Foi no sábado (8), no Super Bock Arena, que Sam The Kid juntou gerações ao som das suas músicas. Proporcionou “uma noite nostálgica” aos fãs ao revisitar a carreira, enquanto um dos artistas fundamentais do hip-hop nacional.
Foi a quinta vez que Samuel Mira, mais conhecido como Sam The Kid, partilhou o palco com os Orelha Negra e a Orquestra, depois dos concertos em 2019, 2020 e 2022. No entanto, apenas um destes teve lugar na Invicta (2019), e, apesar de muito semelhante, este regresso ao formato contou com um alinhamento diferente. Houve também menos convidados, mas quem assistiu não viu goradas as expectativas.
A noite ficou marcada por clássicos como “Retrospetivas de um amor profundo”, “Sofia” e “Poetas de Karaoke”. Como é habitual, o público entoou de cor o repertório do rapper de Chelas, que deixou para o fim o velho hábito de “brincar” com a caixa de ritmos, instrumento que o acompanha desde o início.
Na plateia do Pavilhão Rosa Mota dominava o público na casa dos 25 aos 40 anos, na maioria fãs que cresceram a ouvir o artista na sua fase de maior sucesso. No ar, apesar do espaço estar ocupado pela metade, sentia-se a energia típica de uma casa cheia.
As portas abriram às 20 horas, uma hora antes do início do concerto. Enquanto os fãs escolhiam o seu lugar, DJ Cruzfader ficou encarregue de tornar o ambiente acolhedor com uma mistura musical adequada ao que viria a seguir.
Vinte minutos depois da hora marcada, a Orquestra dirigida por Pedro Moreira e os Orelha Negra subiram ao palco para dar início ao concerto. Ao som de um instrumental, entrou também em palco uma grande figura da vida de Sam The Kid: o pai, Napoleão Mira.
Quando Napoleão foi atingido pelos holofotes e começou a recitar um poema da sua autoria, o público arrepiou-se. E foi assim, apenas com a voz e as palavras, que o pai de Sam – que conta já com dois discos assinados – deu início a uma noite que se configuraria memorável.
Findo o poema, chegou o momento por que todos esperavam. Sam The Kid foi recebido com uma enchente de aplausos ao som de “A partir de agora”, a primeira música do concerto.
À medida que as canções se foram seguindo umas às outras, a plateia ficou cada vez mais envolvida. Para cantar o clássico “Juventude é Mentalidade”, Sam fez-se acompanhar do segundo convidado, NBC.
“Porque vale a pena relembrar quem já não está presente”
Ao som do tema “Sangue”, Samuel Mira homenageou o avô, com vídeos e fotografias. “Gravava e escrevia as minhas músicas no meu quarto. Ao meu lado, estava o meu avô e eu disse-lhe que queria que ele entrasse na música. Ele improvisou oito barras com rimas ABAB e só pensei que afinal saía a alguém”, recordou o artista com saudade na voz.
Na onda de nostalgia e intimidade, o rapper Beto di Ghetto, que morreu em 2017, também foi relembrado com um vídeo, ao som de um instrumental produzido pela Orquestra e um solo dos coros.
Quando o artista pronunciou as palavras “vamos agora mostrar de onde eu venho”, o público ficou em êxtase por saber o que estava por vir. Enquanto os fãs gritavam “Gaia/Chelas, Gaia/Chelas, Gaia/Chelas”, subiu ao palco Mundo Segundo, companheiro de longa data, para cantar um dos primeiros hits da dupla. Seguiu-se o tema “Tu não sabes”, com o público a saber bem a letra e a acompanhar a energia dos artistas.
E como, por tradição, o melhor fica para o fim, a reta final do concerto ficou marcada pelos temas “Retrospetiva de um amor profundo + escola da vida”, “Hereditário”, “Sofia” e “Poetas de Karaoke”. Numa só voz, a plateia cantou a plenos pulmões com Sam e o ambiente relembrou os mais esquecidos do porquê de ser uma das maiores figuras do hip-hop português. “Sendo assim”, de 2018, foi a música escolhida para a despedida.
“O melhor rapper de Portugal”
Ao longo dos anos, Sam The Kid acumulou admiradores de norte a sul do país. Margarida Silva, de 25 anos, veio “diretamente da raiz”, Chelas. Nunca tinha assistido a um concerto do artista, mas a junção com a Orquestra foi o que a motivou: “Ter o complemento da Orquestra enriqueceu muito o concerto”, disse no final ao JPN.
Alexandre Correia (35) veio só acompanhar, mas confessou que foi conquistado pela música “O Recado” que tem “uma letra tão bem construída do início ao fim para contar uma história”.
Quem também nunca tinha visto Sam The Kid neste formato foi Tiago Jardim, para quem o rapper de Chelas “nunca desilude”: “É o melhor rapper de Portugal”, sentenciou no final do concerto o jovem madeirense, atualmente a estudar no Porto.
Nuno Sousa foi outro dos fãs a marcar presença, ele que já assistiu a inúmeros concertos. O jovem de 26 anos destacou que o “hip-hop tuga” sofreu várias alterações e que é importante esta “passagem de geração em geração” para mostrar “de onde realmente vem o hip-hop português”.
Artigo editado por Filipa Silva