entrar em diálogo” com a organização do festival, assim como para “procurar sempre soluções para toda a gente”, diz Sofia Brito. Isto porque a Marcha do Orgulho LGBTI+ do Porto ia ser realizada no dia 2 de julho (um dos dias do festival), mas, entretanto, foi reagendada para o dia 25 de junho, devido à realização das rusgas de São João na data inicial.

De acordo com Filipe Gaspar, que também faz parte da Associação para a Diversidade e Igualdade de Género (Gentopia), a Marcha tem uma posição “um bocadinho contra a organização de eventos comerciais à volta” da comunidade LGBT, referindo que “o que acabou de acontecer” com o festival “foi um perigo”. Na sua ótica, esta situação pode fazer com que o movimento LGBT+ seja “prejudicado com uma mancha que é um bocado vergonhosa” pelo facto de ser “evento comercial que vende a sigla LGBT+” e “faz uma grande propaganda” e pode até servir de “combustível” para “estigmatizar mais a comunidade”.

Sofia Brito partilha a mesma opinião, referindo ao JPN que “motivos para a discriminação vão sempre existir” e que este incidente pode tornar-se num deles e, assim, reforçar o “problema de preconceito”. “Tenho pena que uma sigla, de tantas formas, tão frequentemente questionada, como LGBT, esteja, de certa forma, associada, a este tipo de situação”, lamenta.

Entretanto, Filipe Gaspar admite que a organização do festival “tem de ter honestidade” e “tentar resolver o problema das pessoas”, desejando que “quem investiu possa não ficar penalizado”. Já Sofia Brito “lamenta que esta situação esteja a acontecer” e espera que haja “alguma solução de reembolso” para os indivíduos que pretendiam ir ao festival.

Artigo editado por Filipa Silva