Nas horas que antecederam os concertos de "Rock à Moda do Porto", técnicos e músicos certificaram-se de que tudo estava afinado para a noite de celebração do rock portuense. O JPN esteve na Super Bock Arena a assistir aos soundchecks das bandas em cartaz e falou com alguns dos artistas que subiriam ao palco essa noite.

Rui Reininho, icónico frontman dos GNR, no ensaio antes do concerto.

Ainda faltavam sete horas para o início do evento e nos bastidores já se faziam os últimos preparativos para o “Rock à Moda do Porto”, uma maratona de concertos que no sábado (21) levou ao palco do Super Bock Arena cinco bandas históricas da Invicta: Clã, GNR, Pluto, Três Tristes Tigres e Zen.

Cabos de um lado, caixas do som do outro. Muita azáfama no desfile dos músicos para dentro e para fora do palco. Estávamos na fase dos ensaios e o JPN aproveitou o momento para falar com Manuela Azevedo (Clã), Tóli César Machado (GNR) e Ana Deus (Três Tristes Tigres) sobre a saúde do rock, a emoção de subir ao palco e as perspetivas para o futuro do evento.

Para Tóli César Machado, não há dúvidas de que o rock ainda sobrevive: “A prova disso somos nós”, afirma ao JPN o guitarrista da banda que celebra este ano 41 anos de carreira.

Quatro décadas que não se alimentam só de nostalgia: “Eu, pessoalmente, nunca vivi muito agarrado às coisas do passado. E como banda, sempre tentámos evoluir. Ao contrário de outras bandas que repetem a mesma receita, nós tentamos não fazer isso e, às vezes, damos tiros nos pés por causa disso”, reflete. 

Sobre o concerto que incendiaria o palco da Super Bock Arena umas horas mais tarde, o guitarrista deixou a promessa de manter a imprevisibilidade típica da banda. “O reportório nunca é o mesmo, nunca tocamos as coisas da mesma maneira”, garantiu. E nessa noite não seria diferente.

Quanto à ideia de juntar em palco as cinco bandas, Tóli César Machado considerou-a “uma iniciativa muito boa e muito corajosa da parte do promotor”, até porque “o rock do Porto foi muito importante no inicio do rock português”, lembrou, não esquecendo, a propósito, o nome de Rui Veloso.

Ao longo do ensaio, no final da manhã, revisitaram-se clássicos como “Pronúncia do Norte” e “Sangue Oculto”. A excelência musical e o espetáculo de luzes e fumo cuidadosamente composto reforçaram a promessa de que se avizinhava um grande espetáculo, essa noite. 

Já na parte da tarde, foi a vez dos Clã subirem ao palco para o último ensaio antes do concerto. A sintonia entre instrumentos e entre músicos em temas como “O Sopro do Coração” e “Armário” soou tão natural quanto se podia esperar de uma banda tão experiente como a de Manuela Azevedo. De mãos dadas com a competência técnica, a energia rock extravasava do palco.

O género já foi mais mainstream e, por isso, para Manuela Azevedo perguntar se “o rock ainda sobrevive” é “uma boa pergunta”: “É bom colocar a pergunta em termos de sobrevivência, porque agora não é propriamente o rock que as pessoas mais ouvem, há outros géneros de música que têm mais atenção do publico. Mas o rock sempre teve aquela coisa de resistência, de luta, de sobrevivência. Está um bocado na natureza de se fazer rock, termos sempre essa sensação de estarmos na margem. Sermos um bocadinho marginais e rebeldes. Fica-nos bem”, diz ao JPN.

Sobre a importância de tocar ao vivo, a vocalista explicou que, para si, é no palco onde desagua o trabalho que a banda desenvolve. “É o fim de todo o trabalho que tu fazes ao inventar canções, ao gravá-las em estúdio, ao trabalhá-las ao mais pequeno detalhe. Para ser comunicado a quem está à nossa frente. É ali [no palco] que a música acontece verdadeiramente“, refletiu.

Os Clã lançaram em 2020 o último disco, “Véspera”

A findar o desfile de ensaios, subiram a palco os Três Tristes Tigres, que acabariam por abrir o “Rock à Moda do Porto”. Ainda não soavam os instrumentos e a voz de Ana Deus já passeava entre poemas e letras da banda como “Anormal” e “Curativo”. Ao longo do ensaio houve rock com laivos de eletrónica, sempre com espaço para sons de instrumentos incomuns no género, como a harpa.

Hoje é um dia feliz para a vocalista que também integrou os Ban: “Um dia como este, que vai ser longo com tantas bandas aqui do Porto e tantos amigos, vai ser muito bom”, diz ao JPN.

O espetáculo de luzes ténues e mais escuras aludiu ao nome do último disco do coletivo “Mínima Luz”, que seria protagonista do concerto, mais à noite. “A primeira parte vai ser com músicas do novo disco, a segunda, com temas antigos”, revelou Ana Deus ao JPN, umas horas antes do espetáculo. 

De volta ao “Rock à Moda do Porto”, tratando-se de uma primeira edição, é inevitável especular sobre o futuro do evento. Voltará? Para Manuela Azevedo, “há muita coisa boa para subir ao palco” em próximas edições, Ainda que prefira não individualizar candidatos. Tal como Ana Deus, mas com um acrescento: “Espero que façam mais uma edição e contemplem uma banda com mais mulheres e mais jovem”, concluiu. Sugestões, aceitam-se.

Artigo editado por Fernando Costa e Filipa Silva