Correu tudo mal para os dragões e os belgas não perdoaram. O Club Brugge superiorizou-se e foi até ao Dragão vencer por 0-4 o FC Porto numa noite trágica que isola os dragões no último lugar do Grupo B.

Com 17 anos e 149 dias, o norueguês Antonio Nusa tornou-se no segundo marcador mais jovem da história da Liga dos Campeões. Foto: UEFA Champions League/Facebook

Depois da derrota de há uma semana em Madrid, esta noite de terça-feira no Dragão era a oportunidade perfeita para o Futebol Clube do Porto somar os primeiros pontos na Liga dos Campeões, mas o favoritismo de nada serviu. O Club Brugge dominou e construiu um resultado histórico por cima de uma equipa portista demasiado previsível e sem rasgo para inverter a tendência do jogo. 0-4 foi o resultado final e ainda não foi desta que o FC Porto somou os primeiros pontos nesta edição da UEFA Champions League.

45 minutos de mau agoiro

Com Taremi suspenso e o regresso inesperado de Otávio ao onze inicial, o FC Porto entrou em campo com uma tarefa em mãos que não se adivinhava fácil, mas, com certeza, não se adivinhava tão difícil.

A equipa de Sérgio Conceição até entrou bem no jogo e logo aos quatro minutos fez transpirar os defesas da equipa belga. Wanderson Galeno recebeu na profundidade dentro de área, mas atirou à malha lateral da baliza defendida por Simon Mignolet. Os portistas pareciam querer pressionar, ter bola e ditar o ritmo, mas o Brugge fez questão de não ceder e respondeu à altura.

Os primeiros minutos permitiram a criação de boas jogadas de ambos os lados, mas foi de bola parada que o nó no marcador se desatou e que as coisas começaram a descambar para os da casa. João Mário foi infeliz na abordagem defensiva dentro da área e derrubou em falta o avançado Ferrán Jutglà. O árbitro não teve dúvidas, assinalou grande penalidade e o próprio Ferrán Jutglà, chamado a bater, não desperdiçou e fez o primeiro na partida.

Como diz o ditado: daqui para a frente, só para trás. O FC Porto eclipsou-se e não voltou a estar por cima no jogo. As jogadas confusas, a notória fragilidade no comportamento defensivo e a falta de critério no momento do passe e da decisão não auguravam grandes destinos para os portistas nesta noite europeia.

Os belgas não recuaram, mas passados oito minutos foi a vez do Porto cheirar o golo. Após uma bela jogada coletiva, Pepê recebeu isolado um passe de Otávio e fez levantar a bancada portista. No momento da decisão, o avançado brasileiro perdeu para Simon Mignolet. O guarda-redes belga fez a mancha e travou o empate com uma grande defesa.

À passagem do minuto 30, foi a vez do Club Brugge causar perigo. João Mário falhou o passe e perante o erro defensivo, Kamal Sowah isolou-se, mas perdeu no “um para um” com Diogo Costa e rematou à figura.

Antes do intervalo, houve tempo ainda para mais uma ocasião de golo para a equipa belga: após um contra-ataque bem construído, Andreas Skov Olsen teve nos pés a oportunidade de dilatar a vantagem, mas o remate não saiu bem e Diogo Costa conseguiu segurar a dois tempos com relativa tranquilidade.

Ao intervalo eram já quatro os cartões amarelos mostrados na partida, todos para a equipa belga. Um indicador claro da dureza que a equipa de Brugge quis imprimir no jogo. 0-1 era o resultado no regresso aos balneários.

Se na primeira parte a frouxidão do jogo portista se começava a notar, na segunda parte foi por demais evidente. Não houve fio de jogo, faltaram as ideias e a dada altura até as pernas deixaram de responder. O Club Brugge não se fez rogado e aceitou (e cumpriu) a missão de fazer cair com estrondo a equipa de Sérgio Conceição perante os próprios adeptos.

A tempestade sem bonança

Sérgio Conceição ainda fez entrar ao intervalo Danny Loader e Toni Martínez para os lugares de João Mário e Evanilson de modo a aumentar o caudal ofensivo da equipa, mas de nada serviu. O Club Brugge não precisou de nem dois minutos para alargar vantagem. A defesa portista tremeu por todos os lados e nem Pepe, David Carmo ou Eustáquio conseguiram aliviar a bola da sua área. Com tanta cerimónia, a bola sobrou para Kamal Sowah que quase se sentiu convidado a finalizar e fez o segundo para os visitantes.

