Uma das pintoras e artistas portuguesas mais aclamadas a nível nacional e internacional, Paula Rego morreu na manhã desta quarta-feira (8), aos 87 anos, na sua casa, em Londres, disse à agência Lusa uma fonte próxima da família. Segundo o galerista Rui Brito, a artista “morreu calmamente em casa, junto dos filhos”. 

A morte já foi confirmada pelo Presidente da República que afirmou, após uma conferência realizada nesta quarta-feira em Braga, que esta é uma “perda nacional” de uma “artista plástica muito completa” com uma “projeção muito longa, muito rica e muito prestigiante para Portugal” e para o mundo. Marcelo Rebelo de Sousa relembrou que Paula Rego era “a artista plástica portuguesa com maior projeção no mundo, certamente, desde que nos deixou Vieira da Silva”.

Ao transmitir à família da pintora “os sentimentos de todo o povo português”, o Presidente da República recordou que esteve recentemente com o filho, Nick Willing, na inauguração da mais recente restrospetiva da artista em Londres, estando “depois em Haia e depois em Málaga”. Esta exposição, disse Marcelo Rebelo de Sousa “era uma homenagem, numa altura em que se sabia que Paula Rego estava já doente, bastante doente.”

Entretanto, o Presidente da República assegurou que vai “ponderar” com o primeiro-ministro, António Costa, a melhor forma de “assinalar, em termos de luto nacional”, a perda da artista portuguesa.

Nascida a 26 de janeiro de 1935, Paula Rego começou a mostrar os seus dotes artísticos quando começou a desenhar ainda em criança. Com apenas 17 anos, a artista natural de Lisboa dirigiu-se para Londres para estudar na Slade School of Fine Art, onde conheceu o marido, o artista inglês Victor Willing, que faleceu em 1988.

Estando entre Portugal e o Reino Unido, onde se radicou definitivamente a partir dos anos 70, Paula Rego inaugurou, em 2009, um museu localizado em Cascais que apresenta uma parte da sua obra – a chamada Casa da Histórias -, onde estão também expostos trabalhos do seu cônjuge.

Uma das artistas portuguesas mais premiadas, Paula Rego já foi galardoada com o Prémio Turner, em 1989, com o Grande Prémio Amadeo de Souza-Cardoso, em 2013, entre muitos outros.

Entretanto, a pintora foi distinguida com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada, em 2004, e, seis anos depois, com o grau de Oficial da Ordem do Império Britânico por parte da Rainha Isabel II pela sua contribuição para o mundo das artes. Mais recentemente, em 2019, recebeu a Medalha de Mérito Cultural do Governo de Portugal.

Nos últimos anos, Paula Rego abordava mais temas políticos e sociais, desde o abuso de poder até temáticas relacionadas com a mulher, um dos temas centrais da sua obra, destacando-se, entre muitas outras, as séries “Mulher-Cão” e “Aborto” pela sua representação “crua e violenta” da “condição feminina”.

Dona de um universo figurativo singular, muito marcado pelas memórias da infância, tantas vezes traduzidas em cenas que parecem emergir de fábulas, fundiu em diversas das suas representações o humano e o animal. “É mais fácil mostrar certas coisas quando são os bichos a fazê-las”, diria numa entrevista à RTP a propósito do quadro “Guerra”, um dos seus mais violentos.

Uma vida longa e uma obra muito vasta sobre a qual o documentário “Paula Rego: Histórias e Segredos” – integrado na última exposição que Paula Rego teve em Serralves (O Grito da Imaginação, de outubro de 2019 a junho de 2020) – realizado pelo filho da artista, Nick Willing, em 2017, para a BBC2, constituirá uma boa porta de entrada.

Artigo editado por Filipa Silva