Estelita Mendonça, Pedro Pedro, Hugo Costa, Alexandra Moura, Miguel Vieira e Diogo Miranda marcaram a manhã e tarde do último dia do certame. Se o financiamento permitir, o evento regressa em março. 

A 51.ª edição do Portugal Fashion terminou em grande, este sábado (15), levando os desfiles a vários pontos centrais e emblemáticos da Invicta.

No recém-inaugurado Mercado do Bolhão concentraram-se amantes da moda, mas também comerciantes e curiosos para ver as coleções de Alexandra Moura e Miguel Vieira, num ambiente de fusão.

Já na Oficina do Ferro, durante a manhã, o cenário de arte urbana e grafitis contrastou com a delicadeza dos modelos apresentados por Pedro Pedro, mas jogou em harmonia com as propostas de Hugo Costa e Estelita Mendonça, dadas as características mais streetwear das coleções destes criadores.

Do périplo fez ainda parte o Museu Soares Reis, o último palco do novo modelo descentralizado do Portugal Fashion. Ao final do dia, nem a chuva parou o encanto proporcionado por Diogo Miranda.  

Diogo Miranda dá a conhecer uma Nova Poesia

Foi nos jardins do Museu Nacional Soares dos Reis que Diogo Miranda foi recebido de forma eufórica pelo público. O designer, que se dedica à moda feminina, apresentou uma coleção em que a singularidade dos tecidos concedeu leveza e classe à passarela. Através de tons monocromáticos e da forma como os vestidos foram construídos, as modelos pareciam usar uma segunda pele, que dava, também, a conhecer a inspiração da coleção no romantismo.

A “Nova Poesia” de Diogo Miranda passou por trazer ao corpo feminino uma sensualidade mais adulta e rigorosa. A graciosidade e a exuberância foram as palavras-chave do desfile.

A escadaria e as árvores floridas demonstraram que também o local foi escolhido ao pormenor, tendo em conta as influências da coleção. 

Com o espaço lotado, as modelos desfilaram sob chuva ao som do clássico “Paroles, Paroles”.

O jardim de Miguel Vieira

Miguel Vieira já não é novo nas andanças do Portugal Fashion. Este ano, no Mercado do Bolhão, mostrou ao público uma coleção baseada na sua definição de jardim perfeito. “Há uma liberdade que quero que sintam nesse jardim”, comentou ao JPN o criador, mostrando assim a forte relação entre esta coleção e a natureza.

Saindo da sua zona de conforto, que é o preto e o branco, o designer apostou em estampas personalizadas, floridas e coloridas. Com as cores azul, lilás e verde, Miguel Vieira trouxe alegria ao emblemático Bolhão. 

Com um forte impacto ao nível internacional, a nova coleção primavera-verão de Miguel Vieira aposta numa produção e concretização sustentáveis, que é coerente também com o tema da coleção: “O mais belo jardim do mundo”.

As criações de Alexandra Moura são “Fora Deste Mundo”

Alexandra Moura, que já apresentou “Extramundanus” em Milão e Paris, trouxe esta nova coleção ao Mercado do Bolhão.

“É como se fosse uma equipa que vem de fora deste planeta para nos ajudar, a dar forças e a lidar com toda esta conjuntura estranha”, descreveu a criadora ao JPN, a propósito do conceito da sua nova coleção.

Uma das formas de concretizar a temática desta nova coleção foi a maquilhagem utilizada nos modelos. Alguns com a cara mais pálida, outros com sombras em lilás e verde e todos com as pestanas alongadas, tudo a enfatizar a ideia de que estes modelos não são deste mundo.

A ideia surgiu a partir do contexto pandémico enfrentado à escala mundial mais intensamente durante os anos 2020 e 2021. Coincidentemente, o conceito apareceu ao mesmo tempo que rebentou a Guerra da Ucrânia, o que conferiu ainda mais atualidade a esta coleção. “Estamos todos a precisar de algum equilíbrio, de alguma paz”, referiu a designer.

