Entre as dezenas que vão passar pelos vários palcos do Parque da Cidade entre esta quinta-feira e sábado (9, 10 e 11 de junho), selecionamos 14 artistas ou bandas, uns cabeças de cartaz e outros mais 'underground', que acompanharemos com atenção no Primavera Sound deste ano. Embarquemos nesta viagem.

Kim Gordon

Quando: Quinta-feira (9), 20h10
Onde: Palco Binance

O marcante legado como membro dos seminais Sonic Youth, os variados outros projetos musicais, o trabalho como artista plástica e até o design de moda: Kim Gordon é, há já quase quatro décadas, o verdadeiro “canivete-suíço” da arte. Atuou pela última vez em Portugal em 2013 como membro da dupla Body/Head e regressa este ano para apresentar o seu primeiro álbum a solo, “No Home Record”, lançado em 2019.

A data no primeiro dia do NOS Primavera Sound vai fechar (ao que tudo indica, com chave de ouro) a sua tour mundial, durante a qual a artista tem vindo a trazer para o palco o ecletismo disruptivo que caracteriza o seu mais recente projeto. Fundindo elementos de sonoridades próprias do rock, do punk, da eletrónica, do industrial e até do trap, Kim Gordon promete aos fãs romper com quaisquer noções de previsibilidade e convencionalidade. Por Ana Torres

Nick Cave & The Bad Seeds

Quando: Quinta-feira (9), 21h20
Onde: Palco NOS

Nick Cave não se cansa do público português, e o público português certamente não se cansa de Nick Cave, até porque esta será a sua 15ª atuação em Portugal desde 1998, e a terceira no NOS Primavera Sound. Depois da sombra que paira sobre “Skeleton Tree” (2016) – completado no rescaldo de uma tragédia pessoal – Cave navega inegavelmente as águas agitadas do luto em “Ghosteen” (2019), o mais recente álbum que, após vários cancelamentos causados pela pandemia, chega finalmente aos palcos este ano.

Apesar do lançamento de “Ghosteen”, não têm sido deixados de fora das setlists clássicos como “From Her to Eternity” ou “Jubilee Street”, e ainda as mais recentes canções “Carnage” (do seu projeto homónimo com Warren Ellis) e “I Need You”, que na data em Barcelona foi dedicada aos seus filhos Luke, Earl, Arthur e Jethro, os últimos dois falecidos em 2015 e 2022, respetivamente. Por Ana Torres

Arrogance Arrogance

Quando: Quinta-feira (9), 23h
Onde: Palco Bits

DJ portuense, é uma das principais figuras a surgir na cena recente da música eletrónica. Arrogance Arrogance (nome artístico de David) é co-fundador das festas ÁCIDA, que decorrem anualmente na cidade do Porto. Este evento leva muitos a classificar Arrogance Arrogance como o responsável pelo regresso da cultura de rave à cidade do Porto, ao promover festas em locais menos habituais da Invicta. O DJ português rejeita que os eventos que protagoniza sejam chamados de “festa” ou de “rave”, por entender que se integram num “universo situacionista”. É esse mesmo universo que traz ao final do primeiro dia de Primavera Sound. Por Filipe Pereira

Tame Impala

Quando: Quinta-feira (9), 23h50
Onde: Palco NOS

O projeto musical australiano é considerado o que mais se destaca na nova vaga do Rock Psicadélico. Conhecido por ser “sucessor” dos sons de Pink Floyd, Tame Impala chegam pela primeira vez ao palco do NOS Primavera Sound  – e vêm apresentar o mais recente disco, “The Slow Rush”, lançado em 2020. Kevin Parker lidera o projeto, que conta também com Dominic Simper e Jay Watson.

Tudo começou quando Parker e Simper tinham apenas 13 anos. Na altura, os dois faziam apenas gravações caseiras. Quando Watson se juntou ao duo, a dimensão aumentou, nomeadamente com a ajuda dos vídeos musicais publicados por Kevin Parker na rede social MySpace. Já com várias presenças em Portugal, a cidade do Porto é a 21.ª paragem desta digressão mundial dos australianos. Por Filipe Pereira

Rina Sawayama

Quando: Sexta-feira (10), 19h
Onde: Palco Cupra

Nos últimos anos, o Primavera Sound tem optado por trazer artistas mais pop cuja energia assenta que nem uma luva entre tons mais alternativos de outros elementos do cartaz. A anglo-japonesa Rina Sawayama é o exemplo perfeito. Na primeira vez em Portugal, apresenta os temas do aclamado disco de estreia “SAWAYAMA”, de 2020, e o avanço do novo disco, que chega em setembro.

