Estado de saúde do escritor, que foi atacado a 12 de agosto em Nova Iorque, não lhe permite viajar. Visita à Livraria Lello, marcada para 17 de setembro, fica adiada. Ainda assim, livraria mantém Rushdie como "Autor do Mês" de setembro. Grupo Leya, que coordena a vinda a Portugal, confirma ao JPN que o último livro do escritor chega às bancas portuguesas em outubro.

Escritor esteve pela última vez em Portugal em 2016 Foto: Beowulf Sheehan/PEN American Center/Opale

Alvo de um violento ataque que o deixou ligado a um ventilador e que lhe poderá deixar sequelas físicas para a vida, Salman Rushdie, de 75 anos, está em recuperação, mas impedido de viajar. Assim, o autor já não vai estar no Porto, no dia 17 de setembro, como estava previsto, para um evento em sua homenagem.

A Livraria Lello, organizadora do evento, confirmou esta quarta-feira, em nota de imprensa, o que era já esperado: “O autor cancelou a visita a Portugal, (…) mas deixou em aberto a possibilidade de retomar o plano, logo que a condição médica o permita.”

Mesmo sem a presença do escritor, a icónica livraria do Porto decidiu dedicar-lhe o mês de setembro: “Salman Rushdie continuará a ser o nosso Autor do Mês, por isso convidamos todos os nossos leitores a celebrar a sua obra da melhor maneira possível: lendo-a (ou relendo-a)”, declarou Aurora Pedro Pinto, administradora da livraria, na nota enviada às redações.

Salman Rushdie esteve pela última vez em Portugal em 2016. No início de agosto, a Livraria Lello anunciou a vinda do escritor ao Porto, para protagonizar uma conversa sobre a sua longa carreira literária com a jornalista, escritora e crítica Isabel Lucas.

Quatro dias depois do anúncio, o escritor foi hospitalizado de emergência, depois de ter sido esfaqueado durante um evento literário em Nova Iorque, no qual participava como orador convidado.

Ataque pode deixar sequelas para a vida

O atacante, de 24 anos, subiu ao palco no decorrer do evento e terá esfaqueado Rushdie pelo menos uma dezena de vezes, provocando-lhe lesões nos nervos de um braço, no fígado e num olho, que poderá vir a perder. O autor teve de ser transportado de helicóptero para um hospital. 

Só voltou a falar dois dias depois, tendo sido nessa altura retirado do ventilador, segundo revelou à imprensa norte-americana o agente literário, Andrew Wylie.

O suspeito, Hadi Matar, declarou-se inocente em tribunal, mas saiu acusado de tentativa de homicídio e agressão. Numa entrevista dada depois ao “New York Post” a partir da prisão considerou que Rushdie era “alguém que atacou o Islão”, sem no entanto confirmar se o ataque foi motivado pela fatwa lançada em 1989 sobre o autor nascido na Índia.

O pronunciamento foi feito pelo então líder religioso do Irão, uma condenação à morte do escritor que levou a que Rushdie tivesse de viver sob proteção policial durante anos. Motivo? A publicação, em finais de 1988, de “Os Versículos Satânicos”, romance que o aiatola Khomeini considerou uma blasfémia “contra o Islão, o Profeta e o Alcorão”.

“Os Versículos Satânicos” são o seu livro mais polémico, mas não o mais premiado. Antes dele, em 1981, Salman Rushdie conquistou o público com “Os Filhos da Meia-Noite” – editado em Portugal pela Dom Quixote como, de resto, todos os seus livros – e recebeu o Booker Prize pelo livro, o qual mereceria ainda o Booker of Books, em 1993, e o Best of the Booker, em 2008.

Novo livro chega a Portugal em outubro

A obra do escritor é dominada pelos romances, mas são também muitos os livros de ensaios que assina. E é de ensaios, justamente, a próxima obra do escritor a chegar às bancas portuguesas, como confirmou ao JPN fonte oficial do grupo Leya – que detém a Dom Quixote e que estava a coordenar a visita do autor a Portugal. 

Chama-se “Linguagem de Verdade”, reúne textos escritos durante as primeiras duas décadas do século XXI – “sobre outros escritores, sobre temas da atualidade, como a guerra, sobre o nosso quotidiano”, indicou a mesma fonte -, e chega às bancas portuguesas em outubro, cumprindo o calendário que já estava previsto.