A atitude positiva na nova coleção de Pedro Pedro

A coleção apresentada pelo designer Pedro Pedro foi recebida com aplausos de pé no final da apresentação, na Oficina do Ferro.  As peças, que misturam flores, cristais (como o quartzo), crochês e tecidos com brilho holográfico, destacaram-se pelas suas cores evocativas do pôr do sol – laranja, lilás e diferentes tons de roxo – que contrastaram com o espaço escolhido para o desfile.

Com respeito ao êxito da sua apresentação, o designer comentou ao JPN que “isso é sempre a esperança de quem cria alguma coisa”. “Espero que retirem alguma coisa da coleção”, completou. 

Sobre a sua fonte de inspiração, Pedro Pedro mencionou os festivais ao ar livre, visto que são “uma coisa mais leve e fresca”. A coleção contrasta com o seu trabalho anterior, inspirado pela música e as subculturas e considerado pelo autor como “mais dark, abafado e rave”.

“Eu acho que o inverno torna-nos muito contemplativos”, afirmou o designer. “O verão é uma altura que nos ajuda a limpar energias e a deixar-nos mais positivos”, concluiu.

As transformações de Hugo Costa

A nova criação do designer Hugo Costa apresenta contrastes entre as cores e as influências presentes nas peças. De modo diferente do verificado em outros desfiles, a apresentação deste sábado não teve um fio condutor definido. “Nesta coleção fizemos algo que já queríamos fazer há tempo, não termos um tema”, contou o designer ao JPN. 

A marca, segundo Hugo Costa, está a sofrer um processo de amadurecimento que se reflete na nova coleção. As peças, ainda que influenciadas pelo mundo skater, incorporaram uma maior presença da alfaiataria. O objetivo das criações é experimentar com o clássico estilo streetwear da marca de uma “forma mais disruptiva”, através não só da inovação com a alfaiataria, mas também mediante o uso de materiais como os tules. 

Por outro lado, a coleção fez forte uso do “naming”:  o nome da marca foi destacado tanto nas roupas como no calçado. Segundo Hugo Costa, este recurso foi usado com a intenção de sublinhar a identidade da marca, ao mesmo tempo que persegue outro objetivo: “uma ligação direta com o streetwear, que queremos manter, e o universo com que cresci, do grafite, na minha adolescência.” 

Trabalhar o movimento é a nova arte de Estelita Mendonça 

A inspiração de Estelita Mendonça para esta coleção foi “trabalhar o movimento e a energia”, partindo de medições, como os quilómetros e amperes, que ao mesmo tempo são “muito pouco físicas e palpáveis”. “A ideia foi tentar perceber estas medições, como é que elas funcionavam”, explicou ao JPN. 

A coleção usa os desportos que utilizam movimento, sendo notória a presença de elementos relacionados com o ciclismo, como os bolsos. Mas o grande destaque foi o pormenor do uso de para-ventos. 

As peças trabalham transparências, néons e texturas, apostando em cores como o azul, verde e laranja – a cor que se revelou a próxima tendência. “Porque é que isto não é mais especial?”, é a questão que serve de mote para tornar a roupa desportiva mais excêntrica e numa nova aposta. 

O designer, que começou a sua carreira no Bloom, apostou novamente em workwear, uniformizando a identidade numa coleção que já foi apresentada em feiras internacionais.

O último dia do Portugal Fashion terminou no Museu Nacional Soares dos Reis com desfiles de Huarte, da marca Orange Culture Nigeria e de Sophia Kah, que foi um momento exclusivamente digital. 

David Catalán foi uma das figuras do dia e inspirou-se no cenário da dança numa Nova Iorque das décadas de 60 e 70 para a sua coleção. Alves/Gonçalves, com uma mistura entre o urbano e o artesanal, fechou a passarela da mais recente edição do certame.

Esta edição do Portugal Fashion ficou marcada pela diversidade em mais de 30 desfiles espalhados por dez localizações, mas também pela incerteza, no que toca ao financiamento das futuras edições. A organização e designers mostram-se otimistas e o Portugal Fashion deverá regressar em março para uma nova edição, dedicada ao próximo outono/inverno.

Artigo editado por Filipa Silva