A ex-'team manager' do B-SAD esteve esta sexta-feira (18) de manhã no Porto a participar no Thinking Football Summit. Mariana Vaz Pinto defende que o futebol feminino português "está a evoluir", mas "temos que melhorar muito" a cativar o público para os estádios.

Mariana Vaz Pinto foi a primeira delegada num jogo da Primeira Liga em Portugal Ftoo: Tomás Almeida Moreira

Mariana Vaz Pinto, 27 anos, antiga team manager dos escalões jovens do futebol feminino do Sporting CP e da equipa sénior da B-SAD, ficou conhecida por ser a primeira mulher a ocupar o cargo em Portugal.

Num mundo maioritariamente masculino, Mariana tem sido exemplo para a representação feminina no campo do futebol.

Em Portugal e no mundo, o futebol feminino tem crescido, nomeadamente no número de atletas e também de público, sendo que, neste caso, a team manager chama a atenção para a necessidade de os clubes grandes abrirem mais os seus estádios principais à modalidade como forma de a promover junto dos espectadores.

Numa breve conversa com o JPN, à margem do Thinking Football Summit – a decorrer no Porto até ao próximo domingo -, onde participou como oradora, Mariana Vaz Pinto defende que o futebol feminino português “está a evoluir” e que a diversidade de género é boa para o futebol no geral, seja o feminino ou o masculino.

JPN – Qual é a importância da mulher no mundo do desporto e do futebol, não só no feminino, mas também no masculino?

Mariana Vaz Pinto (MVP) – A mulher é tão importante quanto o homem. Temos de começar a olhar para as mulheres na mesma perspetiva que olhámos para os homens e há espaço para nós, mulheres, tanto no futebol feminino como no masculino. Temos de crescer nesse sentido e de ter mais mulheres no futebol masculino e fazer com que o feminino também cresça e que possa também ter homens, porque esta diversidade é boa para todos.

JPN – O Europeu de Futebol Feminino deste ano foi um exemplo de adesão do público à modalidade. Em Portugal, como vê a adesão à modalidade? O que pode melhorar?

MVP – Aqui em Portugal, ainda está muito baixa a adesão, temos de melhorar muito, arranjar estratégias e formas de trazer mais pessoas aos estádios, porque lá fora vimos um Barcelona-Real Madrid, com o Camp Nou cheio com 93 mil pessoas, vimos uma final do Europeu, entre a Inglaterra e a Alemanha, que também teve 90 mil pessoas. É muita gente a ver futebol, pessoas que vão para ver o futebol feminino.

Infelizmente, isso não acontece em Portugal, porque também não existe a abertura dos clubes para abrirem mais os estádios principais. Em Inglaterra, por exemplo, vemos os clubes a jogarem a Liga dos Campeões nos estádios principais, vemos também o Barcelona que muitas vezes abre o estádio para receber jogos de futebol feminino e isso é uma das coisas que falta
em Portugal, para podermos dar o salto.

JPN – Relativamente à Liga dos Campeões feminina, o Benfica está presente na fase de grupos, na presente edição. Vê isso como um fator de atração e crescimento da modalidade?

MVP – Sim, claro que sim! Aliás, o Benfica está num grupo dificílimo e está a fazer um excelente trabalho, a mostrar que o futebol feminino português está a evoluir, mas se tivermos um quadro competitivo mais equilibrado e equipas cada vez melhores, um Benfica, um Sporting, um Braga ou um Famalicão, ou qualquer outra equipa, poderão chegar a uma fase
de grupos de uma Champions League e bater-se melhor com as restantes equipas. Isso será reflexo da qualidade interna dos clubes e das equipas.

JPN – No que diz respeito a cargos diretivos, também não é por falta de capacidade que há poucas mulheres nesses lugares.

MVP – A mulher sempre teve capacidades, é uma questão de lhes serem dadas oportunidades, porque uma mulher pode ter tanta qualidade, competência e conhecimento para estar num cargo que um homem ocupa. Por isso, é uma questão de oportunidades e da não existência de discriminação, dando igualdade e oportunidades a todos.

JPN – Quanto à discriminação, há ainda algum caminho a percorrer? 

MVP – Bem, ainda existe, mas estamos cada vez melhor, cada vez mais no bom caminho. Vemos muitas mulheres a ocupar cargos de poder importantes, isso é muito positivo, principalmente para as gerações mais jovens, para que elas vejam e pensem que amanhã as oportunidades serão mais e maiores.

Artigo editado por Filipa Silva