Em 2022, chegou-nos uma avalanche imensurável de séries ao pequeno ecrã (do televisor ou do computador). Entre spin-offs triunfantes, celebrações de amor adolescente e paródias hilariantes em português, selecionamos as que consideramos serem as 10 melhores séries do ano. Ao longo da semana, vamos dar a conhecer também a seleção do JPN dos filmes do ano.

10. Peaky Blinders, S.6

A narrativa da última temporada de “Peaky Blinders” retrata a ascensão do fascismo e dá continuação à tentativa falhada do gangue dos Peaky Blinders de assassinar o fascista que entra na quinta temporada para trazer turbulência ao enredo. O argumento continua tão brilhante como o das últimas temporadas e, mais uma vez, o criador da série Steven Knight certificou-se de que a subtileza ficava em casa.

O resultado é uma crítica feroz à superioridade com que a classe política se apresenta perante as pessoas comuns protagonizada por “Tommy” Shelby, personagem principal que evolui como nenhuma outra ao longo dos episódios.

A série chega ao fim, mas está planeado (felizmente) um filme que deverá começar gravações em breve. Portanto, não é isto um adeus, mas sim um até já.

9. Wednesday, S.1

A primeira temporada da nova série de Tim Burton na Netflix não foi vista pelo público, foi devorada. Para referência, numa única semana, viram-se 341,2 milhões de horas de Wednesday. Em três semanas, tornou-se a segunda série em inglês mais vista da história da plataforma de streaming. A receita para o sucesso? A familiaridade com o universo Adams do grande público, a estética “Burtonesca” e a performance brilhante de Jenna Ortega.

Ainda que seja uma série claramente direcionada para a Geração Z, o universo de “Wednesday” não desconvida os mais graúdos que tenham saudades da família horripilante mais famosa de sempre. É uma típica série sobre a família Adams? Não, de todo. Mas isso só torna Wednesday um dos spin-offs menos óbvios e mais divertido dos últimos tempos.

8. Stranger Things, S.4

À terceira temporada, começou a notar-se um declínio na qualidade geral de “Stranger Things”. As personagens estavam a estagnar, a história só com muito boa vontade do espectador é que fazia sentido, e parecia que tudo estava a ser esticado para lá do necessário. Na última temporada, os problemas foram todos erradicados e foram-nos apresentados os melhores episódios que a série já ofereceu.

A ação desenrola-se com tempo (algo notável num mundo em que cada vez mais as séries são consumidas à pressa) e é dado às personagens tempo para crescer. Mais negra e cada vez menos infantil, a quarta temporada de “Stranger Things” é mais intensa, frustrante e viciante do que qualquer uma das anteriores. Venha a última.

7. Heartstopper, S.1

Depois do sucesso da novela gráfica de Alice Oseman, “Heartstopper” foi adaptada para série e disponibilizada na plataforma de streaming Netflix em abril deste ano. A comédia romântica acompanha a história de Charlie Spring, um jovem estudante que se apaixona pelo colega de turma, Nick Nelson. A cinematografia e a gradação de cores, assim como as animações, foram planeadas para manter a série o mais fiel possível à banda desenhada original.

A verdade é uma: é impossível não devorar esta série. Trata-se de um romance inclusivo, escrito com uma sensibilidade extraordinária. Qualquer adolescente se vai conseguir rever nos jovens adolescentes e qualquer adulto vai tirar uma lição da leveza com que a ação se desenrola.

“Heartstopper” não nos para o coração, mas com certeza é como receber um abraço em forma de série. O projeto já foi renovado para uma segunda e terceira temporadas.

6. Dahmer S.1

Esta é a série que veio abalar o mundo daqueles que são fascinados por documentários sobre crimes e serial killers. “Dahmer” deu a conhecer uma das mais negras histórias dos Estados Unidos: a de Jeffrey Dahmer, autor de 17 brutais assassinatos, que acabou por ser, também ele, assassinado na prisão onde foi preso.

Evan Peters dá vida ao assassino em série, numa performance tão verdadeira e bizarra que, por momentos, esquecemos que estamos a assistir a uma série de ficção. Apesar do desenrolar lento da ação, Ryan Murphy e Ian Brennan, criadores da série, tentaram fazer com que os espectadores criassem uma relação com Dahmer, olhando para ele, não só como autor de 17 crimes terríveis, mas como humano. E, estando a falar de um serial killer, cumprir o objetivo é obra.

5. Andor, S.1

Quem disse que “Star Wars” nunca conseguiria ser mais adulto, negro e sério estava redondamente enganado. “Andor” é a nova aposta da Lucasfilm e acompanha o crescimento de Cassian Andor (Diego Luna) até se juntar à Rebelião e desempenhar um papel fundamental na queda do Império (como vimos em “Rogue One”).