A sonoridade muito electropop Y2K – aquele som inconfundível dos 2000 – mescla-se com elementos rock e chega mesmo a piscar o olho a uma instrumentação nu-metal, que tanto pesca inspiração de Britney Spears como de Evanescence ou Korn.

A voz forte na pop retromaníaca de Rina Sawayama é daquelas que vai saber bem ouvir ao final de um dia com o calor que fará sexta. É assistir ao nascimento de uma estrela ardente. Por Tiago Serra Cunha

María José Llergo

Quando: Sexta-feira (10), 19h
Onde: Palco Super Bock

Quem se lembra e admira os primeiros registos de Rosalía, mais flamenco-pop-chic com a voz carregada de saudade, vai querer conhecer María José Llergo. A artista estudou jazz e música clássica, atributos que lhe valem ouro quando mistura a técnica vocal com a sonoridade mântrica que embala o tradicional flamenco com apontamentos eletrónicos.

Aprendeu a cantar com os avós, compõe e constrói as suas próprias canções e apresentou uma malha coesa de canções estelares em “Sanación”, álbum de estreia lançado em 2020. Detalhes sonoros que nos levam às suas origens e projetam simultaneamente um futuro selvagem para Llergo. Por Tiago Serra Cunha

King Krule

Quando: Sexta-feira (10), 21h20
Onde: Palco Cupra

O cantor e guitarrista Archy Ivan Marshall, mais conhecido como King Krule, traz ao Primavera Sound os seus três álbuns de estúdio. À sua sonoridade indie-rock, que tanto consegue apaziguar a alma como fazê-la vibrar, Krule junta-lhe a sua característica voz rasgada e as notas de uma guitarra que conduz toda a viagem musical. O concerto perfeito para os amantes do indie-rock que, certamente, marcarão presença junto ao palco assim que King Krule começar a tocar. Por Martim Mota

Amaia

Quando: Sexta-feira (10), 21h20
Onde: Palco Super Bock

No festival NOS Primavera Sound, Espanha vai estar bem representada por um conjunto de artistas que vão encher o recinto de boa disposição. Amaia, cantora espanhola, faz parte de um cartaz diversificado, no qual a sua música não passará despercebida. Uma artista que não só canta, compõe, mas também singra no piano, estreia-se na versão portuguesa do festival a solo e com as suas músicas originais.

O som pop irá primar enquanto Amaia apresenta o seu segundo álbum “Cuando no sé quién soy”. A vencedora da nona edição do concurso “Opéracion Triunfo”, com o prémio do qual foi à Eurovisão representar o seu país em 2018, fará também uma viagem pelo seu álbum de estreia “Pero No Pasa Nada”, que deixará o público do Primavera Sound a desejar por mais. Por Maria Barradas

Beck

Quando: Sexta-feira (10), 22h30
Onde: Palco NOS

É de esperar que o público traga toda a sua energia disponível para se divertir ao som de Beck no Primavera, porque vai precisar dela. O artista americano marcará a sua presença no festival e são esperados hits como “Loser”, uma música acompanhada por uma guitarra acústica, um refrão em espanhol, e uma mixórdia de géneros musicais à mistura. “Odelay”, “Mutations” e “Midnite Vultures” são alguns dos vários álbuns que representam o artista coeso e, simultaneamente, versátil que Beck é.

O cantor há muito que anda a mostrar ao mundo o seu trabalho e não parece que isso vá terminar em breve. Está a preparar o seu novo álbum, “Hyperspace”, que está previsto ser lançado em novembro deste ano. É um show a não perder e pode ser que o público do festival português tenha a mesma sorte que o Primavera Sound Barcelona teve durante a edição deste ano, onde o cantor estreou uma das suas novas canções ao vivo. Por Maria Barradas

Rolling Blackout Costal Fever

Quando: Sexta-feira (10), 22h30
Onde: Palco Binance

É certo que o som de Slowdive vai assentar como orvalho na relva do Primavera, que Nick Cave e Gorillaz dificilmente não darão concertos para o álbum de memórias, mas, julgamos nós, também as guitarras dos Rolling Blackout Costal Fever têm tudo para encaixar no mood do Primavera. O quinteto de Melbourne que se move – palavras dos próprios – entre o “tough pop” e o “soft punk” gosta de partilhar o microfone – Fran Keany, Tom Russo e Joe White alternam na voz –, mas é nas guitarras, muito competentes, que mais brilham.

