Face aos preços de habitação registados neste ano, dois alunos da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP) juntaram forças e criaram o "Estudantes de Letras pela Habitação", um movimento que quer lutar pelo direito "a estudar e a viver".

Movimento foi criado por estudantes da Faculdade de Letras da Universidade do Porto.

A iniciativa “Estudantes de Letras pela Habitação” é um movimento estudantil, criado no arranque do ano letivo na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, com o objetivo de lutar pelo direito à habitação. O projeto ainda está numa “fase embrionária”, mas começa agora a juntar os estudantes e a apelar à participação em futuras ações de protesto.

Os estudantes que encabeçam este projeto são Tomás Nery, estudante de Sociologia e fundador da plataforma Quarentena Académica, e António Soares, que frequenta a licenciatura de Geografia e é membro eleito do Conselho Pedagógico da faculdade, sendo ainda deputado municipal em Santo Tirso.

Ao JPN, os dois estudantes afirmam que o projeto foi a resposta que encontraram perante um “cenário asfixiante” no campo da habitação, resultante de eventos como a crise de 2008, a pandemia da Covid-19 e, mais recentemente, o conflito entre a Rússia e a Ucrânia. Ficar indiferente não era uma opção e, graças a “um conjunto bastante alargado de jovens estudantes”, o projeto saiu do papel para enfrentar a realidade.

Somos uma geração que não aceita a vida precária a que nos querem condenar e que, por isso, compreende que necessitamos de nos organizar para exigir aquilo que é nosso por direito“, afirma Tomás Nery.

Apesar de participarem ativamente na vida política, os jovens garantem que o movimento criado é totalmente desligado de partidos e ideologias políticas: “Este movimento é 100% apartidário. Isto não significa, no entanto, que estudantes com filiações partidárias não se possam juntar a nós. Todos são bem-vindos. Temos como objetivo único e exclusivo a representação dos interesses dos estudantes da Faculdade de Letras”, acrescenta Tomás Nery.

O objetivo principal do movimento é “garantir que todos, independentemente da sua condição financeira, consigam continuar a estudar”, tal como uma maior igualdade no acesso ao ensino e a melhores condições de vida, referiu o estudante.

Os mentores do movimento já possuem várias iniciativas em mente, desde debates a ações de sensibilização, que serão posteriormente divulgadas na página de Instagram do projeto. A participação dos estudantes nas atividades é incentivada, tal como a proposta de outras ideias: “Quanto mais estudantes aderirem a esta causa, mais poder teremos para defender os seus direitos e para lutar pelas suas justas reivindicações”, remata.

Abaixo-assinado reúne 250 assinaturas em duas horas

A primeira atividade aconteceu na terça-feira (04), com a distribuição de panfletos informativos na faculdade e um abaixo-assinado que será entregue no dia 20 de outubro à Reitoria da Universidade do Porto e ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. Segundo Tomás Nery, foram recolhidas “mais de 250 assinaturas no espaço de duas horas“.

Embora seja um movimento focado na comunidade de Letras, os envolvidos esperam que a iniciativa tenha, de forma mais geral, “bastante impacto na consciencialização necessária para a resolução da crise habitacional”.

Recentemente, o Governo português assinou 134 projetos de obras de reabilitação e construção de residências universitárias. Estas obras fazem parte do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), que teve  agora um reforço de 72 milhões de euros, de forma a alcançar um total de 26 mil camas disponíveis, até 2026. Apesar do novo investimento, a ministra da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Elvira Fortunato,  admite que a meta não responde ao problema presente.

Numa entrevista publicada no último fim de semana no “Expresso”, a nova responsável pela pasta lembrou que “este ano” foi atualizado “o complemento [de bolsa] que é dado aos estudantes deslocados que não encontram quarto numa residência”, mas admitiu que existem “mais de 100 mil alunos deslocados” pelo que vão ser necessárias mais “ajudas” além das verbas do Orçamento do Estado e da União Europeia para “conseguirmos resolver o problema”.

Artigo editado por Filipa Silva