Sem quaisquer menções aos Jedi, aparições especiais e cenas megalómanas, “Andor” é dos projetos com mais coração e planeamento da saga. Explora ângulos nunca antes vistos em “Star Wars”, sem medo de chocar o espectador e deixá-lo a pensar. O humor é quase inexistente, dado que o tema principal da trama é a opressão social e a ascensão de um Império cada vez mais violento e sufocante.

Com uma narrativa bem construída e que culmina num dos finais mais memoráveis da franquia, “Andor” arriscou e prosperou. É uma das melhores séries de 2022 e as expectativas estão elevadas para o segundo e último ano da série, que já se encontra em desenvolvimento.

4. The Bear, S.1

A mais célebre série da FX de sempre vive, sobretudo, das personagens. Não que a história não seja emocionante e cativante, mas é em cada expressão, cada fala e na dinâmica entre os protagonistas do restaurante “Original Beef of Chicagoland” que está a magia da série. O leque peculiar de personalidades coexiste de uma forma tão orgânica que se torna convincente.

O realismo das performances e dos cenários (o restaurante onde a série se passa é real e não um cenário) faz com que nos sintamos clientes, colegas e só de vez em quando espectadores.

Longe de ser uma série fácil de assistir e leve – apesar do humor -, “The Bear” tem corpo, coração e alma. O resultado é um prato muito bem servido para quem procurar uma série das que nos dá um murro no estômago.

3. The White Lotus, S.2

Após uma primeira temporada chocante e bastante premiada, o criador de “The White Lotus” está de volta. A segunda temporada da série carregava consigo a pesada pergunta do “Será que é preciso mais?”, uma vez que apenas existiam, inicialmente, planos para uma única temporada. A HBO decidiu investir num novo capítulo e o ceticismo evaporou.

Os novos episódios trazem um elenco novo, um novo espaço e intrigas com uma carga de tensão ainda maior. Através de um humor ainda mais ácido e satírico, Mike White volta a brincar e a ridicularizar a classe alta e a interligar as diferentes histórias de uma maneira muito subtil, mas que não é para cardíacos. A tensão é palpável em todas as cenas e as atuações louváveis de todos os membros do elenco deixam-nos à beira de um ataque de nervos a cada episódio.

Esta é uma das séries em que a segunda temporada ultrapassa a qualidade de um início já perfeito. Jennifer Coolidge, Aubrey Plaza, Theo James e Meghann Fahy roubaram as atenções e deram vida a personagens que não serão esquecidos durante algum tempo.

2. Pôr do Sol, S.2

A série de sucesso, Pôr do Sol, voltou à RTP com uma segunda temporada que, inicialmente, nos faz questionar “será que isto tem tanta piada como a primeira temporada?” e a resposta é simples: sim. Logo aos primeiros episódios já se vão estar a rir tanto como na primeira vez que ouviram falar de um cavalo chamado Testículo que corre para trás. 

Henrique Cardoso Dias, Manuel Pureza e Rui Melo conseguiram superar o insuperável e prometeram aos portugueses risos atrás de risos. Se achavam que uma terceira gémea já é demasiada invenção, preparem-se para conhecer a melhor personagem da segunda temporada, Salomé (ceguinha apenas para os amigos). A absurdidade volta a exceder todos os limites e as gargalhadas são garantidas.

O receio em fazer uma segunda temporada para algo que teve uma excelente primeira é real, mas há vezes em que o risco vale a pena. A segunda temporada de “Pôr do Sol” marca uma dessas vezes. Agora que ficamos à espera do filme, estamos certos de que vai valer a pena.

1. House of the Dragon, S.1

Num mundo onde os spin-offs muito raramente são tão bons como a série original, “House of the Dragon” veio desafiar todos os preconceitos e (adivinhem) tornou-se na série do ano. 

Com um elenco vasto e soberbo, o mundo de fantasia de “Game of Thrones” voltou 200 anos atrás para nos presentear com um enredo excelente. Com os papeis brilhantes de Emma D’Arcy a representar Rhaenyra Targaryen, Olivia Cooke com o papel da feroz Alicent Hightower e Matt Smith a dar vida ao problemático Daemon Targaryen, esta é uma série que veio para ficar.

“House of the Dragon” devolveu aos queridos espectadores de “Game of Thrones” os cabelos loiros, os dragões e os dramas que os fãs não sabiam que continuavam a precisar. A HBO ganha uns pontos no frente a frente com as outras plataformas de streaming. E se as séries mantiverem esta qualidade nos próximos anos, continuará a vencer.