Um recinto a rebentar pelas costuras voltou a vibrar com a multiplicidade de estilos musicais e de espetáculos proporcionada pelo Primavera Sound, três anos depois da última edição. Os australianos Nick Cave e Tame Impala deram os grandes concertos da noite.
Quinta-feira, 9 de junho, marcou o regresso do NOS Primavera Sound após três anos de interrupção devido à pandemia da Covid-19. E o regresso foi em força, num dia que não poupou os fãs de estilos de música e espetáculos variados.
O recinto foi enchendo, sendo que à hora de jantar era difícil encontrar um local onde não se ficasse ensanduichado. Com 35 mil pessoas no recinto, as filas para comer e beber eram enormes, dando a entender que o NOS Primavera Sound se tinha tornado uma cidade aparte.
No capítulo dos concertos, dois main events eram esperados para esta noite. Aos Tame Impala, banda australiana que já esteve em Portugal seis vezes, mas que atuou pela primeira vez no Porto, coube o encerramento do palco principal. Com o Parque da Cidade cheio, restava ao público pouco espaço para dançar.
O concerto foi um espetáculo visual que fez jus ao estilo psicadélico da banda. Uma autêntica explosão de cores, com lasers à mistura. Até nos ecrãs gigantes, as imagens da banda tinham estes efeitos, tornando a experiência ainda mais imersiva.
A banda brincou no palco com a noção de espaço e na música com a noção de tempo. Tocaram de tudo, desde êxitos mais recentes a canções do primeiro álbum, datado de 2007.
Nick Cave e a lição de como dar um concerto íntimo para milhares de pessoas
Horas antes, no mesmo palco, Nick Cave and the Bad Seeds, também eles australianos mas já na terceira aparição no festival, arrebataram os milhares de pessoas que foram ao Primavera para os ver. Fosse de pé ou sentado ao piano, Nick Cave fez questão de envolver o público ao máximo na atuação, de tentar que os fãs sentissem a música tanto quanto ele a sente. Cave estava vestido a rigor e não se conteve na aproximação ao público.
Se no concerto dos Tame Impala, eram os lasers que tocavam o público, aqui foi Nick Cave a estar ao alcance dos espectadores. Poucas eram as pessoas que mexiam no telemóvel, pois sabiam que o verdadeiro espetáculo estava a passar-se mesmo à frente dos seus olhos e que esta era uma memória para levar para casa.
Foi um espetáculo emocionado, desde o êxtase da “Jubille Street” à música “O Children”, que foi dedicada às crianças presentes no concerto. Momento que ganha uma conotação especial depois da morte do segundo filho de Nick Cave, no mês de maio (é o segundo que perde em sete anos).
Pena que deste espetáculo não nos tenha sido possível registar imagens, uma vez que só alguns meios foram autorizados a fotografar o espetáculo.
Do preto e branco à explosão de cor
Entre Nick Cave e Tame Impala, foram os Cigarretes After Sex a dominar as atenções. Com um estilo que foge à chamada música “fast food”, no palco estavam os três membros da banda, cantor (também guitarrista), baterista e baixista.
O movimento no palco não foi muito, nem a comunicação com o público, mas as pessoas não pararam de se mexer nem de tentar acompanhar a música de Greg Gonzalez. Bastava o vocalista norte-americano afastar-se um bocado do microfone enquanto tocava a guitarra, para obter uma ovação do público.
Das atuações da noite, terá sido a que melhor resposta do público recebeu. Na música “Falling in love”, o público apaixonou-se pela voz de Greg Gonzalez ali mesmo. O mesmo aconteceu quando chegou a vez de “K”, uma letra que foi capaz de capturar toda a energia do público.
As luzes eram simples, tons de preto e branco, idênticas à tonalidade em que se via a banda no ecrã gigante do palco Cupra. Uma curiosidade: até os fotógrafos tiveram de captar imagens do concerto a preto e branco.
Na fase final do espetáculo, entraram as luzes, um fundo de fogo de artifício e um ambiente de festa. É o momento da noite que melhor encarna esta primeira edição do NOS Primavera Sound no pós-pandemia: depois de tudo a preto e branco, chegam as cores.
Da energia de Jhay Cortez ao headbanging com Black Midi
Ainda no início da noite, Jhay Cortez fez o palco Cupra vibrar. Os primeiros minutos contaram com a presença de um DJ para preparar o público para um dos concertos do dia. Jhay Cortez esteve menos de 60 minutos em palco, mas usou-os bem. Pirotecnia, luzes, fundos criativos no palco, bailarinas.
Tudo isto motivou o público, particularmente o feminino, a participar e muito na atuação do artista que tem já trabalhos com o compatriota Bad Bunny e o colombiano J.Balvin. Cortez não parou quieto, andou sempre de um lado para o outro e, na parte final do concerto, o palco tornou-se mesmo pequeno demais para o cantor que tirou selfies e deu autógrafos a fãs da primeira fila.
Ao longo do concerto, colocou ao público uma questão que pode ser ouvida também no maior sucesso de Cortez com Balvin e Bad Bunny “Me sigues o no sigues?”. A resposta, Jhay, é sim, parece que o público português te segue mesmo.
Para os fãs de música rock, os Black Midi levaram o rock britânico ao palco Binance. Um concerto em que a banda não interagiu tanto com o público, mas onde foi possível à audiência dançar e desfrutar da música. O famoso headbanging foi adotado pelo público, num espetáculo que apesar de não ter notas de grande destaque, cumpriu a sua missão.
No domínio da música nacional, Pedro Mafama, fez o contrário do que o seu sobrenome indica e deu uma boa imagem do seu trabalho ao público. Teve a responsabilidade de ser o primeiro a atuar no palco principal, vestido de tons de rosa que destacavam a sua presença. O intérprete português falou de como em 2019 era apenas um fã do outro lado da barricada e três anos mais tarde está no palco do festival.
Quem esteve aquém da expectativa foi Arrogance Arrogance. A atuação propriamente dita do DJ portuense não foi má, mas tendo em conta que o fundador das festas ÁCIDA é conhecido por engajar de tal forma o público que os concertos se assemelham a raves, aqui, o público não dançou por aí além e, o que dançou, foi de uma forma bastante casual. O facto de o concerto ter decorrido ainda cedo, pelas 23h00, pode não ter ajudado.
Artigo editado por Filipa Silva