O IndieJúnior – Festival Internacional de Cinema Infantil e Juvenil do Porto está de volta à cidade para a sua sétima edição – desta vez no Batalha Centro de Cinema, que inaugura, com o certame, o seu primeiro festival.

Entre os dias 23 e 29 de janeiro, este projeto vai levar a sétima arte também até às salas da Biblioteca Municipal Almeida Garrett, Casa das Artes, Coliseu do Porto, Maus Hábitos e da Reitoria da Universidade do Porto. Os bilhetes vão poder ser adquiridos brevemente online e vão estar disponíveis nas bilheteiras do Batalha Centro de Cinema e da Casa das Artes nos dias do festival.

Sob o mote de um tributo ao mar, o certame traz várias novidades. Entre elas, fruto da parceria com a Cinemateca Portuguesa, no âmbito do programa FILMar – Digitalização do Património Cinematográfico, a exibição de dez curtas metragens recuperadas de arquivo.

Estão incluídos títulos como “O naufrágio do Veronese” (1913), sobre um paquete encalhado na praia da Boa Nova, em Matosinhos, “De Sol a Sol” (1976), um documentário que permite espreitar para um Porto de 1930, ou “Férias à beira-mar” (1942), que retrata colónias de férias para crianças apadrinhadas pelo Estado Novo.

Em conferência de imprensa, a organização divulgou os mais de 50 filmes, provenientes de 18 países, que vão passar pelos ecrãs da invicta. Salientam-se os portugueses “Ice Merchants”, de João Gonzalez, “O Homem do Lixo”, de Laura Gonçalves, “O Casaco Rosa”, de Mónica Santos, e “O Conto da Raposa”, de Alexandra Allen.

“O Homem Do Lixo”, de Laura Gonçalves, é uma das curtas em exibição no festival.

Ainda sobre a temática, o festival vai promover o filme concerto “Marés”, sonorizado pelo duo Ilda Teresa de Castro e Vítor Rua. Com o projeto “The Banksy’s”, os artistas interpretam música para uma série de filmes portugueses, criando uma experiência que confronta o passado e a atualidade através de imagem e som.

Um dos focos do festival (também pela forma como se relaciona com o mar) é o cinema norueguês contemporâneo. Paralelamente, a programação visa ainda focar temas como a natureza e os animais, as alterações climáticas, o aborto ou as relações familiares.

De destacar ainda são as sessões de “Cinema de Colo“, a decorrer no Coliseu do Porto, pensadas para crianças mais pequenas. Mas além das exibições, vão ser promovidas outras atividades – como é o caso da “Matiné Dançante“, destinada às famílias, no Batalha Centro de Cinema. Para uma sessão mais descontraída, o Maus Hábitos recebe a iniciativa “Cinema à Mesa”.

O festival conta já com a inscrição de mais de 5 mil alunos. Antes do arranque oficial, vai decorrer uma sessão de warm-up, a 14 janeiro, na Casa Comum, na Reitoria da Universidade do Porto. Preparada para receber toda a família (e adequada para crianças a partir dos 3 anos de idade), a sessão é de acesso livre e tem início às 16 horas. A seleção de curtas metragens (que integraram a edição passada do festival) inclui: “Pequeno boneco de neve” (de Aleksey Pochivalov), “Um Filme de m+m” (de Matthew Yang, Megan McShane), “A Teia dos Sonhos” (de Camille Foirest) “Uma Pedra no Sapato” (de Eric Montchaud), ”Bombeiro” (de Yulia Aronova), “A Menina Parada” (de Joana Toste), “Marmelada” (de Radostina Neykova) e “Pai Bateria” (de Seung-bae Jeon).

Uma programação onde o público se possa rever

Esta edição assinala o retorno da rubrica “O Meu Primeiro Filme”, onde uma personalidade portuense escolhe uma obra cinematográfica que tenha marcado a sua juventude. Desta vez é Peter Castro, DJ, produtor de eventos e personalidade digital que nos traz “Marie Antoinette”, de Sofia Coppola.

Para assegurar que os interesses do público se refletem no ecrã, alguns dos filmes foram escolhidos por crianças e jovens, no âmbito da iniciativa “Eu Programo um Festival de Cinema!”, em que participaram alunos de quatro escolas básicas e secundárias do Porto.

São também os mais novos que servem de júris, já que é neles que cai a decisão de quem recebe o Prémio do Público, através de uma votação feita no final de todas as sessões. Mas há mais galardoações: o Prémio Impacto Universidade do Porto, cuja indicação é feita por um júri da universidade, e o Grande Prémio IndieJúnior Porto, com seleção feita pelo júri da Competição Internacional.

“Memória de uma tempestade distante” integra a programação para maiores de 15 anos

Cinema para crianças como um banho de cultura

Em conversa com o JPN, Irina Raimundo, da direção artística do festival, salienta a necessidade de aproximar as crianças ao cinema para “criar um público” e facilitar o acesso à cultura. “Se as crianças tiverem acesso a isso desde cedo e tiverem boas experiências quando visitam os locais, à medida que vão crescendo vão querer voltar a esse locais e vão ser cada vez mais curiosas“, diz.

No que concerne à divulgação deste tipo de iniciativa, Irina Raimundo acredita que as escolas têm um papel crucial. “Quando [as crianças] vêm com as famílias, é um público que já sabe o que é o Cinema e já está mais ou menos habituado”, explica, sublinhando que a integração destes programas nas escolas permite que a oportunidade se estenda a mais pessoas.

Quando presenteados com a realidade do grande ecrã, “é como a reciclagem – os miúdos é que ensinam os pais”, brinca. Mas não se trata apenas de incentivar o interesse pela cultura: através do cinema as crianças também podem iniciar um processo de autodescoberta. “Uma vez tivemos um filme sobre questões de género – e era com miúdos muito pequenos. Houve uma pessoa que percebeu, quando o viu, que estava a viver aquelas questões” conta, salientando que esses momentos podem ser “muito importantes para o desenvolvimento pessoal”.

Mais que isso, lembra que, por vezes, pode ser através da empatia com as personagens do ecrã que se abre o caminho para quebrar tabus em temas variados (que vão desde menstruação até questões de género, passando pelas relações interpessoais).

Além da programação diversa, o festival quer oferecer um contacto mais profundo com a sétima arte. Nesse sentido, alguns realizadores vão estar presentes na rodagem das suas obras para dar “continuidade para lá do ecrã” e clarificar mensagem que querem transmitir. “Um festival é isso também – a possibilidade de encontro com quem faz o cinema“, afirma. E remata: “É ótimo para, por exemplo, possíveis aspirantes a trabalhar nessas áreas, ou jovens que gostem de cinema e edição, descobrirem mais coisas e terem a chance de falar com pessoas que o fazem”.

Artigo editado por Paulo Frias