O Porto não soube como responder à desvantagem e nem cinco minutos foram precisos para o Club Brugge voltar a fazer abanar as redes da baliza de Diogo Costa. Bjorn Meijer ultrapassou Pepê com toda a classe, arrancou pelo flanco esquerdo e assistiu Andreas Skov Olsen com um cruzamento rasteiro. O avançado apareceu sozinho ao segundo poste e só teve de encostar para o 0-3.

Com a diferença de três golos no marcador e uma atitude apática e previsível dos seus jogadores, Sérgio Conceição voltou a recorrer ao banco para ir atrás do resultado e agitar as coisas em campo. Novamente, dois homens frescos para o ataque: Gabriel Veron rendeu Galeno e Gonçalo Borges entrou para o lugar de Otávio (que já dava muitas mostras de debilidade física).

Os jogadores mudaram, mas a história do jogo manteve-se. O Porto não estava inspirado, não tinha rumo e, para além da inaptidão ofensiva que impedia os dragões de reduzir a desvantagem, a fragilidade defensiva fazia temer o aumento da diferença no marcador. A noite estava com contornos de tal modo trágicos que o FC Porto a jogar em casa, em noite de Champions, a perder 3-0 frente ao terceiro classificado do modesto campeonato belga parecia preocupar-se mais com a manutenção do resultado do que com a reviravolta.

Mas nem reviravolta nem manutenção do resultado. O pesadelo portista parecia não ter fim e aos 89 minutos foi a vez de Antonio Nusa dar o golpe final. O jovem nascido em 2005 beneficiou de mais um dos muitos erros defensivos do FC Porto, recebeu na profundidade e só teve de escolher onde colocar a bola na baliza de Diogo Costa. Estava feito o 4-0 e instalada a festa belga no Dragão.

O árbitro grego Tasos Sidiropoulos ainda deu quatro minutos de compensação, mas o golo encerraria a história do jogo. O FC Porto soma assim uma das maiores derrotas em casa no seu histórico nas competições europeias e a quarta derrota consecutiva na Liga dos Campeões. A equipa de Sérgio Conceição saiu do relvado sob uma chuva forte de assobios dos poucos adeptos que se mantiveram nas bancadas para lá do apito final.

O resultado foi justo, não houve uma clara superioridade no número de oportunidades, mas o Brugge superiorizou-se, sem margem para dúvidas, na qualidade das oportunidades criadas. Os belgas foram eficazes ofensivamente, consistentes defensivamente e muito fortes nos duelos físicos, enquanto os portistas não conseguiram nunca estabelecer um fio de jogo sólido e responder àquilo que o jogo exigia. Quando assim é, sobra ao FC Porto aplaudir o desempenho dos visitantes e reconhecer o demérito desta noite pobre de futebol.

Conceição aponta culpas próprias na derrota

Em conferência de imprensa, Sérgio Conceição deu a cara pelo resultado e assumiu a responsabilidade pelo que se passou dentro das quatro linhas. Relembrou também a “intranquilidade sem necessidade” da equipa após “dois ou três erros individuais”. 

“É difícil explicar uma noite assim”, afirmou ainda o técnico. “Em todos os momentos do jogo, não fomos a equipa que costumámos ser. Passividade, duelos perdidos, a equipa esteve por várias vezes partida, o que não é normal”, analisou o técnico que prometeu “dissecar” este jogo ao máximo antes de defrontar o Estoril para o campeonato.

Carl Hoefkens, treinador do Club Brugge, diz que pensou em ganhar, mas admitiu que “não esperava este resultado”. Deixou também elogios à equipa do FC Porto: “Sabíamos que o FC Porto nos iria pressionar alto com três jogadores e isso não é fácil de contrariar. Este jogo exigiu muita energia do meu plantel, que conseguiu executar na perfeição o plano tático delineado”.

No outro jogo do grupo B, o Bayer Leverkusen venceu por 2-0 o Atlético Madrid. Neste momento, o Club Brugge lidera o grupo com seis pontos, ao qual se seguem Leverkusen e Atlético empatados com três pontos e no último lugar está o FC Porto sem qualquer ponto somado em duas jornadas.

Os dragões voltam a entrar em campo no próximo sábado, dia 17, em casa do Estoril Praia em jogo a contar para o campeonato. Nos palcos europeus, têm encontro marcado frente ao Leverkusen no dia 4 de outubro, no Estádio do Dragão.

Artigo editado por Filipa Silva