A 51.ª edição do Portugal Fashion traz consigo incertezas sobre o futuro. A diretora do evento, Mónica Neto, fala sobre a falta de apoios públicos, mas mantém-se otimista. O modelo organizativo descentralizado, com desfiles espalhados pela cidade, é para continuar.
Desde a criação do evento, em 1995, que a Alfândega do Porto é a grande casa do Portugal Fashion. Este ano, porém, a maior parte dos desfiles tem lugar no exterior do edifício em localizações variadas como os Clérigos, o Mercado do Bolhão ou o Palácio da Bolsa.
A expansão do evento para lá das paredes da Alfândega tem o objetivo de levar as marcas de autor portuguesas até a um público mais vasto – nacional e estrangeiro -, de forma a potenciar a divulgação do evento. No entanto, a falta de financiamento, numa fase de transição entre quadros comunitários, aumenta o clima de incerteza em relação ao futuro do Portugal Fashion.
O JPN esteve à conversa com Mónica Neto, diretora do evento desde 2018, sobre às expectativas das próximas edições, a transição do financiamento de fundos públicos para fundos privados, e o impacto da atual recessão económica na indústria da moda.
JPN – Ao segundo dia, que balanço faz desta edição do Portugal Fashion?
Mónica Neto (MN) – Esta é uma edição em que estamos a inaugurar um modelo organizativo completamente diferente. Era um sonho antigo espalhar o Portugal Fashion pelo Porto, para adotarmos um modelo de desfiles em vários sítios utilizado nas principais capitais da moda europeias. Obviamente, que é um grande desafio de produção, mas estamos muito contentes com os resultados. Estamos ainda a meio da jornada, mas o primeiro dia com desfiles na rua foi realmente uma concretização, visto que as pessoas na cidade perceberam a mensagem do evento. Portanto, estamos com as expectativas muito positivas em relação ao futuro do Portugal Fashion, e queremos que isto nos posicione de forma cada vez mais competitiva a nível internacional.
JPN – O objetivo é aproximar o Portugal Fashion de outras semanas da moda internacionais?
MN – Exatamente. O Portugal Fashion já tem essa experiência, porque desde muito cedo começamos a organizar desfiles internacionais, apoiamos os designers portugueses em semanas da moda como Milão, Paris e Londres. Portanto, o facto de nós fazermos eventos por todas as cidades por onde passamos é algo que realmente queríamos trazer para Porto, adotar um modelo periférico da moda. A Alfândega do Porto, na qual estivemos em muitas edições, é realmente um edifício maravilhoso, mas o Portugal Fashion estava muito fechado em si mesmo neste edifício. Por isso, a ideia era amplificar aquilo que fazemos.
JPN – Qual é o futuro do Portugal Fashion?
MN – Historicamente houve um financiamento principal de fundos comunitários ao projeto, e agora estamos numa fase de transição entre quadros comunitários. Durante este processo ficamos um pouco sem rede. A expectativa neste momento passa também pelo Ministério da Economia e que até ao final do ano exista uma nova abertura de concursos. Portanto, nesta edição em concreto, estamos aqui a falar de um esforço grande da Associação Nacional de Jovens Empresários (ANJE) e dos parceiros institucionais que apoiaram o projeto. Esperamos que no próximo ano haja outros apoios para realizar o evento.
JPN – O objetivo é fazer uma transição para fundos privados?
MN – É um objetivo em que já temos vindo a trabalhar há algum tempo. Quando o Portugal Fashion começou a ganhar uma escala de internacionalização, precisou muito destes fundos de apoio. Como resultado, temos trabalhado a sustentabilidade financeira com fundos privados de forma crescente, fazendo um caminho bastante sustentado em termos de criação de outras formas de financiamento. Portanto, atualmente, os fundos comunitários representavam já 50% daquilo que era o orçamento de uma edição nacional. Ainda assim, esta transição foi difícil, porque ainda há um caminho a concretizar. Neste momento, ainda há alguma dependência, portanto, precisávamos realmente desse apoio. Achamos que este modelo pode ajudar muito nisso, de realmente dar mais impacto ao evento na cidade, dar-lhe mais escala, para que outros apoios possam juntar-se a nós e outros fundos possam ter aqui mais visibilidade.
JPN – Esta será a última edição do evento?
MN – Esperemos que não. Estamos a trabalhar para viabilizar o projeto, mas no percurso que estamos a fazer ainda há uma transição por concluir. As expectativas neste momento são positivas no sentido de poder dar continuidade. Vamos esperar que tudo corra bem.
JPN – Na atualidade, há expectativa de recessão na indústria da moda?
MN – A pandemia trouxe algumas dificuldades e, atualmente, o contexto económico de inflação mudou uma parte da indústria, trouxe uma expectativa mais contida em relação àquilo que são os resultados nesta área. Ainda assim, o sentimento por parte dos designers sobre esta moda de autor que representamos nos desfiles é otimista. Há algum caminho que tem sido evolutivo no que respeita o posicionamento da criação portuguesa além da produção. O made in Portugal está bem posicionado e a moda de autor portuguesa começa a ter aqui um crivo muito forte e um reconhecimento importante. Portanto, há alguns receios, algumas dificuldades acrescidas, mas de alguma forma também há um caminho que tem sido feito com bons resultados. Estamos também a tentar apoiar os designers ao máximo e daí também a importância, nesta fase de contexto económico mais difícil, de conter aquilo que é o apoio dos fundos privados e de continuar a ter apoio público.
Artigo editado por Filipa Silva