É música para pôr a cabeça fora da janela do carro e deixar o cabelo ao vento, numa viagem que, na nossa imaginação, implica uma estrada com vista de mar e um sol a cair no horizonte. Os australianos que assumem que buscam na sua música o “conceito da Austrália” – compreendemos, também desconhecemos em larga medida, mas agradecemos as muito boas bandas que o país-continente nos tem oferecido – tem, ainda por cima, um novo álbum para mostrar: “Endless Rooms”. Não é isso o Primavera também? Por Filipa Silva

100 Gecs

Quando: Sexta-feira (10), 23h40
Onde: Palco Super Bock

A dupla norte-americana composta por Laura Les e Dylan Brady mostraram, desde o início da sua carreira, que iriam tornar a sua música num movimento novo e controverso: o Hyperpop. Este género musical mistura elementos que têm por base o pop, juntando-lhe camadas eletrónicas excêntricas. Por muitos considerada uma música nonsense, os 100 Gecs prometem eletrizar o público presente no Parque da Cidade com o seu estilo exagerado, letras absurdas e uma música desafiadora para qualquer ouvido. Por Martim Mota

Khruangbin

Quando: Sábado (11), 19h
Onde: Palco Cupra

O nome é de origem tailandesa e significa “engenho voador”. A banda é texana e, através da sua música, faz-nos viajar numa fusão de sons vibrantes e elegantes. Estrearam-se em 2015 com o álbum “The Universe Smiles Upon You”, mas foi apenas em 2018, com “Con Todo el Mundo”, que chegaram aos ouvidos do mundo. Laura Lee, no baixo, Mark Speer, na guitarra, e Donald “DJ” Johnson, na bateria, combinam ritmos e culturas, fazendo o público vibrar sob as influências de rock surf e psicadélico, funk, dub e soul.

Com poucas palavras e uma forte presença instrumental, Khruangbin voltam aos palcos portugueses, depois da visita a Paredes de Coura, em 2019. Sobem agora ao Palco Cupra, no Parque da Cidade do Porto, com a banda sonora ideal para um fim de tarde. Por Angela Pereira

Interpol

Quando: Sábado (11), 22h30
Onde: Palco NOS

É familiar, tanto ao festival (que visitaram na edição de 2019) como aos ouvidos de várias gerações. Fundada em 1997, a banda nova-iorquina dá-se a conhecer como uma das integrantes do movimento de post-punk revival do ínicio dos anos 2000. Atualmente composta por Paul Banks, Daniel Kessler e Sam Fogarino, traz a tradição de rock indie e alternativo e uma vontade de a renovar. A prova disso é o mais recente single, “Fables”, a “música de verão” que vem mostrar um espírito otimista, preservando a essência e a sonoridade inconfundível da banda.

No ano em que celebram o 20.º aniversário do primeiro álbum, “Turn On The Bright Lights”, regressam ao Porto como cabeças-de-cartaz. Desta vez, pela tour de “The Other Side of Make-Believe”, o sétimo álbum, que tem lançamento agendado para 15 de julho. Por Angela Pereira

Grimes (DJ Set)

Quando: Sábado (11), 23h55
Onde: Palco NOS

A canadiana Claire Elise Boucher (a.k.a. Grimes) foi um dos últimos acrescentos ao cartaz deste Primavera duplamente adiado, e ainda bem. Já lá vão dez anos desde que o álbum “Visions” (2012) nos levou a entregar em definitivo o corpo à sua batida e já era tempo de conferirmos ao vivo quão real é esta icónica artista que parece vinda do futuro (bem, no Metaverso, pelo menos, já atuou).

Para oferecer, Grimes tem uma eletrónica de múltiplas camadas, cirurgicamente sobrepostas, cheias de personalidade e pontuadas por uma voz cândida e etérea.

Da fase mais indie, diríamos, Grimes fez um caminho que hoje parece mais fincado na pista de dança – é ouvir os mais recentes singles “Shinigami Eyes” e “Player of Games” – o que calha bem, porque é em modo DJ Set que se vai apresentar no Porto.
Enquanto não chega o sucessor de “Miss Anthropocene” – e Grimes garante que vem aí uma “ópera espacial” – apostamos que difícil vai ser não nos sentirmos dançarinos de uma realidade aumentada. This girl will take you to places (ou assim esperamos). Por Filipa Silva