De 5 a 19 de novembro, Coimbra acolheu o Festival Caminhos do Cinema Português. O JPN esteve no evento e falou com a organização e realizadores que consideram que, apesar do aumento de investimento no festival, o público português continua afastado do cinema.

Terminou este sábado (19), a 28.ª edição do Festival Caminhos do Cinema Português. Desde o 5 de novembro, o Teatro Académico de Gil Vicente (TAGV) exibiu dezenas de filmes nacionais e internacionais e recebeu cinéfilos de vários pontos do país.

O JPN esteve presente no Caminhos nos dias 14 e 15, dias em que o TAGV abriu portas aos filmes da Seleção Ensaios, destinada à “produção académica”, e da Seleção Caminhos, que conta com “uma produção generalista, mais profissional”, como afirma Tiago Santos, da direção do festival.

No entanto, apesar da vasta gama de filmes exibidos nos dois dias, a afluência de público foi modesta e muitas das cadeiras da plateia quedaram-se vazias. A falta de público refletiu-se, inclusivamente, no cancelamento de última hora da conversa “O Espaço da Cultura nas Cidades”.

O distanciamento entre o público e o grande ecrã foi um tema que tanto a organização como realizadores referiram com preocupação ao JPN. Para Paulo Carneiro, realizador de “Périphérique Nord”, a culpa de os portugueses não terem presença assídua nas salas de cinema é da grande aposta nas plataformas de streaming. O realizador acredita, também, que durante a pandemia se “fomentou a ideia de ver [cinema] em casa e no computador”, o que agravou ainda mais o abandono das salas. “O cinema é uma experiência de sala”, acrescentou.

Além da falta de público nas salas de cinema em geral, Tiago Santos salientou o facto de os portugueses não consumirem com frequência produções nacionais. “Há, sobretudo, uma falta de formação do público para ver cinema português”, considerou. O membro da direção do festival considerou a quota do cinema português no mercado “raquiticamente baixa”, situação que, para si, terá de ser “reparada”.

O realizador Paulo Carneiro contou ao JPN que durante o tempo que estudou na Suíça – com uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian – sentiu uma diferença enorme entre os públicos dos dois países. “[Há] um protecionismo em exagero. Sempre que é um filme suíço, as pessoas vão ver”, conta.

Para Tiago Santos, o festival tem um papel de promoção da proximidade entre as pessoas e o universo do cinema. “O festival é uma porta valiosa, porque é onde as pessoas podem contactar com os produtores, com os realizadores, colocar questões, conhecer coisas novas”, afirmou.

O membro da direção do festival revelou, ainda, que a autarquia de Coimbra tem duplicado o financiamento do festival de ano para ano. Esse montante, a somar ao financiamento dado pelo Instituto do Cinema e Audiovisual (ICA) tem permitido o crescimento da programação do festival.

“Mato Seco em Chamas” venceu o Grande Prémio Cidade de Coimbra

Durante a 28.ª edição do Festival Caminhos do Cinema Português, foram exibidos 162 filmes entre o TAGV, a Casa do Cinema de Coimbra, o Auditório Salgado Zenha e o Convento de São Francisco. 

Da programação do festival fez parte “Alma Viva”, de Cristèle Alves Meira, o candidato português ao prémio de Melhor Filme Internacional nos Óscares de 2023. Também “Fogo-fátuo” de João Pedro Rodrigues e “Ice Merchants” de João Gonzalez, filmes que passaram em maio pelo Festival de Cannes (“Ice Merchants” foi premiado na Semana da crítica) tiveram espaço no grande ecrã do festival.

A primeira longa-metragem portuguesa feita em stop-motion,“Os demónios do meu avô”, de Nuno Beato, também foi um dos destaques da programação do festival.

Foi a 19 de novembro, no último sábado, no Convento São Francisco, que teve lugar a entrega de prémios do Festival Caminhos. O filme “Mato Seco em Chamas” de Joana Pimenta e Adirley Barbosa foi o vencedor do Grande Prémio Cidade de Coimbra. O filme foi descrito pelo juri do festival como “um jogo híbrido que dissipa fronteiras”.

O prémio de Melhor Ficção foi entregue a “Fogo Fátuo” de João Pedro Rodrigues e “Ice Merchants” de João Gonzalez foi considerado o melhor filme de animação.

O Prémio de Imprensa foi dado a “Viagem ao Sol”, da autoria de Ansgar Schaffer e Susana de Sousa Dias. “Alma Viva”, “Cesária Évora” e “Midnight Glow” foram os filmes destacados com o Prémio do Público. Cristèle Alves Meira venceu o prémio de melhor realizadora por “Alma Viva”.

Artigo editado por Fernando Costa