Obra decorre dentro do calendário previsto, mas com custos acrescidos em resultado do aumento dos preços dos materiais de construção, da mão de obra e da necessidade de procurar alternativas ao nível dos fornecedores. Secretário de Estado da Mobilidade esteve no Porto para assegurar que o Governo tudo fará "para que o projeto não pare". Na Praça da Galiza, está tudo a postos para começar a escavação dos túneis.

 

Tudo pronto para dar início à escavação dos túneis que vão ligar a Galiza ao Santo António, primeiro, e à Casa da Música, depois. Foto: Filipa Silva

Na Praça da Galiza, estação “charneira” da futura Linha Rosa do metro do Porto, já se escavou “tudo o que havia para escavar”. Agora, explica o administrador Tiago Braga com os olhos postos num fosso de 20 metros de profundidade no qual se abrigará uma nova estação, está tudo a postos para começar a furar a terra.

Duas frentes de túnel vão ser abertas naquele local: a primeira, para ligar a Galiza ao Hospital de Santo António; a segunda, para o túnel que conduzirá o metro na direção do polo Boavista/Casa da Música.

O primeiro túnel deve arrancar entre “a última semana de setembro e o início de outubro”. “Um mês depois, sensivelmente”, será a vez do segundo.

Numa linha de quase três quilómetros e quatro paragens que vão ser totalmente subterrâneas – de São Bento à Casa da Música -, os túneis são “o mais importante em termos de plano de trabalhos” e esses deverão estar todos em construção até ao final do ano.

O que vai mais adiantado é o que está a ser construído junto à Casa da Música. “Temos mais ou menos metade do túnel feito, entre a Rua Norton de Matos e a Estação da Casa da Música. É um ramal de injeção de via simples, isto é, é por onde vão entrar os veículos vindos do tronco comum para a Linha Rosa”, explicou ainda o responsável numa visita de Imprensa realizada na manhã desta quinta-feira (8).

Na futura Estação da Galiza prosseguem os trabalhos da Linha Rosa. Foto: Filipa Silva

No total, a empreitada terá sete frentes de túnel em simultâneo nas quais se vai trabalhar 24 horas por dia. A escavação não será feita com uma tuneladora – como aconteceu com a famosa “Micas” na primeira fase de construção do metro do Porto. 

“É com avanços sucessivos. Fazemos umas enfilagens, e para desfazer a rocha utilizamos métodos mecânicos ou explosivos. É também o melhor em termos de vibrações e ruído, porque há um impacto, mas é momentâneo. Depois removemos o material que é destruído pela explosão. E sempre que avançamos vamos fazemos sondagens horizontais, para sabermos o que está por lá daquilo que não vemos”, descreveu.

Avanço nos túneis será o melhor “remédio” para o ruído

As obras da Linha Rosa, que arrancaram em 2021 e que se vão prolongar até ao final de 2024 – se tudo correr dentro dos prazos previstos e feitos os testes de segurança pré-operação, a linha estará a funcionar no final do primeiro trimestre de 2025 – tem obrigado a muitos constrangimentos no centro da cidade do Porto, no trânsito, no comércio e também entre os moradores.

Os que vivem junto ao Jardim do Carregal, nas imediações do Hospital de Santo António, são os mais recentes queixosos, como deu conta o “JN” desta quarta-feira. 

Sobre o assunto, Tiago Braga garantiu, por um lado, que “o ritmo de trabalho não vai ser alterado” e, por outro, que há “medidas de mitigação do ruído” em curso, e deu exemplos: “revestimento da boca do túnel com telas que absorvem ruído; proteções verticais – como as da autoestrada, mas mais flexíveis -, a colocação de uma canópia sobre um terço do poço e estamos a tentar identificar equipamentos com nível de potência sonora inferior. Não podemos é dizer que vamos deixar de ter ruído. Só haverá redução significativa quando estivermos em túnel, o que nós prevemos que aconteça a muito curto prazo.”

Derrapagem nos custos é certa, mas é cedo para estimativas

Presente na visita, o antecessor de Tiago Braga na presidência do Conselho de Administração da Metro do Porto, hoje secretário de Estado da Mobilidade Urbana, Jorge Delgado Alves, saudou o facto de o projeto estar “a ser cumprido” e de as obras estarem “a correr bem”.

Mas se ao nível dos prazos os trabalhos decorrem dentro do previsto, o mesmo não acontece nos custos que serão superiores ao orçamentado. “É inevitável”, assumiu o governante. O aumento do custo dos materiais de construção e da mão de obra e a necessidade de procurar alternativas ao nível dos fornecedores, consequência sobretudo da Guerra da Ucrânia, foram os motivos apontados.

“A Ucrânia era um dos principais produtores mundiais de aço”, exemplificou Tiago Braga.

Tiago Braga (à esq.), Rui Moreira (ao centro) e Jorge Delgado Alves (à dta.) estiveram na visita de Imprensa desta quinta-feira (8). Foto: Filipa Silva

De quanto será o acréscimo, ainda “é cedo” para saber, sendo que “20 a 30% é o número que toda a gente refere”. No total, o Governo orçamentou para a expansão da rede do metro no Porto – Linha Rosa mais a extensão da Linha Amarela em Gaia, de Santo Ovídio a Vila d’Este – 470 milhões de euros.

“Vai requerer um esforço grande da parte do Estado para poder acrescentar as verbas necessárias para que o projeto não pare, mas estamos cá para isso”, assegurou Jorge Delgado Alves. “No limite”, o reforço de verba que vier a ser necessário sairá do Orçamento do Estado, esclareceu ainda.

A garantia deixou também satisfeito o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, para quem a “obra tem que continuar. Não pode parar”.

Quanto às queixas relativas ao ruído, o autarca considera que são naturais e inevitáveis. O ganho, argumenta, será sempre maior que as perdas: As pessoas só vão ficar satisfeitas com a obra, quando não houver obra. É nessa altura que vão perceber que houve uma mudança no paradigma do transporte na cidade, com um impacto enorme na qualidade de vida, no ambiente e na sua bolsa, porque é muito mais barato andar de metro do que no transporte individual”, afirmou.

A Linha Rosa é uma linha circular com 2,7 quilómetros de extensão, que se vai articular com a Linha Amarela, em São Bento, e com as restantes linhas da rede de metro na Casa da Música.

Terá quatro estações (Liberdade/São Bento; Hospital de Santo António; Praça da Galiza e Boavista/Casa da Música). O valor base da obra foi de 175 milhões de euros. A empreitada está a cargo do consórcio Ferrovial/ACA.