A banda de punk rock russa irá atuar na Casa da Música esta quarta-feira (8) e no Capitólio (Lisboa) no dia seguinte. Para a digressão europeia Riot Days, que passa agora por Portugal, o grupo ativista tem como objetivo a divulgação da causa ucraniana e as receitas de bilheteira serão para a construção de um hospital pediátrico em Kiev.

O coletivo russo Pussy Riot em conferência de imprensa na Casa da Música Foto: Tomás Hernâni Gonçalves

Na manhã de segunda-feira (6), numa conferência de imprensa na Casa da Música, no Porto, com forte presença da comunicação social, as Pussy Riot não se contiveram, abordando criticamente o regime russo, sob o ponto de vista de quem o vive por dentro. Quanto aos concertos que vão realizar em Portugal, prometeram espetáculos com componentes audiovisuais que pretendem contar a história do grupo até 2020.

Maria ‘Masha’ Alekhina, que foi já detida por seis ocasiões desde o verão passado e que fugiu da Rússia disfarçada, em abril, recordou a atuação contra Vladimir Putin na Catedral de Cristo Salvador, em Moscovo, episódio que, em 2012, tornou o grupo mundialmente conhecido e levou a que fosse condenada a dois anos de prisão. A ativista descreve o momento como um exemplo de uma “grande” ação de confronto ao regime russo e que a atual tour se encaixa nos mesmos objetivos: mudar o mundo através da manifestação e inspirar outros para que façam o mesmo.

“Isto é um manifesto, não um documentário. É um apelo para eleições, pelo qual fazemos tudo, para que haja pressão internacional para a ação. É uma combinação de diferentes histórias, músicas, vídeos e temas inesperados com um simples propósito. Nós acreditamos que cada pessoa é muito importante, cada ação, para que possamos mudar o mundo. Em 2012, não esperávamos atenção internacional ou conferências de imprensa. Era uma coisa pequena, mas todas as grandes coisas começam assim. Queremos que as pessoas se manifestem”, reiterou.

Os ganhos da digressão vão ser doados para a construção de um hospital pediátrico em Kiev, como explicou Alexander Cheparukhin, produtor do conjunto.

“Falámos com o médico-chefe do Hospital Pediátrico de Kiev e ele contou-nos histórias terríveis a acontecer a crianças por toda a Ucrânia. Muitas chegavam ao hospital, nas primeiras semanas da guerra, com ferimentos graves e a necessitarem de cirurgia. Ficámos muito comovidos com as suas histórias e quisemos ajudar”, disse.

O “patrocínio da guerra” por parte dos países ocidentais

No entender da banda, existe, no ocidente, um desconhecimento relativamente ao que se passa “dentro da Rússia”, provocado por “interesses económicos”, o que impede a população europeia de perceber melhor o que Putin representa, num país onde é visto como “uma espécie de filho de Deus”, e as motivações que estão na base da invasão militar à Ucrânia.

“Nós queremos que as pessoas vejam e oiçam a verdade sobre a Rússia. Queremos que percebam que existe uma ligação direta entre o que está a acontecer dentro da Rússia e agora na Ucrânia. Pedimos que não patrocinem tudo isto que Putin e o seu ‘gangue’ estão a fazer. Isto é muito simples, mas não é claro para todos”, disse Alekhina.

O grupo afirmou também que a dependência que muitos dos países europeus mantêm em relação à Rússia, ao nível de recursos como o petróleo, faz com que acabem por se tornar “patrocinadores da guerra, mesmo que não apoiem diretamente a Rússia” e que as atuais restrições económicas ao país não são drásticas o suficiente para que as consequências negativas sejam superiores aos ganhos.

“Este ano, a Rússia vai receber mais dinheiro que no ano passado ou no anterior. É um absurdo, porque este país começou uma guerra, mas este ano será mais lucrativo, em termos de recursos exportados”, sustentou Olga Borisova, editora criativa do livro da digressão “Riot Days”.

As Pussy Riot recordaram a invasão da Crimeia, por parte dos russos, em 2014, como exemplo para sustentar que os acordos de paz são provisórios e apenas uma derrota clara de Putin poderia ser a solução para a estabilidade.

“A única forma de parar com tudo isto é fazer com que a Ucrânia vença a guerra”, afirmou Maria ‘Masha’ Alekhina, de forma taxativa.

A banda que já tinha atuado em Portugal na edição de 2018 do Festival Paredes de Coura, marca assim o regresso ao país com estes dois concertos. Para quem queira assistir ao espetáculo no Porto, marcado para as 22h00 de quarta-feira, existem ainda ingressos disponíveis no ‘site’ da Casa da Música.

Artigo editado por Filipa Silva