O Thinking Football foi palco para uma conversa entre Vicente Portal, Daniel Barreira e Sandro Orlandelli, especialistas em scouting, com Tomás da Cunha no papel de moderador. “Compreender Scouting” pretendeu desmistificar preconceitos associados ao scouting e explorar o crescimento da área.

“Understanding Scouting” contou com os oradores (da esquerda para a direita) Daniel Barreira, Sandro Orlandelli e Vicente Portal. A moderação foi de Tomás Cunha (à direita) Foto: Tomás de Almeida Moreira

O mundo do scouting está diretamente relacionado com o recrutamento de atletas para as equipas de futebol. No final da tarde de sexta-feira (18), o TFS Stage, do evento Thinking Football, na Super Bock Arena, recebeu a palestra “Understanding Scouting – Searching for the perfect team” que teve o objetivo de desconstruir a ideia de que o scouting é meramente o recrutamento de talentos com base em dados estatísticos e visionamento de jogos de futebol à distância.

Vicente Portal, atual scout senior do Sporting CP e com passagens pelo FC Famalicão e o Southampton, em Inglaterra, deixou claro que o processo de scouting “não está reduzido a uma análise dos atributos de um jogador no videojogo ‘Football Manager'”. O scout explicou que o recrutamento de um atleta depende de um “processo cuidadoso e cauteloso” e brincou com o facto de receber mensagens no LinkedIn de “sportinguistas a recomendarem jogadores para contratar”.

Tomás da Cunha, analista e comentador da Eleven Sports e da TSF, falou sobre crescimento do scouting enquanto profissão e afirmou que os apaixonados por futebol “há 30 anos queriam ser jogadores, há 15 [queriam ser] treinadores, e atualmente scouts. O crescimento da profissão, para o comentador, dever-se-á, em parte, aos avanços tecnológicos na área.

Na mesma linha, Sandro Orlandelli, scout do Red Bull Bragantino, refere que a principal arma que um scout tem hoje é a tecnologia. Sobre o início do percurso profissional, Orlandelli contou que começou por “ter de contratar pessoas para filmar os jogos, para poder observar os atletas”. 

Daniel Barreira, hoje treinador-adjunto da seleção nacional de sub-19, também tem experiência no mundo do scouting, no FC Barcelona. Para Daniel, apesar dos avanços tecnológicos, a observação presencial mantém-se indispensável. “O visionamento do treino e o acompanhamento dos atletas de forma presencial é fundamental para que um scout perceba como e onde deve atuar”. O treinador-adjunto e Vicente Portal concordam que “acompanhar de perto e de forma detalhada, para além das estatísticas, reduz o risco de falhar uma contratação”.

Vicente Portal sublinhou, ainda, que o trabalho de scouting não está isolado da restante estrutura dos clubes e que é necessário um relacionamento forte e coeso entre Presidente, Treinador e Departamento de análise.

“É mais fácil colaborar com um clube pequeno e com menos orçamento”

O painel de oradores concordou que um scouting bem feito implica trabalho e efeitos a médio e a longo-prazo. No entanto, criticaram o panorama nacional da profissão, afirmando que a área ainda é vista por alguns clubes como uma despesa e não um investimento.

O scout do Sporting afirmou que “ter muitos profissionais nesse departamento, não é sinónimo de sucesso desportivo” e considerou ser “mais fácil colaborar com um clube pequeno e com menos orçamento” do que com um clube de maiores dimensões. Para quem trabalha com clubes de exigências mais reduzidas, a pressão torna-se menor, oferecendo mais espaço para  arriscar em talentos desconhecidos.  “É mais provável num clube de menores exigências contratar um sub-19 da Zâmbia”, afirmou Tomás Cunha.

Para Sandro Orlandelli, a qualidade técnica e o talento dos jogadores não são fatores únicos para o crescimento dos atletas. O scout explicou que o processo de adaptação dos jogadores a novos meios, também pode travar a afirmação de jovens jogadores. Orlandelli usou o exemplo dos clubes sul-americanos que investem menos em jogadores europeus devido às diferenças notáveis ao nível da”cultura, ambiente e campeonato”.

Os especialistas concordaram, também, que “o cuidado pela saúde mental dos atletas é mais importante do que aquilo que parece”. Sandro Orlandelli sublinhou que a saúde mental e o background familiar dos jogadores “têm influência direta na maneira como estes se dão a conhecer”. Assim, referiu ser necessário que os clubes de futebol “apostem na formação disciplinar dos respetivos jogadores recrutados”.

Artigo editado por Fernando Costa