[Crítica] O novo thriller de Olivia Wilde era, ainda antes da estreia, esta quinta-feira (22), ansiado por muitos, em especial pelos fãs de Harry Styles. Anunciada como um terror psicológico, a película é um extenso acumular de clichés cinematográficos, e uma reprodução da ideia de alguns clássicos do género.

Harry Styles contracena no filme com Florence Pugh. “Não te Preocupes, Querida” é o título em português. Frame do filme "Don't Worry Darling"

Da história mais recente do cinema, fazem parte distopias e thrillers psicológicos com a capacidade de dar uma reviravolta na maneira como vemos a arte e o mundo. Filmes como A Clockwork Orange (1971), de Stanley Kubrick, The Truman Show (1998), de Peter Weir, ou Black Swan (2010), de Darren Aronofsky, são, nesses domínios, grandes exemplos. Como nas séries são marcantes, ou até revolucionárias, produções como “The Twilight Zone” ou “Black Mirror”, esta última em tempos mais recentes.

Foi com referências deste género que nos foi vendido Don´t Worry Darling, a longa assinada por Olivia Wilde, que esta quinta-feira (22) estreou nas salas nacionais. Trata-se da história de uma utópica comunidade experimental, onde há muitos segredos escondidos. Um thriller distópico, “estilo ‘Black Mirror’”, para mais com a participação de uma das caras mais mediáticas do século XXI. E aqui surge o primeiro de muitos problemas: Harry Styles.

Ao contrário do que muitos críticos fazem crer, o ator esteve à altura do seu papel – o possessivo Jack Chambers -, não tendo, embora, tido uma prestação de Óscar. O problema não esteve, por isso, na representação de Harry, mas na maneira como a sua presença sufocou a talentosíssima Florence Pugh, exímia no papel de Alice Chambers, uma dona de casa dos anos 50 que começa a ter dúvidas sobre a realidade em que vive. Mas, lá está, foi Harry Styles quem absorveu a atenção da sala de cinema, onde se distribuíam autocolantes alusivos ao cantor e se discutiam concertos.

A base para um bom thriller é sempre a mesma: um guião sólido e criativo. A guionista Katie Silberman falhou os dois aspetos. Pescoços cortados, alucinações e perseguições hollywoodescas em carros. O argumento junta todos os clichés dos filmes de terror psicológico e mistura tudo numa tigela que, para mais, é demasiado grande para o conteúdo: o filme não é muito longo (2h02), mas parece, devido às cenas repetitivas, com a mesma banda sonora de suspense, as mesmas expressões faciais, o mesmo desenlace previsível.

De realçar é, no entanto, a cinematografia. A exímia realização permitiu que várias cenas se tornassem mais interessantes do que os diálogos faziam esperar. Os cenários, os movimentos da câmara e o tom do filme no que à cor diz respeito, são muito bem conseguidos, embora muitas vezes nos fizessem lembrar de técnicas utilizadas por Aronofsky, inspiração evidente da realizadora, Olivia Wilde (note-se que esta é apenas a sua segunda longa-metragem) em todos os aspetos, desde as técnicas de gravação às ideias exploradas, de que é exemplo o conceito de simetria, presente ao longo do filme e particularmente no ballet.

Mais um filme que passa, com pouco a reter. Resta o divertimento dos cenários peculiares e de alguma emoção que este género quase sempre contém. Um exemplo do que é, hoje, a indústria do cinema: umas caras conhecidas, algum drama, efeitos sonoros e, aqui e ali, uma ponta de criatividade, alicerçada, sempre, nos grandes nomes da sétima arte.

Artigo editado por Filipa Silva